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Gilmar Reinert, Jorge Grando e Albino Silva (foto) e mais Antônio Grando e Valdir Lopes foram mortos com tiros na cabeça | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Gilmar Reinert, Jorge Grando e Albino Silva (foto) e mais Antônio Grando e Valdir Lopes foram mortos com tiros na cabeça| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Pressão por um esclarecimento

Quando a chacina completou um ano, em 22 de abril deste ano, uma reportagem da Gazeta do Povo mostrou a angústia das famílias das vítimas sem nenhuma explicação para os assassinatos.

Ambientalistas cobraravam atitudes das secretarias estaduais de Segurança e de Meio Ambiente, da Polícia Federal (PF) e do Ministério da Justiça para que o crime fosse solucionado.

Na época, a polícia já trabalhava com a hipótese de uma "tentativa de assalto que acabou muito mal para as vítimas".

Leia a matéria completa.

Policiais da Delegacia de Piraquara prenderam, na madrugada desta quarta-feira (27), dois suspeitos de matar cinco homens em uma chácara em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, em abril do ano passado. Uma das vítimas da chacina foi o ex-secretário de Meio Ambiente de Pinhais, Jorge Roberto Carvalho Grando.

Na noite do crime, Jorge Grando estava em casa, com o irmão, o funcionário público Antônio Carvalho Grando, com o empresário Gilmar Reinert, com o agente penitenciário Valdir Vicente Lopes e com o funcionário da Sanepar Albino da Silva. Todos foram mortos com tiros na região do pescoço - e três deles foram assassinados de bruços.

Segundo o delegado Amadeu Trevisan Araújo, titular da Delegacia de Araucária, a mandante do crime foi a ex-mulher do secretário, Derise Farias Pereira Grando, por motivação financeira. Na época, os dois eram casados, mas não viviam mais juntos. Derise teria avisado Edival de Souza Silva, que usava o nome falso de Clóvis da Silva, que na casa teria muito dinheiro guardado.

"Era para ser um crime de roubo normal, mas eles não esperavam encontrar tanta gente na casa. Jorge foi espancado para que dissesse onde estava guardado o dinheiro e outros objetos de valor da casa, mas como era o único dos homens que não estava amarrado, tentou fugir e acabou sendo morto", disse o delegado.

Araújo explica que depois de matar Grando, os assaltantes tiveram medo de serem reconhecidos, e por isso acabaram matando todos que estavam na casa. "Acreditamos que as vítimas realmente estavam no lugar errado, na hora errada", completou o delegado.

Os dois suspeitos foram abordados em suas residências, por volta das 4h30 da manhã desta quarta, e devem cumprir mandados de prisão temporária de 30 dias. Junto com eles, no 1º Distrito Policial, estava João Carlos da Rocha, que já estava preso por tráfico de drogas e receptação. O outro suspeito é o irmão de João Carlos, Adilson da Rocha, que está detido na Colônia Penal Agrícola (CPA) por uma associação de crimes.

Todos negam a participação na chacina. Derise, Edival e João Carlos disseram, durante a apresentação no 1º DP, que nunca tinham se visto. "Nenhum deles admite a participação no crime, e nem vai admitir. Eles negam porque sabem que são cinco homicídios, dá para imaginar o tamanho da pena que vão pegar", disse o delegado Amadeu Araújo.

Investigações

Um dos suspeitos, João Carlos da Rocha, disse que não cometeu o crime porque, na época, estava preso na Colônia Penal Agrícola (CPA). O delegado rebateu a informação, dizendo que os documentos de identidade de Jorge Grando e do empresário Gilmar Reinert foram encontrados em uma estrada de acesso à CPA, e que provavelmente João Carlos deixou o sistema penitenciário para cometer o crime e depois retornou.

Segundo o delegado, a forma como o crime foi feito também confirma que era para ser um simples roubo, que acabou em chacina. "As vítimas foram amarradas de forma improvisada, com fios de celulares e de luz. Eles pensaram antes de agir, que tinha dinheiro lá, mas não planejaram nada", disse.

Com as prisões, diz Araújo, o crime está esclarecido. "Considero esclarecido, porque a autoria é essa e a motivação foi um roubo normal, porque havia dinheiro na casa. Deu errado porque tiveram que matar todos, por queima de arquivo", finalizou.

Outro lado

Além de negar o crime, os suspeitos disseram que nunca tinham se visto antes da apresentação da polícia. Edival Silva disse também que não sabe onde fica a chácara de Jorge Grando, em Piraquara. "Tem algo por trás dessa história que não está esclarecido. Estão tentando achar um culpado, mas não sou eu", disse.

A ex-mulher do ambientalista, Derise Grando, disse que a polícia afirma que ela sabia que havia dinheiro na casa, mas que não é verdade. "Eu soube depois do crime só, e ainda fui avisar a polícia de que havia um cheque no local. O verdadeiro autor do crime está solto, e vai ficar provado que eu não devo nada", disse.

Derise, segundo o delegado, já foi detida por roubo em outra ocasião, em 2008. Ela afirma que chegou a ser detida, mas não foi indiciada. "Foi o próprio Jorge que me tirou da prisão, eu não tive nada a ver com a história. Meu erro foi ter um relacionamento na época com um envolvido", afirmou.

Todos os presos ficarão à disposição da Justiça.

Relembre o caso O crime aconteceu no dia 22 de abril de 2011 na casa dos irmãos Antonio Luis Carvalho Grando e Jorge Grando, ambos funcionários da prefeitura de Pinhais. Eles moravam em uma área ecológica e estavam reunidos com outros três amigos que haviam comprado lotes no local – um deles era vizinho e dois pretendiam se mudar para lá.

O crime teria ocorrido, segundo a Delegacia de Piraquara, entre 23h15 do dia 22 (sexta-feira) e 0h15 do dia 23 (sábado). Os amigos estavam em um galpão ao lado da casa dos Grando fazendo um churrasco e teriam sido rendidos nesse local por três pessoas ou mais. Eles foram conduzidos até a pequena cozinha da casa, foram amarrados com as mãos para trás com fios de luz e arames e foram alvejados na cabeça. Na residência, foi encontrado um estojo de munições de calibre 9 milímetros.

O funcionário da Sanepar Albino da Silva, que era vizinho dos Grando, havia saído para comprar remédios para a filha recém-nascida e pode ter parado para falar com os amigos, ou ainda pode ter ido ao local depois de perceber uma movimentação estranha na casa. Ele não seria o alvo, segundo a polícia, mas acabou morrendo. A esposa dele, estranhando a demora, foi até o local e encontrou os corpos na casa.

Diversas linhas de investigação foram seguidas após o crime. Uma delas era a hipótese de que Jorge Grando teria um seguro de vida em seu nome, e de que a quantia era bastante alta. Outra suspeita era de que o crime teria como motivação a luta por demarcação de terra. Segundo a polícia, as duas suspeitas foram descartadas.

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