São Paulo Os antiinflamatórios vendem mais que pomada contra assaduras e remédio para emagrecer. E, como poucos causam tanta polêmica. Há cinco dias, pesquisadores da Universidade de Newcastle, na Austrália, afirmaram que o diclofenaco, princípio ativo do Cataflam e do Voltaren segundo e quarto produto em faturamento no mercado de antiinflamatórios, respectivamente pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares em até 40%.
O resultado da pesquisa que revisou 23 estudos clínicos e envolveu cerca de 1,6 milhão de pessoas também é polêmico. "Não houve um estudo específico para comprovar o risco", avalia Antony Wong, coordenador do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Não sabemos quem são essas pessoas envolvidas no estudo, se pertencem ou não a grupos de risco que possam influenciar o resultado."
O fabricante, o laboratório Novartis, também contestou o levantamento com argumentos semelhantes. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se manifestou, afirmando, em nota oficial que "o conjunto dos estudos passa neste momento por avaliação do corpo técnico da área de medicamentos, com o objetivo de esclarecer as evidências sobre novos riscos sanitários ligados ao fármaco. Até o momento, não foram detectadas evidências que levem à necessidade de qualquer mudança imediata com relação à prescrição e uso dos medicamentos derivados do princípio ativo no país."
Mesmo com credibilidade duvidosa, a divulgação mundial do trabalho assustou muita gente. A relações públicas Daniella Rettur, de 23 anos, por exemplo, estava tomando diclofenaco quando soube da pesquisa e abandonou o tratamento. "Estava tomando o remédio há quatro dias. Tinha acabado de engolir um comprimido, quando vi a notícia na imprensa", lembra ela. "Parei na hora, fiquei com medo, lembrei do Vioxx (remédio que foi retirado do mercado em 2004 pelo próprio fabricante, a Merck)"
O engenheiro Luiz Carlos Martins, de 48 anos, ligou para o médico quando soube da notícia. "Tenho em casa o remédio. Fiquei impressionado", diz. "Mas ele me disse que era para ficar tranqüilo, que ainda era muito cedo para me preocupar."
Vioxx
O Vioxx foi o caso que mais causou alarde até hoje, quando, em outubro de 2004, o próprio fabricante decidiu retirar o produto do mercado. A decisão surgiu depois da constatação de que o remédio causava problemas cardiovasculares quando consumido por mais de 18 meses sem interrupção.
O cancelamento das vendas foi bombástico na época, a queda das ações do fabricante, o laboratório Merck, representaram a perda de US$ 25 bilhões de seu valor no mercado. Até hoje o laboratório enfrenta problemas na Justiça com reclamantes que atribuem a morte de parentes ao uso do remédio.
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