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Motivados por uma série de fatores, como dependência química, desentendimento familiar e, principalmente, desemprego, os moradores de rua se multiplicam em Curitiba. Dados da Fundação de Ação Social (FAS) da prefeitura demonstram que a população de rua cadastrada passou de 397 pessoas no ano passado para 437 neste ano, até o mês de agosto – aumento de 10%. De acordo com o levantamento, o número de cadastrados pode fechar em 700 até o fim do ano. Levando-se em conta que muitos desses moradores não fazem parte do sistema do resgate social da prefeitura e de que a população é móvel, indo de uma cidade para outra, o índice pode ser maior.

Até agosto de 2005, 11.572 atendimentos foram feitos nos abrigos da prefeitura. Entretanto, a oferta é pequena diante da demanda. Com a média de 1.446 atendimentos por mês, os albergues de Curitiba possuem somente 370 vagas para pernoite. Mesmo assim, todos que procuram assistência nos albergues públicos recebem atendimento médico e higiênico, além de alimentação. Mas nem sempre encontram abrigo. Dessa forma, retornam às ruas por falta de espaço ou por opção própria. Já os de outras cidades são encaminhados pelo serviço social para o local de origem.

Segundo a psicóloga e gerente técnica do resgate social da prefeitura, Marlene Block, faltam locais para encaminhamento dos moradores de rua. Principalmente para os portadores de deficiências mentais e dependentes químicos, que necessitam de tratamento médico específico. "Há 20 anos, quando comecei no resgate social, a estrutura dava conta da demanda. Mas o desemprego aumentou, gerando mais moradores de rua, porém com a mesma estrutura de atendimento", compara.

Com tal quadro, a rua acaba se tornando ainda mais atrativa para essa população. Conforme explica Marlene, na rua a pessoa acaba encontrando tudo o que necessita: liberdade para transitar sem regras e dinheiro resultante de esmolas. "Além de dinheiro, pouso e comida, essas pessoas têm os seus próprios relacionamentos na rua, o que dá a sensação de estarem mais protegidos", argumenta.

Política

Para a socióloga Milena Martinez, coordenadora da pesquisa intitulada "Mapa da Pobreza em Curitiba, de 1995", o aumento da população de rua não só da cidade, como também em todo o Brasil, é resultado da falta de políticas específicas para tal público. O resultado, constata, é que a situação acaba virando um ciclo. "O estado fecha os olhos para essa gente e o resultado é que os meninos de rua crescem e têm filhos que também não terão acesso à cidadania, tornando-se também moradores de rua", avalia.

A socióloga critica fortemente as atuais ações do governo para tentar contornar o problema da miséria de um modo geral. Na visão de Marlene, o governo deveria deixar de agir somente com ações pontuais, como os programas Bolsa-Escola e Bolsa-Família, e montar um plano estratégico mais abrangente, com ações de curto, médio e longo prazo.

Assistência

437 moradores de ruaestão cadastrados atualmente na FAS. Segundo o órgão da prefeitura, esse número pode chegar a 700 até o fim do ano.

162 educadoresfazem parte do trabalho de resgate social da FAS. Eles trabalham oito horas diárias, com salário de aproximadamente R$ 700.

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