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Cinco moradores da região metropolitana de Curitiba serão ouvidos nesta sexta-feira (22) pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), acusados de integrar o movimento neonazista Neuland, criado em São Paulo. Um dos líderes do grupo, o economista Ricardo Barollo, está preso em Curitiba e é acusado de ser o mandante da morte do casal Bernardo Dayrell Pedroso, de 24 anos, e de Renata Waechter Ferreira, de 21 anos, assassinados em 21 de abril passado na BR-116, no Paraná. Segundo o delegado-chefe do Cope, Miguel Stadler, a polícia paranaense está mapeando as células do grupo no estado e estima em cerca de 50 o número de participantes.

Segundo Stadler, além de ser um movimento armado, o Neuland se diferencia dos demais grupos neonazistas em atuação no Sul do país pelo idealismo exacerbado em torno da "raça branca pura" e da organização e lealdade que seus integrantes devem aos líderes do movimento. Um projeto de candidaturas políticas, a cargos de vereador e prefeito, estava sendo planejado para a cidade de Piçarras, em Santa Catarina. Uma ONG estava sendo criada para fazer a movimentação financeira dos políticos apoiados pelo grupo.

"Muitos dos grupos neonazistas são praticamente acéfalos, sem liderança clara, e atuam com ações violentas localizadas, contra negros ou homossexuais que encontram nas ruas. Este grupo tem um projeto e está disposto a eliminar o que chamam de 'empecilho' ou 'transtorno' a seus objetivos", afirma Stadler.

De acordo com Stadler, o Neuland usa mulheres em suas ações, mas elas não podem participar da hierarquia do grupo. A denominação da chamada "base" é semelhante à utilizada pelo crime organizado: "soldado". No Paraná, os integrantes são jovens de classe média que costumam usar roupas paramilitares e usam cabelos curtos, mas não cabeça raspada, como os skinheads. Em maioria, são universitários ou pessoas de boa instrução.

"Eles dizem que querem formar uma sociedade 'pacífica e ordeira', mas podem usar a violência se houver quebra do que chamam 'elo de segurança', como ocorreu com o assassinato de Dayrell e Renata", explica o delegado.

Stadler explica que, além de se opor a ações armadas, Dayrell se tornou alvo do Neuland porque estava arregimentando em torno de si pessoas que tinham sido recusadas por Ricardo Barollo nos últimos dois anos. Para ingressar no Neuland, o interessado precisava fazer uma prova escrita de história, na qual as respostas teriam de ser acordo com a ideologia neonazista. Além disso, era preciso jurar fidelidade aos líderes e ser um defensor da raça branca pura. No "batismo", diz o delegado, alguns participantes escolhidos recebiam armas para usar quando os líderes julgassem conveniente. "Foi o que aconteceu na morte de Dayrell e Renata", diz o policial.

Stadler explica que a comunicação entre os neonazistas é feita pela internet. E adianta que não é fácil quebrar a segurança dos sites: os internautas precisam ter senhas, que são trocadas a cada entrada.

O crime

A polícia do Paraná afirma que o assassinato de Dayrell e Renata foi planejado pelo Neuland minuciosamente. No dia do crime, Dayrell havia organizado uma festa numa chácara em Campina Grande do Sul e convidado simpatizantes e integrantes de grupos neonazistas. Stadler afirma que a jovem Rosana Almeida, 22 anos, havia sido arregimentada pelo Neuland para ir a festa como espiã, e verificar se o grupo estava armado e se na chácara estavam pessoas próximas a Barollo.

Rosana teria sido ainda a responsável por atrair o casal para fora da festa, com o pedido de carona até seu apartamento, já que era amiga dos dois. "Dayrell e Renata foram levar Rosana até o apartamento. Ao chegarem lá, o companheiro da Rosana, Gustavo Wendler, 21 anos, disse que iria à festa. Simularam um pequeno atrito e Rosana disse que ficaria em casa. Gustavo saiu com o casal e, no caminho, deu o sinal verde para os que executaram os dois", explica Stadler.

Gustavo teria pedido para o casal parar o carro, pois precisava ir ao banheiro. O Corsa se aproximou do carro e foram efetuados os disparos. Foram presos e acusados de serem os autores dos tiros Jairo Maciel Fischer, 21 anos, morador de Teutônia, no Rio Grande do Sul, e João Guilherme Corrêa, de 18 anos. As duas armas usadas no crime foram localizadas num córrego perto do Parque Barigui, em Curitiba. O terceiro ocupante do Corsa era Rodrigo Mota, de 19 anos.

"O João Guilherme Corrêa estava no grupo do Barollo há 2 anos, desde os 16 anos. Temos registro da visita do economista a ele, feita na cidade de Pato Branco. O contato inicial entre os dois foi feito pela internet", conta o delegado do Cope.

Segundo Stadler, os três confessaram o assassinato do casal. Apenas Barollo não depôs à polícia e se reservou o direito de falar apenas à Justiça. "Eles confessaram o crime, apontaram Barollo como mandante e identificaram as armas, compradas na Argentina pelo grupo. E dizem que 'fizeram o que tinha de ser feito', embora digam em alguns momentos que se arrependem", diz o delegado.

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