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A comerciária Sandra Mara Barbosa, de 29 anos, cumpre a mesma rotina todos os dias, de segunda a sexta, com pouca variação aos sábados. Às 6h45, pega o ônibus lotado em Fazenda Rio Grande, chega às 8 horas no trabalho, no bairro Água Verde, em Curitiba, e às 18h30 inicia a volta para casa, outra vez espremida num ônibus. No meio do caminho, Sandra Mara faz baldeação no Terminal do Pinheirinho, por onde passam 115 mil passageiros por dia. Não bastasse a sonolência da manhã ou o desgaste do fim de tarde, Sandra Mara e uns quantos trabalhadores iguais a ela ainda têm de enfrentar os inconvenientes fura-filas. Volta e meia dá briga de tapa.

A linha direta Pinheirinho-Fazenda Rio Grande é um desafio à compreensão dos técnicos da Urbs, empresa da prefeitura responsável pelo setor. Ela é atípica, diz o gerente de Operação do Transporte Coletivo da Urbs, Luiz Filla. Enquanto nas demais linhas deste e dos outros 20 terminais da capital os ônibus abrem todas as portas na plataforma para acelerar o embarque e o desembarque, nesta em particular as tentativas fracassaram. Para Filla, trata-se de uma questão cultural. O gerente da Urbs tem observado que os usuários criaram suas próprias regras de organização e mesmo que fossem criadas novas alternativas para o embarque, essas medidas não resolveriam o problema porque eles continuariam a se comportar da mesma maneira.

Os passageiros fizeram um acordo tácito. Eles formam quatro ou cinco longas filas que, lado a lado, se movem uma após a outra até que todos os assentos do ônibus estejam ocupados. Os que preferem ir sentados continuam à espera do próximo veículo, cedendo a vez àqueles que chegaram depois mas aceitam viajar de pé. Estes aguardam o embarque agrupados quase de frente para a única porta que se abre. O problema são os espertinhos que furam as duas filas. "Praticamente todos os dias tem briga por causa disso", diz o passageiro Celso José da Silva. Funcionários do comércio instalado no interior do terminal também já presenciaram incontáveis discussões.

Os fura-filas já irritaram Sandra Mara mais de uma vez. Ela e muitos outros usuários do transporte coletivo acabaram se conformando para evitar confusão com os furões. Mas nem todos aceitam com passividade. "Já vi briga de soco", diz Silva. Essa disputa toda é pelo conforto de poder seguir viagem sentado. Na linha direta, o trecho entre o terminal do Pinheirinho e o de Fazenda Rio Grande é de 20 minutos, em média. Na plataforma em frente, de onde sai o ônibus "parador", que faz o trajeto em 30 minutos, o volume de passageiros é bem menor. O ligeirinho que parte da estação tubo da Rua Lourenço Pinto, no Centro de Curitiba, chega à cidade vizinha num tempo estimado de 40 minutos.

Quando há reclamações, por alguns dias uma equipe da Urbs passa a organizar as filas. Mas ela não pode ficar ali para sempre, explica Filla. Quando tudo volta à normalidade, a equipe desloca-se para outros serviços. Segundo ele, já se tentou de tudo. O corredor de embarque – cerquinhas de ferro que formam uma canaleta estreita – mostrou-se um fracasso porque limita a passagem da pessoa que está atrás na fila e não pode seguir adiante porque à frente dela há uma barreira de gente à espera dos assentos vazios no próximo ônibus. Não há tempo a perder, tudo tem de ser muito rápido. O ônibus lota em 30 segundos e não tarda dois minutos já encosta outro, numa sucessão de vaivém que se prolonga por todo o horário de pico.

No auge do corre-corre no sistema integrado, das 6 às 8 horas e das 17h30 às 19h30, a Urbs reforça a frota em 40% e põe até 1.860 ônibus em circulação. Uma vez mais a linha Fazenda Rio Grande se diferencia das demais, com pico das 17 às 19 horas. É justamente neste intervalo de tempo que mais ocorrem brigas e discussões. "Depois de um dia de trabalho a gente quer chegar logo em casa, mas tem gente que não tem respeito pelos outros", reclama Sandra Mara. Ela diz que certa vez ficou com hematoma no braço por causa do empurra-empurra. "Espero que um dia essa loucura acabe."

O desejo de Sandra Mara ainda está longe de se realizar. Pelo terminal do Pinheirinho passam 5,5% dos 2,1 milhões de passageiros diários da rede integrada. Por isso, na semana passada a Urbs criou uma linha ligando-o ao Capão Raso, o segundo em movimento com 113 mil passageiros por dia. Ainda neste terminal, o ligeirinho Santa Cândida-Pinheirinho o único tubo teria de ser triplicado para dar conta do movimento. A medida deve ser adotada junto com as obras do Eixo Metropolitano, que terão início no ano que vem.

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