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| Foto: SOS Mata Atlântica

Água de 40% dos rios e lagos é ruim ou péssima

É o que mostra o levantamento recente da Fundação SOS Mata Atlântica, realizado entre março de 2013 e fevereiro deste ano em 96 rios, córregos e lagos dos sete estados das Regiões Sul e Sudeste. Apenas 11 % das águas testadas – todas localizadas em áreas protegidas – tiveram sua qualidade considerada boa e 49% mostraram qualidade regular. Todos os quatro rios e córregos do Paraná analisados – Rio Ribeira (Cerro Azul), Rio do Campo (Campo Mourão), Rio Perequê (Pontal do Paraná) e córrego Panambi (Toledo) – estão em situação regular.

Apesar do cenário crítico que o levantamento revela, ele não considera os rios mais importantes do Paraná, como, por exemplo, Iguaçu, Paraná, Paranapanema, Tibagi, Ivaí e Piquiri. Gustavo Veronesi, coordenador de monitoramento da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, explica que a escolha dos cursos de água se baseou no risco de acessibilidade para grupos de medição e na proximidade de comunidades treinadas para a coleta do estudo.

Projeto ConBio busca soluções nas cidades vizinhas a Curitiba

Tentando contrariar as estatísticas da Organização das Nações Unidas, que dizem que 3 bilhões de pessoas podem ficar sem água potável até 2015, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e o Programa HSBC pela Água desenvolvem, desde 2013, o projeto ConBio Água. O objetivo é proteger rios, nascentes e mananciais da bacia do Alto Iguaçu, localizados na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), contando com o envolvimento dos moradores na tarefa. O projeto ainda engatinha – apenas Piraquara aderiu até agora –, mas promete bons resultados.

A coordenadora do ConBio Água, Elenise Sipinski, conta que a urgência do projeto nasceu da constatação de que nascentes e cursos de água da RMC vêm sendo severamente impactados pela expansão urbana e por práticas agrícolas. "E essas águas são fundamentais para o abastecimento público de Curitiba e RMC. Elas representam 61% da oferta de água de todo o potencial da bacia do Alto Iguaçu, volume capaz de abastecer mais de dois milhões de pessoas", sentencia Elenise.

Além disso, a missão paralela do projeto é restaurar a biodiversidade das propriedades que participarem. O "pulo-do-gato" do projeto reside na metodologia de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), introduzida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Ela premia financeiramente proprietários que estejam conservando suas propriedades e adotando boas práticas de uso do solo nas áreas destinadas à produção agropecuária.

"Vale lembrar que não é a fundação que paga esses proprietários. O que fazemos é auxiliar os municípios a achar patrocinadores que façam isso", relata André Ferretti, coordenador de estratégias de conservação da Fundação. Embora não faça parte do projeto ConBio Água, cujo foco recai sobre a RMC, Apucarana, no centro-norte do estado, usa a mesma metodologia e é lembrada como um bom exemplo por Ferretti. Desde 2009, 0,8% do que a Sanepar arrecada no município é depositado em um fundo municipal. E é deste fundo que vem os recursos para premiar financeiramente os proprietários da cidade que conservam suas propriedades.

O Brasil, que detém aproximadamente 12% da água doce do planeta, celebra o Dia Mundial da Água neste 22 de março com o desafio urgente de pensar a gestão dos recursos hídricos em seus mais diversos usos. Frente à demanda crescente por água, o Instituto das Águas do Paraná receberá R$ 1,8 milhão em equipamentos para atualizar pontos de monitoramento de rios e córregos, segundo Paulo Franco, chefe do departamento de hidrometria do Instituto. O investimento faz parte do bolo de R$ 9,54 milhões para a Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade das Águas (RNQA), anunciada quinta-feira pela Agência Nacional das Águas (ANA), em Brasília.

Renata Bley, especialista em recursos hídricos da ANA, explica que o valor foi repartido em proporção ao número de pontos de monitoramento de que cada estado já dispõe. Atualmente, o Paraná conta com 250 pontos. Até 2020, o estado instalará 24 novos. Até o fim de junho, o Instituto das Águas do Paraná receberá nove medidores acústicos de vazão, nove sondas multiparamétricas de qualidade da água, três caminhonetes 4x4 com baú adaptado, três barcos com motor de popa, entre outros equipamentos menores.

Padronização

A rede recém-criada traz consigo a unificação dos padrões de monitoramento e avaliação das qualidades das águas. Hoje, cada estado da Federação faz uso de uma metodologia diferente e isso impossibilita comparações e avaliações nacionais sobre os pontos mais poluídos e quais as causas dessa poluição. "A criação da rede foi fundamental por padronizar de uma vez por todas o monitoramento, a coleta de material e a avaliação laboratorial da qualidade das águas dos rios do Brasil", comemora o diretor de planejamento e controle do uso das águas do Instituto das Águas do Paraná, Norberto Ramon. Segundo a agência, a meta é que até dezembro de 2020 todos os 16 estados signatários da rede tenham um total de 4.452 pontos de monitoramento, seguindo um padrão da União Europeia, cuja recomendação é de 1 ponto de moni toração para cada mil quilômetros quadrados no litoral e 1 ponto a cada 10 mil quilômetros quadrados na região continental. Atualmente, existem apenas 2.500 estações no país. As informações são da ANA.

