Policiais tentam controlar situação na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II)| Foto: Ciciro Back / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Há duas semanas, presos temiam rebelião na PEP II

Presos da PEP II haviam assinado uma carta em que relataram o temor de uma rebelião na unidade alguns dias depois do caso na PEC. O documento foi assinado por 22 detentos pertencentes a ala "seguro", onde são abrigados presos que cometeram crimes como estupro ou homicídio contra crianças, mas o local também é ocupado por advogados, professores e agentes penitenciários que não cumprem pena, necessariamente, por esses tipos de crimes.

A movimentação seria comandada por presos do Primeiro Comando da Capital (PCC). O temor dos apenados, de acordo com o documento, era que ocorresse uma carnificina igual ao que foi observada na unidade de Cascavel. Os presos relataram na carta que temiam estar "em um corredor da morte, podendo ser decapitados a qualquer momento".

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Cerca de 160 presos rebelados na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP-II), na Região Metropolitana de Curitiba, negociam a liberação de dois agentes penitenciários mantidos reféns desde as 16h30 desta sexta-feira (12). Os detentos são do bloco 3 da penitenciária e dominam ao menos duas galerias do local. O número de presos envolvidos no motim foi repassado pelo defensor público Henrique Camargo Cardoso. Ele apontou que ao menos sete detentos do chamado seguro (local onde ficam ex-policiais condenados e estupradores, por exemplo) também estão sob ameaças. Há ao menos um ferido.

A Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) confirmou oficialmente que havia cerca de 40 amotinados. os presos dizem que detêm o poder sobre 5 galerias, mas a polícia não pôde entrar no local para saber de fato como está a situação. O bloco 3, com cerca de 300 detentos, fica próximo da rua. De fora é possível observar que os gritos e a movimentação ocorrem apenas nesse prédio. Colchões sendo incendiados também podem ser vistos em alguns pontos do prédio.

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Na PEP II há ainda outros dois blocos (1 e 2), nos quais a situação estava normal, até o fim da noite desta sexta. A capacidade total da unidade é de 1.108 presos. Até esta quinta-feira (11), data da última atualização na Central de Vagas da Seju, havia 1.110 detentos no local.

O ferido era um preso que estava feito refém pelos rebelados. Em um momento de distração, o refém conseguiu fugir e pulou um muro de cerca de 10 metros de altura. A perna dele ficou ferida, mas ele conseguiu andar até o ponto em que foi resgatado por policiais e levado ao Complexo Médico Penal (CPM) para ser atendido.

Outra preocupação dos policiais era com o presos do chamado seguro, onde ficam detentos como ex-policiais condenados e estupradores. Pelo menos dez presos desse local foram transferidos para o CPM por uma porta alternativa. Eles não estariam feridos, conforme as informações da Seju. As galerias são separadas apenas por grades e os detentos do seguro estavam sendo ameaçados e hostilizados.

O defensor público Henrique Camargo Cardoso disse que há ainda pelo menos sete detentos do seguro sendo ameaçados por presos rebelados. Por volta da 0h30 deste sábado (13), a situação estava aparentemente mais calma, segundo ele. "Mantém-se um certo diálogo, mas talvez se prolongue. As negociações devem ser retomadas [com mais intensidade] ao amanhecer."

A Seju confirmou que o secretário de Segurança Pública, Leon Grupenmacher e a secretária de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Maria Thereza Uille Gomes, foram à PEP II para acompanhar as negociações. Mas apenas a Polícia Militar, por meio do Batalhão de Operações Especiais (Bope) é quem faz as conversas com os presos.

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As reivindicações são pela troca da diretoria, que seria muito dura com os internos, e por transferências tanto para outros locais do Paraná quando para outros estados. Os presos amotinados descartam integrarem qualquer facção criminosa, dizendo que são apenas um grupo isolado em busca de melhorias nas condições do presídio.

A princípio, o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) havia informado que seriam três funcionários reféns, mas a informação foi corrigida pelo órgão por volta das 18h45.

Sindarspen diz que presos dominam todo o bloco 3

Antony Johnson, diretor do Sindarspen, disse, por volta das 22h30, que todo o bloco 3 da PEP II estava dominada por presos. Ele citou que presos atearam fogo em colchões e que o clima era tenso em frente ao presídio. "Não nos passaram informações, fui tentar saber dos agentes e só me disseram que estava tudo tomado."

Rebelião durante a tarde

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Uma equipe da Seju e membros da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foram para aa unidade logo após o início do motim para acompanhar a negociação com os presos. Ainda durante a tarde, o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) manifestou preocupação em relação à condição dos reféns. "Eles [os detentos] querem a presença de um juiz para tratar das condições da unidade", disse o diretor do Sindarspen, Antony Johnson.

Segundo a advogada Isabel Kugler Mendes, da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, a rebelião ainda não estava controlada até o início da noite. Segundo ela, os detentos ganharam uma passarela e ameaçaram jogar um agente de lá. "A situação [rebelião] ainda está em gestação. Os presos ameaçam invadir outras galerias. A polícia ainda não teve tempo de dominar", contou Isabel, por volta das 18 horas.

Apesar de ser dia de visita na unidade, informações preliminares dão conta de que nenhum familiar de preso ficou retido dentro da PEP-II.

Investigação

O governador Beto Richa (PSDB) disse suspeitar de uma ação orquestrada sobre a onda de rebeliões no estado, e que determinou que a polícia investigue as causas das rebeliões. "Nossa polícia civil já está investigando o que está acontecendo nessas rebeliões, porque me parece que é algo orquestrado. Já tinha sido ouvido em Cascavel que seriam desencadeadas mais três ou quatro rebeliões nos próximos dias. Estamos atentos e a polícia está em [estado de] alerta", disse. Richa negou, também, que o excesso de presidiários tenha causado essas rebeliões. "Tinhamos sobra de vagas em Cruzeiro do Oeste e Cascavel", disse.

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Outros casos

Esta é a terceira revolta de presos no Paraná desde a rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC), que terminou com saldo de cinco mortos e muita destruição no presídio do Oeste do estado. Na ocasião, cerca de 800 presos foram transferidos para outras unidades prisionais do Paraná. A diretoria da PEC foi afastada e uma investigação foi iniciada para apurar as causas e possíveis facilitações da rebelião.

A Cadeia Pública de Guarapuava, no Centro-Sul do estado, foi palco de um motim realizado por 14 detentos, que mantiveram três agentes penitenciários reféns no local. Eles reclamavam das condições de higiene e alimentação da cadeia. O motim terminou após 9 horas, com garantia de transferências.

Na quarta-feira (10), duas pessoas, sendo um preso e um agente penitenciário, foram feitos reféns na Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO). A rebelião terminou após a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) garantir a transferência de 77 detentos. A rebelião terminou na quinta-feira (11).