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A equipe de engenheiros, restauradores e arquitetos que há pouco mais de um mês montou acampamento no Paço Municipal está com a mão na cristaleira. O edifício projetado pelo engenheiro e ex-prefeito de Curitiba, Cândido de Abreu, entre 1914 e 1916, é não só um dos mais requintados exemplares da Belle Époque no Brasil como uma obra complexa. "É um estilo construtivo que não existe mais. Temos de prestar atenção em cada detalhe. Hoje tudo se modernizou. É muito diferente", explica o engenheiro José Geraldo Canhoto, sobre a difícil tarefa de vasculhar pisos centenários e forros frágeis como cristal.

Para que se tenha uma idéia, assim que o teto do hall desabou, a equipe teve de se pôr a catar rosáceas que enfeitavam a cobertura. São verdadeiras relíquias. Em todos os locais há detalhes a serem anotados, e respeitados, sob risco de descaracterizar a construção. Como se trata de um bem tombado, a escadaria e outras áreas são protegidas com papelão e fita crepe, material que deve ser trocado continuamente. Tem de se andar na ponta dos pés.

O art nouveau é um estilo decorativo, rebuscado e imponente. Não lhe faltam vitrais e enfeites à exaustão, sob medida para celebrar o mundo encantado que se acreditava encontrar no século 20. Como se sabe, a Primeira Grande Guerra mostrou que não era bem assim. Mas o Paço Municipal da distante Curitiba sobreviveu a tudo – incluindo à própria cidade em que está.

De sua edificação até 1969 funcionou como prefeitura. Ficou pequena para tanto. De 1974 em diante virou sede do Museu Paranaense, cujo acervo é formado por nada menos do que 320 mil peças. O sonho durou até 2002, quando o MP se mudou para a Praça João Cândido. A partir dessa data, o Paço virou alvo de disputas, além de passagem obrigatória para pichadores. Não bastasse, há mais de uma década perdeu parte da visibilidade que merecia. Ganhou, na parte dos fundos, uma vizinha inoportuna: um quiosque de metal, que atrapalha a leitura do prédio pelo ângulo da Praça Tiradentes.

O Sesc avisa que não tem poder de mexer no mobiliário da área que circunda o Paço, mas confirma a intenção de discutir o restauro e preservação do que está no entorno. Floriculturas, banca de revistas e a própria escultura Maria Lata d’Água, de Zacco Paraná – também vizinha do prédio –, são problemas da prefeitura, de onde o problema saiu. (JCF)

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