No último parágrafo da coluna "A mesóclise morreu"?, faço a seguinte consideração: "Quando bater a saudade, é só fechar o jornal e pegar um livro de Graciliano Ramos, que não poupou em mesóclises e mais-que-perfeitos". Vislumbrei nessa finalização apenas uma pequena homenagem a um dos meus autores prediletos. Já um leitor, atento, nela viu uma questão, que é antiga: se é possível ler autores como Graciliano (ele cita outros do nosso panteão) sem que sejam retomados os velhos pontos gramaticais de outrora.
Proponho um caminho simples espero que não simplista para esse questionamento. Vamos levar em conta a vida real, ou seja, nossa própria história de leitores. Permitir-me-ei falar da minha e também da história dos meus alunos.
Começo por mim. Tudo começou há mais de três décadas, quando passei das lições da Caminho Suave (lembram?) para uma caixa de gibis de uma prima. De lá fui para adaptações de clássicos (tudo no primário), e no ginásio já estava lendo Jorge Amado, depois Lins do Rego e Érico Verissimo. Lia e relia esses e outros autores sem ter noção de que nas obras havia um monte de subordinadas adverbiais e complementos nominais. Só no ensino médio fui apresentado a esse tipo de terminologia. Mas era tarde demais: Rosa, Machado e Graciliano (e alguns estrangeiros) já haviam invadido minha vida. Se nunca fui capaz de entender bem a literatura, certamente não foi por falta de nomenclatura gramatical, mas por ter uma inteligência bem limitada mesmo.
Meus alunos, embora com muitos autores diferentes, fizeram (a maioria, ao menos) um percurso riquíssimo da 5.ª série ao 3.º ano do ensino médio. Invariavelmente, escreviam e compreendiam melhor os que mais liam.
Sim. Sempre havia espaço para uma boa reflexão sobre a língua e a literatura papel insubstituível da escola. Mas a atividade de ler literatura é uma questão de acúmulo, de prática mesmo.
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