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A Polícia Militar vai manter por tempo indeterminado a ocupação da favela de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, onde moradores entraram em confronto com a polícia no fim da tarde desta segunda-feira (2). Por volta das 6h30 desta terça-feira (3) 60 carros da força tática estavam no local. Além disso, 34 homens do corpo de bombeiros estavam na região.

Nesse horário, mais carros e motos da polícia chegavam ao local. Apesar da ocupação, a situação era aparentemente tranqüila no início desta manhã. Muitos moradores que saíam para trabalhar confirmavam que não havia mais problemas dentro da favela. Ainda é possível ver algumas marcas do confronto nas ruas.

A confusão começou por volta das 17h. Os manifestantes interromperam o trânsito na Avenida Giovanni Gronchi, via importante região do Morumbi, bairro nobre da cidade. Motoristas que passavam pelas ruas próximas foram vítimas do arrastão. "Veio uma avalanche de pessoas na nossa direção. E começaram a gritar, a xingar, e gritando pra deixar tudo dentro do carro", disse um deles, que não quis se identificar.

A polícia chegou e o grupo então seguiu em direção às ruas próximas à favela de Paraisópolis. No caminho, invadiu e depredou um restaurante. "Foi terrível, quebraram tudo, uma coisa muito complicada", afirmou Sidnei Araújo, gerente do estabelecimento.

Os manifestantes se dividiram e fecharam várias ruas. Queimaram pneus e carros. Os policiais fizeram o cerco na favela, mas não conseguiram se aproximar. Foram recebidos com pedras.

A Tropa de Choque e o helicóptero Águia da Polícia Militar foram acionados. Os manifestantes soltaram fogos de artifício na direção do helicóptero. A polícia lançou bombas de efeito moral para afastar os manifestantes. Mas as barricadas continuaram e pelo menos oito carros ficaram em chamas.

Feridos

Só com a chegada da tropa de choque a polícia conseguiu avançar. Apesar de toda a confusão, o capitão Eliezer Klinger, da PM assegurou que tudo estava sob controle. "A situação está sob controle. Nunca saiu do controle. O problema é que eles ficam fazendo focos". Minutos depois, o capitão Klinger foi baleado na barriga e levado para um hospital da região.

Além dele, três policiais saíram feridos da Paraisópolis. Dois baleados na perna e um PM da tropa de choque atingido na cabeça por uma pedra.

A manifestação teria sido um protesto contra a morte de um morador da favela, que trocou tiros com a polícia no fim de semana ao ser pego com um carro roubado. Até o final da noite, a polícia encontrava pontos de resistência e só conseguia chegar até os manifestantes com a tropa de choque. Nove pessoas foram presas, e liberadas durante a madrugada.

Moradores

Na favela, que é a segunda maior da cidade, moram cerca de oitenta mil pessoas. O aposentado Dionésio José de Novaes ficou assustado com o que viu. "Estou indo embora. Não da para ficar aqui. Nunca aconteceu nada disso, é a primeira vez. A empregada doméstica Maria da Silva, diz que o filho é coletor de lixo e foi levado por engano. "Eu sou honesta, ela é honesta, todo mundo aqui é trabalhador. Aqui não tem ladrão não. A gente mora na favela, mas a gente tem a dignidade da gente. A gente é pobre, mas a gente tem o direito da gente".

O fotógrafo Derval da Silva, morador da favela, levou um tiro no ombro durante o confronto e foi socorrido pelos vizinhos. Por telefone, Josileide, mulher dele, procurava notícias do marido. "Ele é um pai de família, ele não é bandido". O secretário da Segurança Pública de São Paulo voltou a afirmar durante a noite que a situação na favela estava controlada. "Está sob controle no sentido de que as questões mais graves e mais emergenciais estão resolvidas. É evidente que isso necessitara também de investigações posteriores, mas enfim, as partes mais latentes já passaram".

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