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Estudantes estavam dormindo quando cerca de 400 policiais invadiram a  Reitoria: ao fim da operação, que durou cerca de 15 minutos, alunos saíram pacificamente | Nacho Doce/Reuters
Estudantes estavam dormindo quando cerca de 400 policiais invadiram a Reitoria: ao fim da operação, que durou cerca de 15 minutos, alunos saíram pacificamente| Foto: Nacho Doce/Reuters

Minuto a minuto

Acompanhe como foi a reintegração de posse da Reitoria da USP:

5h10 – Policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar chegam ao câmpus em ônibus e carros.

5h15 – Tropa circunda o prédio da Reitoria, onde os estudantes estavam dormindo. Policiais entram no prédio e retiram os alunos, que saem em fila indiana.

5h31 – Com o prédio esvaziado, alunos são colocados de volta para serem revistados.

6h16 – Do lado de fora, cerca de cem estudantes protestam contra a operação e tentam ultrapassar o cerco policial. Um carro da PM tem o vidro danificado pelos manifestantes.

6h39 – Primeiro grupo de invasores, com 20 estudantes, é levado para ônibus da PM, que vai deixá-los no 91º Distrito Policial (DP). Eles saem um por um, com mãos na cabeça, sem algemas, passando por um corredor com policiais dos dois lados.

7h14 – Último grupo de alunos é levado para o ônibus.

7h26 – Oficiais de Justiça assinam certidão formalizando a entrega do imóvel. Imprensa é convidada a entrar no prédio.

8h46 – Delegado do 91º DP chega para isolar a área e constatar danos.

10h28 – Protestos do lado de fora continuam. Tropa, que estava nos ônibus para ir embora, volta para isolar o prédio da multidão.

11h40 – Manifestantes saem em passeata até a 91º DP para protestar pela liberação dos detidos.

12h25 – Perícia chega à Reitoria.

  • Polícia Militar apreendeu sete bombas caseiras e seis caixas de morteiros
  • Os detidos ficaram 5 horas nos ônibus aguardando a hora dos interrogatórios

A invasão da Reitoria da Uni­versidade de São Paulo (USP), iniciada no dia 1.º, terminou ontem com a ação da Tropa de Choque da Polícia Militar e a prisão de 73 pessoas. A desocupação teve início às 5h15. Munidos de cassetetes, escudos e armas com balas de borracha, 400 policiais arrombaram um portão que dá acesso à Reitoria e entraram. A operação contou com o apoio aéreo de dois helicópteros Águia.O prédio, de seis andares, foi cercado. Às 5h25, grande parte do estudantes já havia sido retirada, pacificamente. Ninguém ficou ferido. Um grupo de alunos ainda realizou um protesto, com palavras de ordem contra a ação. Dois estudantes tentaram furar o bloqueio dos PMs. Um deles foi detido.

Na sequência, os alunos foram revistados, embarcados em ônibus da PM e levados para o 91.º Distrito Policial. Entre os presos havia três funcionários da universidade – uma diretora do Sindi­cato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) –e um aluno da PUC-SP. Os demais são estudantes, principalmente dos cursos de Ciências Humanas e simpatizantes da principal reivindicação: a expulsão da PM do câmpus.

Após a operação, o clima de tensão continuou na universidade, com aulas suspensas, assembleias estudantis e barricadas na entrada de prédios. À tarde, uma passeata com cerca de 150 estudantes marchou do câmpus até a delegacia. Eles chegaram gritando palavras de ordem contra a PM e a favor dos detidos: "Libertem nossos presos! Libertem nossos presos!" Todos pararam na porta. A entrada foi impedida por policiais.

Foi também durante a tarde, por volta das 13 horas, que a polícia ofereceu aos detidos no ônibus a oportunidade de sair do veículo – uma das reclamações dos pais dos estudantes, que chegaram logo cedo ao distrito. Fazia sol e calor. Mas os alunos, desde as 8 horas dentro dos coletivos, decidiram ficar. Os pais levaram lanches, água e cigarros para eles.

No fim da noite, em assembleia com cerca de 2 mil pessoas, os estudantes da USP decidiram entrar em greve em protesto contra a polícia,

Desobediência

O advogado Felipe Gomes Vasconcelos, que defende os estudantes, informou no fim da tarde que encaminhou um pedido de habeas corpus coletivo. Os 73 detidos serão indiciados por desobediência à ordem judicial e dano ao patrimônio público – havia pichação em vidros e paredes da Reitoria. A pena prevista para o primeiro crime varia de 15 dias a 6 meses de detenção e para o segundo, de 6 meses a 3 anos, mas ambas podem ser substituídas por serviços comunitários.

A PM apresentou à imprensa sete garrafas com bombas incendiárias, feitas com gasolina e panos, apreendidas na Reitoria. Também havia seis caixas de morteiros e um garrafão com 5 litros de gasolina.

A crise na USP começou em 27 de outubro, quando três alunos foram pegos com maconha no câmpus. Revoltados, colegas invadiram um prédio de administração e posteriormente o da Reitoria.

"Eles deveriam ter aula de democracia", diz Alckmin

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou ontem que os alunos que invadiram a USP deveriam ter lições sobre democracia e fez duras críticas ao movimento de ocupação. "Eles precisam ter aula de respeito à ordem judicial. Não é possível depredar instituições que foram construídas com o dinheiro da população, que paga impostos. É inadmissível e lamentável chegar ao ponto de a polícia ter de ir lá para fazer cumprir uma ordem judicial", disse Alckmin. O governador elogiou a atuação da PM, que evitou confronto. "A Polícia Militar mostrou mais uma vez a sua competência."

O ministro da Educação, Fernando Haddad, pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo em 2012, também condenou o movimento de estudantes invasores, mas observou que a USP não pode ser tratada como se fosse a "cracolândia"– região do centro da capital conhecida pela presença intensa de usuários de crack. "Nós precisamos compreender que é preciso, tratando-se de um câmpus universitário, ter todo o cuidado na interação com a comunidade universitária, seja com alunos, professores ou funcionários."

A posição de Haddad pode ser interpretada como prévia aos debates para as eleições de 2012. Nas redes sociais, houve reclamações. O tom da crítica era de que o ministro, mesmo com o currículo de professor da USP, não conhecia a realidade.

O também pré-candidato à prefeitura, mas pelo PSDB, e atual secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo, classificou a declaração de Haddad como "demagógica e descabida".

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