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Trabalhar pela inclusão dos portadores de necessidades especiais na igreja. Esse será o principal desafio do primeiro padre nascido com surdez profunda do Paraná – e segundo do Brasil –, que foi ordenado neste domingo na Igreja de São Francisco de Paula, em Curitiba. Wilson Czaia, 37 anos, é curitibano e recebeu o título em cerimônia presidida pelo arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom Moacyr Vitti.

Mais que uma vitória pessoal, Czaia acredita que sua conquista serve de exemplo para portadores de necessidades especiais que queiram seguir o sacerdócio. "Pude ajudar a provar que os surdos têm capacidade. Agora vou trabalhar pela inclusão deles na Igreja", explica.

O arcebispo metropolitano de Curitiba afirma que a ordenação do padre ajudará a atrair a atenção de um público diferenciado. "Essa é uma conquista importante para o Brasil todo. Ela nos auxiliará a atingir os irmãos deficientes na sua própria linguagem", acredita Dom Moacyr.

A cerimônia, que lotou a igreja, foi acompanhada por caravanas de pastorais de surdos de diversas cidades do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Fiéis que como a deficiente auditiva e visual Suely Flores viajaram quilômetros para prestigiar o novo sacerdote. "Vim do Rio de Janeiro para viver esse momento. Para mim, é um prazer muito grande saber que agora temos um padre que nos representa", disse Suely.

História de fé

Czaia, que havia sido ordenado diácono em junho, iniciou sua trajetória na igreja em 1999, atuando na Pastoral dos Surdos de Curitiba. Em 2000, ele passou a morar em um seminário, recebendo o mesmo tratamento de outros seminaristas. De diferente, apenas as adaptações a sua necessidade especial.

Além de dirigir, o padre domina computação, comunica-se por linguagem dos sinais (Libras) e leitura labial e conversa com fiéis via internet e em mensagens de celular. Ele também ministra cursos de batismo e Libras para quem pretende trabalhar com deficientes auditivos.

Antes de assumir as missas de sábado na Paróquia de São Francisco de Paula, o padre deve visitar algumas cidades paranaenses e a capital carioca. As celebrações, garante ele, não serão exclusivas para quem não escuta. "Haverá sempre um intérprete e qualquer pessoa, ouvinte ou não, está convidada", afirma Czaia. Ele diz estar preparado para vencer o preconceito. "Muitas pessoas confundem deficiência com incapacidade, mas uma missa não deixa de ser missa porque um surdo vai rezá-la", finaliza.

O primeiro padre nascido surdo ordenado no Brasil foi o monsenhor Vicente Burnier, que se tornou sacerdote em 1951, em Juiz de Fora (MG). No mundo todo, existem padres com essa deficiência apenas nos Estados Unidos, Coréia e África do Sul, além do Brasil.

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