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Bastidores - Queda teria sido durante vôo entre Foz e Brasília

A queda do ministro Silas Rondeau, oficializada ontem, já teria ocorrido durante a viagem de volta da comitiva presidencial ao Paraguai e Foz do Iguaçu, segunda-feira à noite. Durante o vôo, Rondeau foi chamado para uma reunião com o presidente Lula e os ministros paranaenses Paulo Bernardo (Planejamento) e Reinhold Stephanes (Agricultura). A discussão durou quase todo o trajeto entre Foz e Brasília, de 1h40.

Estavam de "carona" no avião três deputados federais paranaenses que compõem a base aliada – André Vargas (PT), Rodrigo Rocha Loures (PMDB) e Fernando Giacobo (PR). Os dois primeiros confirmam que o clima de apreensão durante a viagem. Rondeau, segundo eles, já teria cara de "demitido".

Ainda em Foz do Iguaçu, já teriam começado os contatos para conduzir outro paranaense para o cargo, o presidente de Itaipu Binacional, Jorge Samek. O petista, entretanto, teria descartado a hipótese de cara. Segundo parlamentares da bancada do Paraná, a mudança poderia atrapalhar os planos de Samek em uma possível disputa ao Palácio Iguaçu, em 2010. A tendência, entretanto, é que a vaga fique com um nome do PMDB, possivelmente indicado por lideranças do partido no Senado.

A queda de Rondeau também teve um capítulo na base aérea de Brasília. Em terra, por volta das 23h10, o ministro da Justiça, Tarso Genro, esperava pelo ministro e por Lula. Os três, mais a primeira-dama Marisa, ficaram reunidos por mais cerca de 30 minutos na sala presidencial do aeroporto. Poucas horas antes, Genro dava declarações de que o colega de governo era realmente citado no inquérito da Polícia Federal.

André Gonçalves, correspondente

Brasília – Três dias depois de ser apontado pela Polícia Federal como suspeito de haver recebido, dentro do próprio ministério, R$ 100 mil de propina da Construtora Gautama o ministro Silas Rondeau, das Minas e Energia, entregou ontem, por volta das 20h15, a carta de demissão ao presidente Lula. Na carta em que Rondeau pediu demissão, o ex-ministro diz que deixou o cargo para se defender e que ficará à disposição do presidente.

Ele foi pressionado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) a se afastar, visto que não teria como se defender ocupando o cargo de ministro. Sarney é seu principal padrinho político. Ao saber que o PT está de olho no Ministério de Minas e Energia, Sarney apresentou como candidatos à sucessão de Rondeau os nomes de José Antônio Muniz, ex-presidente da Eletronorte, hoje na iniciativa privada, e de Astrogildo Quental, atual diretor Econômico e Financeiro da empresa.

Rondeau reuniu- se ontem à tarde com o presidente Lula, das 15h50 às 17 horas, mas o encontro não foi conclusivo. Lula avisou-o de que pretendia continuar as conversas mais tarde. O primeiro encontro foi interrompido para que o presidente se reunisse com o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, para tratar do futuro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na área social.

Sarney apontou para o presidente Lula e para Rondeau duas saídas. Na primeira, o ministro pediria licença do cargo e tentaria provar a inocência fora do governo; na segunda, simplesmente deixaria o cargo.

Em relação à licença, Sarney lembrou a Rondeau e a Lula que, em 1993, apontado pela CPI dos Anões do Orçamento como suspeito de desvio de verbas públicas, Henrique Hargreaves, então ministro da Casa Civil do governo de Itamar Franco, se licenciou e respondeu às acusações de fora do governo. Provou sua inocência e voltou ao cargo.

O próprio Sarney se empenhou muito para que a saída fosse esta. Assim que Rondeau desembarcou em Brasília, na noite de segunda-feira, depois de dois dias de viagem com o presidente Lula pelo Paraguai e Foz de Iguaçu, foi se reunir com o senador, na casa deste, no Lago Sul. O encontro entrou pela madrugada. De acordo com uma testemunha, Rondeau jurou a Sarney que é inocente. E mais: que foi ele mesmo quem forneceu à Polícia Federal a fita com o registro da entrada no prédio do Ministério de Fátima Palmeira, representante da Gautama, que se encontrou com Ivo Almeida Costa, assessor especial do ministro. Nesse encontro, Fátima teria entregue os R$ 100 mil.

Situação absurda

Rondeau disse a Sarney que acha a situação absurda, visto que a PF está usando contra ele material que o próprio repassou à corporação, a pedido desta. O assessor Ivo Costa, que recebeu Fátima na entrada privativa do ministro, foi preso pela Operação Navalha, da PF, que desbaratou um esquema acusado de desvio de dinheiro público e de fraudes em licitações públicas. O assessor especial depôs ontem no Superior Tribunal de Justiça (STJ) – foi solto ao final do depoimento.

Depois de se reunir pela manhã com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar da crise com o ministro, Sarney foi ao presidente Lula, no Palácio do Planalto. Levou consigo Calheiros. Os dois almoçaram com Lula. Falaram do problema vivido por Rondeau e disseram que uma saída possível seria a da licença. Ao deixar o gabinete de Lula, Sarney comentou que se o ministro tivesse sorte, a solução seria a licença. Mas não obteve a garantia do presidente. O governo estava dividido. Havia os que defendiam a demissão e os que defendiam a licença.

Interino

O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Nélson Hubner, vai assumir a pasta interinamente até o presidente Lula definir quem será o substituto de Silas Rondeau no cargo. Hubner tem perfil técnico e não deve permanecer na pasta por muito tempo, uma vez que o PMDB reivindica manter o controle do ministério.

Os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB- AP), que indicaram Rondeau para o cargo, não estão dispostos a abrir mão da pasta.

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