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Desde a manhã de ontem, Curitiba é um dos braços internacionais da Docomomo, ONG holandesa criada em 1988 para preservar a arquitetura moderna. Em encontro que vai até sábado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), membros brasileiros da organização falarão a uma platéia de estudantes, arquitetos, professores universitários e profissionais da área sobre o movimento que ganhou impulso em 2000. "Ao entrarmos no século 21 a pergunta era o que o século 20 teria deixado de herança. Um desses resíduos é a arquitetura modernista. Precisamos incorporá-la", comenta o arquieto Hugo Segawa, 50 anos, da Universidade de São Paulo (USP) , um dos pioneiros da Docomomo no Brasil.

Docomomo significa Documentação e Conservação da Arquitetura do Movimento Moderno. Contabiliza 200 participantes. No Brasil, onde está desde 1995, são 80. Na Holanda, onde nasceu, são 13.

Em torno do grupo organizam-se formadores de opinião, com poder para gerar políticas públicas. Curitiba é um exemplo. Desde 1998, quando um grupo de arquitetos publicou na Gazeta do Povo um manifesto de defesa da arquitetura moderna, o assunto saiu da sombra.

Há pouco mais de um ano, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), em parceria com os membros do Docomomo, listou 150 edificações modernistas. Atualmente, 30 são consideradas Unidades de Interesse de Preservação (UIPs) e passaram a ser monitoradas pelo município, que converte benefícios aos proprietários.

O assunto, contudo, permanece cercado de cuidados. É comum os docomomos terem de suplicar providências ao Ministério Público. Duas construções foram destruídas nos últimos anos – uma casa projetada pelo arquiteto Lolô Cornelsen e outra por Carlos Bratke. E há sempre o temor de que as propostas de preservação sejam respondidas com demolição.

O cabo-de-guerra com o mercado imobiliário não tem impedido que a defesa do patrimônio modernista vire uma causa dos pesquisadores. No encontro da PUCPR, estão sendo apresentados cerca de 30 trabalhos acadêmicos com o modernismo como tema.

Na organização, palavra de ordem é ajudar os profissionais e interessados a identificarem elementos arquitetônicos modernos. "Até porque a maior parte das cidades brasileiras é moderna. Congonhas do Campo, Diamantina e Ouro Preto são exceções", compara o arquiteto Salvador Gnoato, da PUCPR.

Para Segawa, mais do que resistência do poder público e de particulares, o que existe é desconhecimento. "Um prédio recente pode ser tão importante quanto um velho. Como não fazemos essa associação, a ameaça ao patrimônio moderno é evidente."

Londrina

Em Londrina, cidade erguida nos anos 30, começam a surgir programas de preservação. Arquitetos da Universidade Estadual de Londrina (Uel), Unifil e Unopar trabalham há cinco anos na identificação do patrimônio local – que inclui sete residências assinadas pelo curitibano Villanova Artigas, um dos papas do movimento, ao lado de Oscar Niemeyer. Duas unidades estão preservadas. "Há uma cultura de que o novo é melhor. Londrina se renovou com rapidez. Mesmo novos, perdemos muito", comenta a arquiteta Juliana Suzuki, da Unifil.

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