Apesar da boa notícia, Ramon contesta parte da eficácia da rede. Ele afirma que a maioria dos estados não terá meios de custear a ampliação que a Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade das Águas (RNQA) planeja. "Eles fornecerão novos equipamentos. E isso é ótimo. Mas quem vai custear as diárias dos profissionais que precisam se deslocar em campo, os observadores que precisam monitorar as águas às 7h e às 17h e a manutenção dos novos veículos?", indaga. Segundo a ANA, parte dos R$ 9,54 milhões será destinada a custeios desse tipo, mas o Instituto das Águas do Paraná ainda não sabe se receberá mais para pôr em prática as operações.

Artigo

Água e energia: a opção triunfante do Brasil pela poluição

Por: José Roberto Borghetti e Antonio Ostrensky

Em um tempo em que o fantasma do apagão assombra o já pouco eficiente e bamboleante setor industrial brasileiro e, ainda que em menor grau, assusta os incautos cidadãos comuns, estamos prestes a "comemorar" mais um Dia Mundial da Água.

Justiça seja feita, o Estado Brasileiro faz sua parte para espantar esse fantasma. E faz isso como pode: rezando todos os dias - e com muita fé - para que São Pedro mande o único antídoto que pode, de fato, impedir que esse espectro da falta de planejamento provoque um colapso energético no país, a chuva.

O Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. Entre 80% e 90% da geração elétrica vem de fontes renováveis. Segundo o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil - Informe 2012, da Agência Nacional de Águas (ANA) - o País possui cerca de 1.000 empreendimentos hidrelétricos, sendo que mais de 400 deles são pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Até 2011, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aproximadamente 70% dos 117 mil megawatts (MW) da capacidade instalada da matriz energética brasileira eram gerados por PCH´s, usinas hidrelétricas e centrais de geração hidrelétrica. Entretanto, não adianta muito se produzir energia de forma relativamente limpa (pois há, sim, uma série de impactos advindos da geração de energia hidrelétrica), se a energia produzida é insuficiente para fazer o país crescer.

Contudo, se olharmos por um outro lado e considerarmos toda a matriz energética do Brasil (e não apenas a energia elétrica), veremos que nossa matriz energética está muito longe de ser limpa. Mais de 52% da energia que move o país vem do petróleo e seus derivados (óleo, gasolina, gás...), empurrando a energia elétrica para um modesto terceiro lugar, com apenas 13% do total, ficando atrás da energia gerada através do uso de álcool/biomassa (com 19,3%).

Se você vivia no Brasil antes de 2007, deve ter lido ou ouvido que o governo brasileiro estava investindo pesadamente em biocombustíveis e em fontes energéticas renováveis e limpas. Pelo discurso oficial, o Brasil se tornaria em uma potência energética limpa do terceiro milênio.

Mas, em 2007, Deus, por ser brasileiro, resolveu dar uma mãozinha para o país e então nos deu de presente o pré-sal, rapidamente vendido (sem trocadilhos) como a redenção de todos os problemas do país. O que se viu a partir daí foi uma verdadeira batalha política entre os estados "com pré-sal" e os estados "sem pré-sal" pelos royalties do tesouro recém descoberto.

A face menos perceptível desse fenômeno foi que, como mágica, sumiram os projetos de desenvolvimento tecnológico e de inovação para aprimoramento e popularização de fontes energéticas limpas.

Hoje, apenas em meia dúzia de estados (se tanto) ainda compensa abastecer o carro com álcool. A capacidade instalada para a geração de energia eólica no país mal chega a 1% da geração hidroelétrica e a capacidade de geração de energia solar é virtualmente zero.

Mas, voltando a São Pedro, ele deve ter recebido alguma orientação superior para fechar as torneiras, pois se agora somos um país riquíssimo em petróleo, precisamos usar essa nossa nova riqueza. Com isso, as caras e poluidoras termoelétricas (movidas principalmente a gás, mas também a carvão) precisaram ser acionadas. O resultado, um rombo bilionário nas contas das empresas distribuidoras de energia e uma conta que, mais cedo ou mais tarde, vai ser cobrada do agora riquíssimo consumidor brasileiro – sem falar, é claro, na conta ambiental, mas essa será paga pelos condôminos deste planeta chamado Terra.

O fato é que parece que todo o discurso de sustentabilidade, de geração de energia limpa, de produção de biocombustíveis, era apenas e tão somente discurso, desses com aquela robustez e credibilidade que acompanham todo e qualquer discurso eleitoral.

A realidade, porém, mostra um país sem planejamento estratégico na área de energia; reservatórios superexplorados e minguando, mesmo em um cenário ainda de pré-alterações climáticas globais; usinas eólicas prontas, mas sem entrar em operação porque as linhas de transmissão simplesmente não foram construídas; subsídios insustentáveis nas nossas contas de energia e nos preços dos combustíveis, o que está estrangulando respectivamente as empresas de transmissão de energia e a também a gigante (em pleno processo de implosão) Petrobras. Nesse contexto, fica muito claro que o Brasil optou pelo caminho da poluição e da ineficiência energética.

Mesmo assim, e por incrível que pareça, ainda temos mesmo razões para comemorar o dia Mundial da Água. Em um cenário em que as imagens de pessoas sem água em suas casas, sequer para atender as suas necessidades mais básicas, ameaça se mudar do sertão nordestino para a região abastecida pelo reservatório da Cantareira, na sexta cidade mais populosa do mundo, talvez em breve não tenhamos água sequer para o brinde. Brindemos enquanto é tempo, então: tim tim!!

José Roberto Borghetti é biólogo e autor de diversos livros sobre o tema água, entre eles, "A integração das águas: revelando o verdadeiro Aquífero Guarani". Antonio Ostrensky é oceanólogo e pesquisador. Entre outras coisas, estuda o manejo e uso sustentável dos recursos aquáticos.

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