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Um suposto traficante foi morto em confronto com a polícia na Favela da Mandela, na zona norte do Rio | Sérgio Moraes/Reuters
Um suposto traficante foi morto em confronto com a polícia na Favela da Mandela, na zona norte do Rio| Foto: Sérgio Moraes/Reuters

Ordem veio de presídio

Cascavel - Luiz Carlos da Cruz, correspondente

O atual diretor da penitenciária federal de Catanduvas, Fabiano Bordignon, deve deixar o cargo nos próximos dias. O anúncio foi feito um dia após ser revelado que a ordem para incendiar carros no Rio de Janeiro teria saído do presídio localizado na região Oeste do Paraná. Os chefes da maior facção criminosa do Rio teriam enviado o comunicado a seus aliados nas favelas cariocas por meio de bilhetes entregues durante visitas na penitenciária federal.

O diretor negou que sua saída tenha relação com os ataques no Rio. Ele disse que, há um mês, uma mulher foi presa quando tentava entrar na unidade com um bilhete que tratava de ataques às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). O material deveria ser entregue a Marcos Antonio Pereira, o My Thor, e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP – dois cabeças do Comando Vermelho, facção criminosa que age nas favelas cariocas. "A carta dizia dos ataques", afirma Bordignon.

Nos últimos dois anos, agentes que trabalham em Catanduvas prenderam quatro pessoas que tentavam entrar ou sair da unidade com mensagens de criminosos.

  • Polícia prendeu dois homens que tentavam colocar bombas em carros

Após mais uma madrugada violenta com pelo menos quatro carros incendiados e uma cabine da Polícia Militar metralhada, a polícia do Rio de Janeiro prendeu 11 suspeitos e matou dois supostos traficantes, além de fazer operações em 18 favelas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Um fuzil, uma pistola 45, armas, drogas e bombas caseiras foram apreendidos na resposta do governo do Rio aos ataques criminosos que incendiaram nove carros desde o último domingo.

A ordem para os arrastões teria partido de traficantes detidos na penitenciária federal de Catanduvas, no Oeste do Paraná. Ontem, a Secretaria de Segurança do Rio pediu à Justiça a transferência de nove presos para presídios federais. A medida visa evitar que líderes de facções continuem a passar ordens para que bandidos façam arrastões e incendeiem carros na cidade.

Ontem, na Vila Cruzeiro e na Favela da Merendiba, no Complexo da Penha, traficantes atiraram contra um comboio do 16.º Batalhão de PM de Olaria. O tiroteio durou meia hora e apavorou os moradores. Sete mil crianças ficaram sem aulas.

A polícia entrou em alerta contra ações criminosas no início da noite de segunda-feira. Em Copacabana, por volta de 1h30 de ontem, um segurança flagrou dois homens e dois menores de idade quando colocavam uma bomba embaixo de um carro estacionado. Ele conseguiu apagar o pavio e alertou uma equipe policial. Houve perseguição ao grupo, que estava em duas motos, e todos foram detidos sem resistência.

O atentado ocorreu a poucos metros de vários hotéis e nas proximidades da região de bares e restaurantes, conhecida como "Baixo Copacabana", frequentado por turistas. Desde o último sábado, o Disque-Denúncia recebeu 16 ligações sobre possíveis atentados.

No final da tarde de ontem, autoridades procuravam informações sobre uma suposta carga de 600 quilos de dinamite, roubada no Rio Grande do Sul e em São Paulo, que estaria em poder de traficantes do CV. O secretário de Segu­rança, José Mariano Beltrame, afirmou desconhecer a informação.

Na noite de segunda-feira, apesar do alerta da polícia, carros estacionados foram incendiados na Rodovia Presidente Dutra, no Estácio e na Tijuca, na zona norte. Na Avenida Dom Helder Câmara, em Del Castilho, uma cabine da PM foi metralhada com mais de 50 tiros. Ninguém ficou ferido. Pela manhã, em reação aos ataques, a polícia invadiu as favelas. "Essas operações não têm prazo para terminar", disse o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, que foi até a Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. A PM informou que dos 11 presos ontem, oito teriam ligação com os ataques. Beltrame disse ontem que o governo federal tem "obrigação" de reforçar o combate ao tráfico de drogas no Rio. Tratada no âmbito político como uma ajuda, o aumento do efetivo da Polícia Rodoviária Federal anunciada ontem, por Brasília, é um dever constitucional, afirmou. O pedido foi feito pelo governador Sérgio Cabral diretamente ao presidente Lula.

Cronologia

Desde o início do ano, o Rio já registrou 50 casos de arrastões e incêndios de carros. Veja os últimos casos:

10 nov – Cinco carros são incendiados. Dois na Rua Paulo VI, no Flamengo (zona sul); um na rodovia Presidente Dutra, no Irajá (zona norte); outro na Rua 24 de Maio, no Riachuelo (zona norte); e um no viaduto Procurador José Alves de Morais, no Sampaio (zona norte).

20 nov – À tarde, um motorista é morto num assalto praticado por oito homens armados em três carros que fecharam uma faixa BR-116. Às 20 horas, quatro homens armados em um Peugeot fazem arrastão na Rua Presidente Carlos Campos, Laranjeiras, perto do Palácio Guanabara. Assaltantes roubaram pertences de ocupantes de três carros. Duas horas depois, quatro homens armados abordam três carros na Rua Bogari, na Fonte da Saudade, e levam pertences e chaves dos carros.

21 nov – No início da tarde, seis homens armados com fuzis fecharam a pista da Linha Vermelha no sentido centro, na altura do quilômetro 14, atearam fogo em dois veículos e roubaram pertences dos ocupantes de outros dois. Um Fiat Doblô da Aeronáutica foi metralhado. Os bandidos fugiram. Não houve feridos. Também à tarde, na rodovia Presidente Dutra, na Pavuna, três homens armados com fuzis atacaram motoristas na pista sentido São Paulo. Eles roubaram um Prisma e um Kia. Policiais militares que passavam pelo local trocaram tiros com os criminosos. Não houve feridos.

22 nov – Às 21h30, uma cabine da PM é metralhada em Del Castilho, perto de um acesso à Linha Amarela, por três homens que passavam em um carro. Um automóvel estacionado nas proximidades também é atingido. Não há feridos. Às 22h30, dois carros são queimados e outros dois são roubados na pista sentido Rio da rodovia Presidente Dutra, na altura da Pavuna, zona norte. Duas pessoas ficam levemente feridas. Na Tijuca (zona norte), dois homens em uma moto jogam gasolina em um carro estacionado e ateiam fogo.

23 nov – Por volta da zero hora, outro carro estacionado é incendiado, no Estácio, a cerca de 2 quilômetros do local onde os motoqueiros atacaram na Tijuca. À 1h20, quatro pessoas (dois homem e dois adolescentes de 13 e 15 anos) são presas em Copacabana quando colocavam duas bombas embaixo de dois carros estacionados. Às 6h30, duas pessoas morrem e uma fica ferida quando o carro onde estavam é atingido por vários tiros na Rodovia Washington Luiz, na altura de Caxias. A polícia ainda investiga se o crime tem relação com os ataques do tráfico. Às 8 horas, a Polícia Militar faz operações simultâneas em 18 favelas da cidade. Saldo final: 11 presos e dois mortos.

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