• Carregando...
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita). | Divulgação
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita).| Foto: Divulgação

Sustentabilidade virou discurso fashion. Desde que a São Paulo Fashion Week resolveu falar de produção e consumo conscientes, esse meio vai tentando substituir a imagem associada à futilidade por uma conduta mais responsável. Na prática, isso significa o desenvolvimento de tecnologias e processos de tingimento menos impactantes ao meio ambiente, valorização de sistemas de produção e cooperativas comprometidas com a natureza e a divulgação desse pensamento que, se ainda parece muito dissonante dos valores do mundo fashion, provavelmente seguirá a regra das outras novidades da moda. É a história da água mole em pedra dura... Foi assim com as ombreiras, os cabelos repicados e os formatos balonês.

E os estilistas estão caprichando no marketing do sustentável. Aliás, eles parecem ter mergulhado tanto no tema que andam assustados com as previsões para o planeta. Ou que outra explicação teria um verão (lembrem-se que trata-se da estação com a cara do Brasil, muitos biquínis e pele à mostra) cheio de preto, alfaiataria desconstruída e roupa séria. Só pode ser o medo do El Nino e o palpite de que as estações não serão mais definidas, o frio pode ser que nem seja tão frio e nem o verão tão quente. Os grandes destaques da São Paulo Fashion Week, que prossegue na Bienal em São Paulo até terça-feira, são as coleções que tomaram por base a dita alfaiataria.

O mestre, pelo menos até agora, é Alexandre Herchcovitch, o estilista multimídia de três coleções – as duas que levam o seu nome (masculina e feminina) e a direção de criação da Cori. A mulher de Herchcovitch vai para a briga, não se importa em usar roupa com cara de indumentária masculina, mas se diverte ao desconstruir clássicos e revelar pedacinhos do corpo para exercer a sensualidade. Entre as propostas do estilista: casacas transformadas, calças bem cortadas, camisaria, shortinhos, vestidos acinturados e afins em tecido nobre.

Já o homem cumpre a missão de aprender com os padrões para então renegá-los e optar por roupas que ressaltam outra aposta fashion – a singularidade. Dá para ser anjo negro – com direito a correntes, couro estampado e penachos – ou anjo branco. É só uma questão de estilo. Na Cori, Herchcovitch manteve o bom trabalho de costura e os tecidos nobres, só que adequou a palheta de cores à estética do cangaço, que inspirou a coleção.

Desses três desfiles vem a primeira lição do verão. A roupa tem que acompanhar as linhas do corpo. Não precisa ser justa e nem larga demais.

Isso pode ser uma contradição com o que foi visto durante a semana de moda carioca – o Fashion Rio, que antecedeu à SPFW –, que elegeu os balonês e os volumes extras como estética primordial. A moda da SPFW é mais ajuizada, veste melhor e deixa quem quer que seja mais bonito. O que não deixa de ser um apelo comercial e tanto... Os homens também estão com a silhueta mais ajustada. Tem curto – curtíssimo mesmo – comprimentos medianos – pelos joelhos –, e até espaço para os longos, além das cinturas altas e marcadas.

Partindo desta base, cada estilista deu seu toque, ora minimalista – como foi o caso da Maria Bonita, que levou para a passarela vestidos levemente acinturados, capinhas de chuva e modelos chapiscando – ora romantizado, tal qual Isabela Capeto, que brincou com cores, miçangas, metalizados e texturas de tecidos. A Zigfreda, por sua vez, veio com os vestidinhos multicoloridos, cores luminosas e muito senso de humor. Quanto às cores, há espaço para tudo, desde os oitentistas pink, azul royal e os cítricos laranja, amarelo e verde, quanto para os dramáticos preto, branco e vermelho, além das tonalidades suaves, como os off-whites, areia, beges, rosados e metalizados. As estampas, desta vez, estão mais contidas, normalmente em dois tons, com referências animais e tribais. No mais, é abusar dos acessórios gigantescos (a dica vale para bolsas, óculos, saltos, bincos, colares e pulseiras), colocar um chapéu na cebeça e rezar para o sol sair... Mesmo com – e apesar – do efeito estufa.

* * * * *

A jornalista viajou a convite do evento.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]