As mulheres têm entrado cada vez mais cedo no mundo do crime. A predominância masculina nas ocorrências do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator (Ciaadi) de Curitiba não minimiza o impacto da crescente participação feminina. Elas responderam por 19,5% dos 2.921 casos de 2004, subindo para 21,3% dos 2.975 registros no ano seguinte. Em números absolutos, saltou de 569 para 635 ocorrências. Porém, o primeiro semestre deste ano apresenta uma tendência de baixa nessa proporção, com 16,7% dos 1.356 casos já registrados.
As meninas não são tão violentas quanto os meninos, mas estão indo em número cada vez maior para as ruas, fugindo de problemas em casa. A raiz desse mal está na desagregação familiar, diz o sociólogo Francesco Serale, diretor do Serviço de Atendimento Social (SAS), um dos quatro órgãos públicos do Ciaadi. Quase sempre passa pela negligência da mãe, pela agressividade do pai ou por desavenças com o padrasto. Uma vez na rua, acaba acolhida por alguma gangue, onde passa a ser mimada, sentir-se importante. Daí para a criminalidade basta um passo.
De acordo com os educadores do SAS, em geral são filhas de famílias pobres da periferia, possuem laços familiares muito frágeis, são usuárias de maconha e crack, bastante agressivas, integrantes de gangues e, o mais grave, não têm perspectiva de uma vida melhor. Esse conjunto faz delas presas fáceis do mundo do crime. Homicídio praticado pelas adolescentes é coisa rara, diz Serale, mas é bastante comum o furto, o tráfico de drogas e o roubo de carros.
Quando apreendidas, permanecem por 45 dias, em média, no Ciaadi até serem liberadas ou encaminhadas para alguma instituição. É o tempo que os educadores têm para mostrar-lhes outros rumos. "Trabalhamos para que elas saiam com o propósito de mudar de vida", diz o sociólogo. O principal instrumento de mudança é a palavra, pois o desejo de mudar deve estar nelas mesmo. Parece estar fazendo efeito. Os índices de reincidência entre as meninas, que era de 25,8% em 2004, caiu para 19% no ano seguinte e está em 16,3% no primeiro semestre deste ano.
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