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Veja o tipo de equipamento mais adequado para cada idade |
Veja o tipo de equipamento mais adequado para cada idade| Foto:

Cinto abdominal é problema

A Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito está em vigor desde setembro do ano passado. Quando ela completar um ano de vigência, será possível discutir mudanças nas regras. E uma das questões que a ONG Criança Segura defende que precisa ser alterada é a norma que permite o transporte de crianças em veículos antigos que só têm cinto de segurança de dois pontos nos bancos de trás.

Isso porque, no Brasil existem apenas equipamentos de retenção projetados para veículos com cintos de três pontos. Para regulamentar o transporte de crianças em veículo com cintos abdominais (de dois pontos), o Contran editou a Deliberação 100. Ela estabelece que as crianças menores de três anos devem ser transportadas em cadeirinha, no banco da frente do veículo, onde há o cinto de três pontos. Já crianças com idade superior a 4 anos e inferior a 7 anos e 6 meses deverão ser transportadas no banco de trás, presas apenas com o cinto abdominal, dispensando o uso do banco de elevação – assim como ocorre com crianças maiores, até o limite de 10 anos.

A coordenadora nacional da Criança Segura, Alessandra Françóia, considera que as regras estabelecidas pela deliberação não asseguram o transporte seguro. "O correto seria que o Brasil tivesse cadeirinhas produzidas para carros com cinto de dois pontos. E é isso que já reivindicamos e continuaremos pedindo. Além de a criança ficar mais segura no banco de trás, é um retrocesso colocá-la na frente, já que a cultura de que criança deve ser transportada no banco de trás já foi incorporada no país."

Improviso

A professora Fabíola Correia da Rocha, 33 anos, é proprietária de um Gol ano 1990, que tem cinto traseiro abdominal. Ela ficou insegura de seguir as orientações do Contran e transportar o filho Sloan, de 6 anos, apenas preso ao cinto de dois pontos. Optou por improvisar: continua usando a cadeirinha destinada para crianças menores. "Eu e meu marido conseguimos um jeito de prendê-la e achamos que ele fica mais seguro assim. Já ouvimos falar de acidentes em que a criança tem algum órgão interno ferido pelo uso do cinto abdominal e resolvemos não arriscar", diz. Os dias de improviso, porém, devem logo chegar ao fim. A família já está a procura de um carro novo, onde será possível instalar o equipamento adequado para a idade de Sloan. (AM)

Sete meses após o início da vigência no país da chamada Lei da Cadeirinha, a ONG Criança Segura faz um alerta: tem muito pai que comprou o equipamento de retenção, mas não está fazendo o uso adequado. "Ainda não temos um levantamento estatístico sobre a situação, o que só deve ocorrer em setembro, quando a lei completar um ano. Pelo que temos observado, porém, a falta de fiscalização está fazendo com que muita gente até tenha o equipamento, mas deixe a criança fora dele e chegue a colocar o acessório no porta-malas", comenta a coordenadora nacional da organização, Alessan­dra Françóia.

Os números de infrações registrados pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) confirmam, em parte, a impressão da ONG. O total de motoristas multados pelo transporte irregular de crianças – o que inclui o uso de mecanismos de retenção – teve aumento após a aplicação da lei, passando de 3,4 mil em 2009, para 4,9 mil em 2010. Esse crescimento, contudo, faz o estado apenas retomar um patamar anterior: em 2008, haviam sido 4,6 mil multas. E mais: quase 50% do aumento na emissão de multas no ano passado ficaram concentrados em Curitiba, cidade que observa a elevação progressiva do total de autos desde 2009, quando a lei da cadeirinha entrou no debate nacional.

O Departamento Nacional de Trânsito não tem um levantamento sobre os efeitos da Resolução 277 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que estabelece a obrigatoriedade do uso de equipamentos de retenção para crianças entre 7 e 8 anos. O diretor do Denatran, Orlando Moreira da Silva, disse que esse balanço só deve ser feito quando a resolução completar um ano de vigência. As informações preliminares, porém, seriam de que as normas estão sendo respeitadas em todo o país. "Como envolve a segurança de crianças, a resolução tem maiores chances de ser cumprida, mas, é claro, a fiscalização tem de ser contínua para que não ocorram retrocessos."

Curitiba

Na capital paranaense, o número de motoristas multados por transportar irregularmente crianças praticamente dobrou no passado em relação ao ano anterior, passando de 768 para 1.430. O crescimento é atribuído a uma fiscalização maior, resultado não só da aplicação da resolução como da discussão sobre o assunto.

O gestor de fiscalização de trânsito da Urbs (empresa que administra o sistema de transporte e trânsito da capital), Adão José Lara Vieira, diz que o número de autos poderia ser bem maior se não tivesse existido todo um trabalho de informação e conscientização e os motoristas, em sua maioria, não tivessem se adaptado rapidamente às novas normas. Mas ele também faz coro com a ONG Criança Segura: "Não é suficiente só ter o equipamento no carro. É preciso que as crianças estejam sempre na cadeirinha".

Para a coordenadora da Unidade de Educação e Mobi­­lização da Urbs, Maura Moro, Curitiba teve a vantagem de iniciar o trabalho de conscientização bem antes de a resolução começar a ser cobrada. "Já trabalhávamos esse assunto pelo menos desde 2009, ano em que a segurança de trânsito foi a temática da Semana Nacional de Trânsito." De fato, em Curitiba, em 2009, o número de motoristas multados por transporte irregular de crianças já foi bem maior, se comparado com o ano anterior: 768 contra 213.

Mas, apesar dos resultados positivos, Maura diz que o trabalho de orientação e conscientização dos pais precisa ter continuidade. "Estamos fazendo isso em vários momentos durante o ano todo, como na volta às aulas", diz. As pessoas, segundo ela, precisam entender os equipamentos de retenção como parte do enxoval do bebê e também saber que eles devem acompanhar o desenvolvimento da criança. "É como um tênis que, quando fica pequeno, precisa ser substituído."

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