Cláudio Ferraz, titular da Delegacia de Repressão às Atividades Criminosas: retaliação e disputa pelo comando da Polícia Civil no Rio podem estar por trás da devassa| Foto: Rafael Andrade/Folhapress

Três dias após a prisão de 32 policiais no Rio de Janeiro, o chefe de Polícia Civil no estado, Allan Tur­­nowski, contra-atacou e vasculhou a Delegacia de Repressão às Ativi­­dades Criminosas (Draco), principal fornecedora de subsídios para a Polícia Federal (PF) na Ope­­ração Guilhotina. Deflagrada na semana passada, a ação resultou na prisão de 11 policiais civis e 21 militares acusados de envolvimento com traficantes e milícias. Entre os presos está o ex-subchefe da Polícia Civil, Carlos Antonio Luiz Oliveira, homem de confiança de Tur­­nowski. A Draco foi lacrada.

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Segundo Turnowski, o material apreendido revelou irregularidades na Draco, como extorsões a empresários das cidades de Rio das Ostras, Japeri e São Gonçalo. Os acessos à delegacia foram fechados por uma equipe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). O delegado titular da Draco, Cláudio Ferraz, insinuou que a devassa foi uma retaliação pelo auxílio à PF. Na sexta-feira, Turnowski teve de prestar esclarecimentos aos policiais federais.

"É um constrangimento. Não há a menor dúvida", disse Ferraz, que disse ter tomado conhecimento da devassa por meio da imprensa. "É uma questão do chefe de po­­lícia. Ele deve ter os seus motivos para agir desta forma." O delegado classificou as acusações de irregularidades como "especulação". "As pessoas que afirmaram isso vão se apresentar e será apurado. No mo­­mento, é uma especulação e não posso ampliar uma especulação."

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Disputa

Ferraz seria um dos principais nomes analisados pelo secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, para substituir Turnowski na chefia da Polícia Civil. Na quinta-feira, Ferraz foi nomeado subsecretário da Contra-Inteligência por Beltrame – com isso, passará a conduzir futuras investigações contra policiais. O secretário também determinou que a Draco voltasse a ficar sob o comando direto da Secretaria de Segurança, saindo assim da estrutura hierárquica da Polícia Civil.

Turnowski negou que a devassa tenha sido uma represália. "Para fazer represália seria contra a PF. Inclusive o secretário Beltrame autorizou. Este é o início de um grande processo de limpeza da Polícia Civil. Eu mesmo vou começar a fazer essa limpeza", afirmou. Segundo ele, Ferraz e o inspetor da Graco Jorge Gherard arquivaram investigações sobre fraudes em licitações, em Rio das Ostras, em troca de vantagens econômicas.

Foram apreendidos registros duplicados dessa investigação – um de 16 de agosto de 2008, que instaurava o inquérito, e outro de dois dias depois, que arquivava o caso. "A denúncia dizia que, apesar da determinação de instauração de inquérito no dia 16, [o procedimento] tinha sido arquivado no dia 18, em razão de recebimento de valores indevidos", disse Turnowski. O chefe da Polícia Civil disse ter recebido uma denúncia anônima sobre as irregularidades e pretende pedir a quebra dos sigilos fiscais e telefônicos de empresários e funcionários da prefeitura. "Quem vai definir o futuro dele [Ferraz] é o secretário da Segurança. Eu o exoneraria."

Operação

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Os 32 policiais presos na sexta-feira pe­­la PF são acusados de participar de quatro organizações criminosas. Segundo a PF, eles apreendiam armas em favelas e as vendiam para traficantes rivais. Em outra frente, cobravam R$ 100 mil para informar criminosos sobre operações. Também te­­riam envolvimento com uma milícia em Ramos, que extorquia mo­­radores em troca de "segurança", e dariam proteção a casas de jogos. De acordo com a PF, alguns dos suspeitos movimentavam até R$ 50 mil por dia em suas contas bancárias.