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Nelson e o Cine Império: mestrado sobre fim dos cinemas de rua | Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Nelson e o Cine Império: mestrado sobre fim dos cinemas de rua| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

O ‘galinheiro’

O comerciante José Edson da Rocha mora ao lado do prédio onde já se divertiu muito e sente saudades do "tempo de ouro" do velho Cine Império. "Vim ver Os brutos também amam [de 1953] numa sessão chamada "Matinada", aos domingos às 10h30. Esse dia ficou marcado na minha memória", lembra. Rocha também fala com saudade do mezanino, apelidado de "galinheiro", de onde se via o filme do alto.

O final infeliz e prolongado do cinema mais popular da história de Ponta Grossa (Campos Gerais), o Cine Império, está cada vez mais próximo da última cena. Depois de dez anos da chuva que destruiu a maior parte do prédio, apenas a fachada e algumas paredes resistem, apesar do péssimo estado de conservação. A Defesa Civil chegou a anunciar para o último dia 22 a demolição da parte restante. Porém, a prefeitura demorou a liberar o alvará.

A prefeitura informou ter interesse na demolição, por causa dos riscos que a estrutura oferece, mas até o fechamento dessa edição não havia informações sobre a liberação do alvará. Segundo o coordenador da Defesa Civil de Ponta Grossa, Coronel Edimir de Paula, a demolição será feita manualmente para não haver danos às edificações vizinhas.

O trabalho será executado por uma empresa contratada pela proprietária do local, a Cinesul Empreendimentos Imobiliários (antiga Cinemas Arco-Íris), de Lages (SC). "O que segurava a fachada era o peso do telhado, mas ele foi destruído na época da enxurrada. Há um risco considerável de acidentes e de transmissão de doenças", diz Edimir.

Não ao tombamento

O Império fazia parte do Inventário Cultural de Ponta Grossa desde 2003, o que impedia a demolição ou alteração sem o consentimento do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac). A diretora do Departamento de Patrimônio Cultural da prefeitura, Carolyne Abilhôa, afirma que o Compac liberou o local para construção desde que fosse preservada a fachada, mas nenhuma obra de edificação ou restauro chegou a ser realizada. "Inclusive, foi liberada a abertura do vão frontal para possibilitar a entrada do maquinário necessário para a obra, que posteriormente deveria ser refeito como no original."

Em dezembro de 2012, os membros do conselho se reuniram e decidiram não tombar o local como patrimônio histórico. Assim, os proprietários voltaram a ter o direito de modificar o imóvel sem autorização do Compac. Porém, o péssimo estado de conservação fez com que no início do ano o Ministério Público do Paraná determinasse a demolição. "Não alteramos nem demolimos o imóvel porque estávamos aguardando uma definição do poder público. Ele não foi abandonado, tanto que os impostos estão em dia", diz o contador da Cinesul, Mário Gesing.

Fundado em setembro de 1939, o cinema parou de funcionar em 1992 e, logo na sequência, o prédio passou a abrigar uma igreja evangélica por alguns anos. O professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Nelson Silva Junior frequentou o Cine Império no começo da década de 1980. Anos mais tarde, a história do local foi um dos elementos da sua dissertação de mestrado, sobre o fechamento dos cinemas de rua. "O ideal era que esse espaço fosse aproveitado para uma finalidade cultural, afinal é um lugar de memória", diz.

Nelson lembra que o Império foi o quarto cinema fundado em Ponta Grossa (depois do Éden, do Recreio e do Renascença). Mesmo não sendo o mais antigo, logo caiu nas graças do povo pelas diversas ações promocionais e pelos filmes de grande apelo. "Havia a sessão "Pão Duro", na qual o espectador assistia a diversos filmes durante o dia por um preço módico. Também havia a troca de gibis por ingressos. Além disso, ele ficava num local estratégico: bem em frente ao antigo terminal de ônibus da cidade."

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