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Escrivães e investigadores de Telêmaco Borba comemoram a nota 10 da primeira avaliação | Divulgação/Polícia Civil
Escrivães e investigadores de Telêmaco Borba comemoram a nota 10 da primeira avaliação| Foto: Divulgação/Polícia Civil

Especialistas elogiam medida e recomendam transparência

Especialistas em segurança pública consultados pela Gazeta do Povo destacaram a importância da implantação de avaliações, como a lançada pela Polícia Civil do Paraná. Eles concluem que, em médio prazo, a medida deve implicar aumento da eficiência da corporação e conferir mais transparência aos procedimentos.

"É importantíssimo porque esse é um instrumento de gestão moderno e necessário, usado por polícias de ponta. Sem avaliação é difícil fazer correções de rumo", apontou o ex-secretário Nacional de Segurança, José Vicente da Silva. "Polícia profissional é a que detecta erros para superá-los continuamente. E isso não é feito no Brasil", disse.

O coronel Rui César Melo, ex-comandante da Polícia Militar (PM) de São Paulo, destacou a necessidade de a avaliação ser contínua e tornada pública. Para o especialista, a metodologia deveria ser incorporada em outras forças policiais. "A polícia moderna precisa se basear em mecanismos de gestão pública, ouvindo retornos sobre o serviço prestado. Isso é brilhante e precisa ser replicado", avaliou.

Resistências

Os especialistas recomendam pulso firme à Polícia Civil do Paraná, pois preveem que o método deve encontrar resistências dentro da corporação. "As polícias têm suas deficiências e não têm muito apego à transparência e gestão. Se esquecem que pertencem ao serviço público. Mas isso [avaliação] é algo necessário", pontuou José Vicente.

O coronel Rui César acrescentou que a medida deve beneficiar os policiais produtivos. "O procedimento vai ter que lidar com os ‘não me toques’ que existem na polícia. Mas é positivo. O funcionário sabe quem realmente produz e quem fica encostado. Vai ser ótimo, porque todos vão ser fiscalizados."

A Polícia Civil do Paraná consolidou na última semana a implantação de uma ferramenta de gestão pioneira no país e utilizada por algumas das principais forças de segurança do mundo. As 20 subdivisões policiais do interior – cada qual responsável por uma microrregião do estado – serão avaliadas a cada seis meses e receberão uma nota, que varia de zero a dez. O resultado será divulgado em uma espécie de ranking. A ideia é aferir de forma ampla a qualidade do serviço prestado, desde o atendimento ao cidadão ao andamento do inquérito policial.

"Com isso, teremos um indicador que vai nos permitir que corrijamos os rumos do que não estiver de acordo com o padrão que queremos. O objetivo não é demonizar quem não tiver uma nota boa, mas incentivar que todos melhorem", explicou o chefe da Divisão Policial do Interior (DPI), delegado Rogério Antonio Lopes.

O primeiro ranking foi divulgado semana passada. Quatro subdivisões obtiveram nota dez. O desempenho menos satisfatório ficou com Londrina, avaliada com 7,0 (veja o ranking completo nesta página). O processo de avaliação havia começado em agosto do ano passado, quando a DPI traçou um plano de metas e identificou duas lideranças de cada subdivisão e passou a treiná-las para atuarem como "multiplicadores" do padrão buscado pela corporação.

A avaliação leva em conta dez quesitos. No item "qualidade do inquérito policial", por exemplo, o Ministério Público participou da análise apontando como estavam os procedimentos de cada microrregião. Para aferir a "qualidade integral de atendimento ao cidadão", policiais da DPI ligaram para delegacias se passando por uma pessoa qualquer para medir como estava o serviço na unidade. A nota foi composta ainda considerando critério técnicos, como planejamento operacional, estrutura física e comprometimento da equipe.

"É uma medida de transparência e isso é um direito do cidadão", resumiu o delegado Lopes, especialista em gestão pública e autor de um livro na área de gestão em segurança pública.

Polêmica

Polícias de países como Canadá e Alemanha contam com métodos de avaliação continuada semelhantes. Apesar de ser uma boa ferramenta de gestão aplicada à segurança pública, a medida parece ter enfrentando resistência. Nos bastidores da corporação, comenta-se que chefes de subdivisões não ficaram satisfeitos com a avaliação. Na semana passada, enquanto cumpria agenda em Londrina, o próprio governador Beto Richa (PSDB) chegou a atacar a iniciativa.

"Eu acredito que foi uma trapalhada da Polícia Civil. Eu não aceito o que aconteceu e já pedi explicações, porque o que interessa são os resultados", disse na ocasião.

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