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 | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Responsável pelo gerenciamento do transporte coletivo da capital, a Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs) vai completar 50 anos em 2013 com um prejuízo acumulado de R$ 100 milhões. A informação é do novo presidente do órgão, o engenheiro Roberto Gregório da Silva Júnior, professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná, que assumiu o cargo no início deste ano.

Nos últimos cinco anos, a Urbs acumulou prejuízos que somam R$ 11,3 milhões. Em 2011, o balanço da empresa foi positivo, com lucro de R$ 9,4 milhões, mas no ano passado voltou a ficar no vermelho. A falta de transparência em relação às ações do órgão, alvo de críticas permanentes, pode acabar. A palavra de ordem da nova gestão é transparência total.

Qual sua avaliação sobre a situação que encontrou na Urbs?

Devemos chegar, no exercício de 2012, a cerca de R$ 100 milhões em prejuízos acumulados, mas ainda não temos esses números definidos. A Urbs opera com um fluxo de caixa problemático porque a margem de contribuição é negativa nos diversos serviços e operações que faz. A empresa não tem conseguido arrecadar o suficiente para suas atividades. Há um desequilíbrio entre receitas e custos. Como medida emergencial e imediata, estamos trabalhando em um projeto de reestruturação organizacional e de caracterização mais precisa de quais são as operações que a Urbs tem que se dedicar.

Quais operações devem ter prioridade?

Temos um negócio mais concentrado, que é o transporte coletivo, mas também somos responsáveis pelo gerenciamento de estacionamento [subterrâneo, como na Praça Rui Barbosa], locação de espaços e a administração da Rodoferroviária. Temos que potencializar algumas receitas para que a Urbs possa efetivamente prestar o serviço de qualidade que a sociedade espera dela. Para fazer isso, vamos trabalhar no tripé inovação-qualidade-sustentabilidade.

Qual é o custo real do transporte em Curitiba? Chega aos R$ 3,10 anunciados pelo Sindicato das Empresas de Ônibus (Setransp)?

A gente trabalha com fatos e dados, e, por enquanto, não temos esses dados. Eles [o Setransp] lançaram uma nota e mandaram uma carta para a Urbs. Já pedi um estudo, temos uma série de questionamentos, mas não recebi nenhuma resposta ainda.

De quanto será o reajuste da tarifa em fevereiro?

Há duas variáveis importantes: subsídio e reajuste. Os demais fatores são frutos de um edital de licitação. Qualquer questionamento que implique na alteração dessas regras não pode ser feito de forma unilateral. Para a negociação com os trabalhadores do transporte coletivo, por força do contrato de concessão, o teto [de reajuste] é o INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor]. Qualquer valor acima demanda uma decisão em juízo. E tem a questão do acordo judicial em que a Urbs fez uma alteração na tarifa técnica em agosto do ano passado. Em função disso, foi acertado que, caso o convênio do subsídio com o governo estadual não fosse mantido, a responsabilidade do pagamento dessa diferença seria da Comec [Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba, que é um órgão do governo do estado].

O Setransp questiona as planilhas de custo com duas ações na Justiça contra a Urbs. Por que essas planilhas não são amplamente divulgadas? Qual é a situação real das contas?

No nosso entendimento, as ações são improcedentes, mas estamos abertos para discutir e analisar. Propus uma trégua, inclusive judicial, para que a gente possa analisar as questões com a devida serenidade que o assunto exige. Se eles falam que estão tendo prejuízo, é importante saber que até hoje não recebemos os padrões de contabilidade que o próprio edital estabeleceu para fazer uma aferição da real situação econômica-financeira das empresas. O que a gente tem são notícias isoladas, depoimentos. A palavra de ordem aqui é transparência total: recebendo essas informações e sendo público, vamos divulgar para que não só o poder concedente trate do assunto, mas a sociedade tenha condições de acompanhar.

Houve alguma revisão de como a planilha de gastos é calculada?

Em função da segurança jurídica, a gente procura manter exatamente as condições que foram pactuadas no edital, e não estamos falando de um passado tão distante – é coisa de três anos atrás. Vamos discutir questões de ganho de produtividade, que podem ser obtidos com uma nova tecnologia de pneus, que duram mais; de consumo de combustível, que não é tão elevado; de otimização na própria locação de mão de obra. Se o transporte for mais barato e de melhor qualidade, ele tende a ser melhor utilizado. É bom para todo mundo.

Como podemos saber se os itens previstos no edital de licitação estão sendo cumpridos? Os indicadores de qualidade, que gerariam multas em caso de descumprimento, nunca foram divulgados?

Vamos começar a publicar isso. Nós pretendemos colocar essa questão na mesa, porque um serviço público tem de seguir o que chamamos de atributos do serviço adequado. Tem uma série de parâmetros de qualidade que precisa efetivamente ser implantada e isso tem sido tratado de forma muito periférica.

Sem subsídio do governo estadual, é viável manter o transporte metropolitano integrado por uma tarifa única?

Rede integrada com tarifa única é uma conquista da sociedade que nós devemos fazer todo o esforço para manter. Essa é a diretriz que estamos perseguindo, por isso a gente quer esgotar de todas as maneiras possíveis, todas as conversas, entendimentos de forma a construir soluções conjuntas em prol desse benefício. Estão sendo realizados estudos para identificar novos possíveis modelos de tarifa.

Há previsão do impacto que o fim da dupla função (motorista que atua como cobrador ao mesmo tempo) causará na tarifa?

Os pareceres técnicos que vi na Urbs foram contrários e fui informado que o sindicato das empresas ajuizou uma ação com antecipação de tutela dessa questão. Acredito que nos próximos dias podemos ter alguma definição sobre esse assunto em caráter preliminar.

Há anos o sistema de Curitiba registra queda no número de usuários. Como reverter essa situação?

Preço e qualidade tendem a estimular a recuperação do usuário de transporte coletivo. Qual o problema que acontece hoje: em horários de pico, o trânsito em Curitiba tem diminuído sua velocidade média e, consequentemente, diminui a do transporte coletivo, apesar das vias expressas, porque em alguns pontos temos cruzamentos, situações particulares. Vamos trabalhar no estudo de faixas exclusivas, ampliação dessas faixas, de forma a garantir um padrão mínimo de velocidade do transporte coletivo. De outro lado, melhorias nos embarques para dar mais agilidade.

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