• Carregando...
Vídeo: | RPC TV
Vídeo:| Foto: RPC TV

Se tem uma coisa que todo mundo faz, mas poucos tem a coragem de comentar é cocô. Entre as mulheres o tabu é mais forte ainda. A maioria só se sente confortável no banheiro de casa, e se a vontade surge em algum lugar estranho, o reflexo na maior parte das vezes é segurar. Parece um comportamento inofensivo, quem sabe até higiênico, mas se ocorre com freqüência, as conseqüências para o funcionamento do intestino podem ser graves. Segurar a vontade de ir ao banheiro faz com que o organismo se acostume a esperar uma quantidade cada vez maior de fezes para dar o alerta, e quanto mais elas se acumulam maiores os problemas. Os incômodos vão desde a sensação de barriga inchada, mau humor, náusea, dores de cabeça até alterações na pele. A longo prazo, o problema pode levar a hemorróidas e até ao câncer do colo retal.

As estatísticas apontam que cerca de 20% da população brasileira sofre com problemas de intestino preso. A maior parte é de mulheres e ao contrário do que se imagina a explicação não está na biologia, mas sim nos costumes. De acordo com a gastroenterologista do Hospital de Clínicas Heda Maria Amarante, a origem do problema é sociocultural. "As meninas aprendem desde pequenas que evacuar é algo feio, nojento, e por isso tendem a inibir a vontade", explica. Além disso, as mães ensinam desde cedo que as garotas devem evitar usar banheiros públicos por questões de higiene e saúde.

Embora as dificuldades para ir ao banheiro atormentem milhões de mulheres, as soluções para regularizar o intestino são bastante simples e na maior parte dos casos se resumem a mudança de hábitos. Manter uma dieta rica em frutas e verduras, praticar exercícios físicos e educar o organismo para que siga uma rotina são as principais atitudes a serem tomadas por quem não quer fazer parte da multidão de "enfezadas".

Alimentação

Embora tenha um papel importante, o hábito de evitar a evacuação não é o único causador do intestino preso. A alimentação é determinante. Manter uma dieta rica em fibras e beber bastante água são medidas básicas para regular o funcionamento do intestino. Alimentos muito gordurosos, como fast-food e comidas industrializadas, costumam ser mais processados e pobres em fibras, portanto devem ser evitados.

De acordo com a professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Eliana Schieferdecker, existem dois grupos de alimentos que auxiliam no bom funcionamento do organismo: os pré-bióticos e os pró-bióticos.

Os pré-bióticos são as chamadas fibras, que podem ser divididas em dois tipos: solúveis e insolúveis. Cada uma delas age de maneira diferente no intestino. As fibras solúveis aumentam o bolo fecal enquanto as insolúveis facilitam o trânsito intestinal. "A maioria das pessoas não sabe dessa diferença. Se alguém ingerir apenas fibras solúveis e não beber água, o problema pode ser ainda pior", afirma. As fibras solúveis podem ser encontradas em alimentos como farelo de aveia, feijão, grão-de-bico, fava, lentilha e soja, ou ainda em frutas com casca ou com bagaço como laranja, mamão, pêra, uva, figo, ameixa fresca, mexerica, abacaxi, banana-prata, entre outras. Já as insolúveis estão em cascas e cereais integrais, farelo de trigo, alface, acelga, agrião, aipo, escarola, espinafre, nabo, repolho, rabanete, cenoura, mostarda, e pimentão, por exemplo.

Os alimentos chamados de pró-bióticos são aqueles que contêm microorganismos vivos, como os leites fermentados e iogurtes. Segundo a nutricionista, não há problema algum em consumir diariamente esses alimentos. "Não há o risco do organismo ficar ‘viciado’. Mas é importante observar sempre o prazo de validade. Esses microorganismos têm um tempo de vida determinado", alerta. Segundo a nutricionista, recomenda-se a ingestão de 20 gramas a 30 gramas de fibras por dia.

Exercícios físicos

O sedentarismo também é uma das causas do intestino preso. A fisioterapeuta e professora da disciplina de Anatomia do Centro Universitário Positivo (UnicenP), Walquiria Zonta, explica que qualquer tipo de exercício ajuda a aumentar o ritmo metabólico o organismo. Os mais indicados são exercícios respiratórios. "Quando você faz um exercício, a respiração altera os movimentos do diafragma, que fica logo acima de uma parte do intestino chamada colo transverso. A movimentação do diafragma estimula o intestino e facilita o trânsito das fezes", explica. Segundo a fisioterapeuta, uma simples caminhada após as refeições já ajuda.

Outra alternativa são exercícios abdominais. Deitado, com as pernas flexionadas, deve-se levar a cabeça em direção ao abdome e os joelhos em direção ao peito. Além disso, Walquiria explica que massagens na região do abdome podem auxiliar no trânsito intestinal. Também deitada, com as pernas flexionadas, a pessoa deve pressionar com as mãos o abdome percorrendo todo o trajeto do intestino.

Rotina

Estabelecer uma rotina e treinar o organismo para funcionar sempre no mesmo horário também é importante. Uma dica é ir ao banheiro 15 minutos após o café da manhã e mesmo não tendo vontade, ficar sentada no vaso por pelo menos 10 minutos. Para se distrair vale uma revista ou um livro. Nos primeiros dias pode não funcionar, mas com o tempo o organismo entende que aquele é o horário certo para evacuar.

Hormônios

Embora o senso comum diga que os hormônios femininos são os responsáveis pelo mau funcionamento do intestino, o presidente da Sociedade Paranaense de Ginecologia, Fernando Oliveira Júnior, diz que não há relação. "Apenas durante a gravidez, quando há maior prevalência de progesterona no organismo, o metabolismo tende a ficar mais lento e por conta disso o intestino pode ficar mais preso", esclarece.

Laxantes

Só em caso de emergência. A gastroenterologista e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Lorete Kotze, explica que o uso crônico desses medicamentos pode fazer com que o organismo se acostume com o estímulo e passe a funcionar apenas com o uso do remédio. "Nem chás devem ser usados. O ideal é controlar apenas com a alimentação", afirma.

Outras doenças

Lorete alerta ainda sobre a importância de fazer uma investigação nos casos em que apenas a mudança de hábitos não resolve o problema. Segundo ela, alguns medicamentos têm como efeito colateral a obstipação. "Outra coisa que precisa ser checada é se a pessoa não tem hipotireoidismo, por exemplo. Nesses casos, um dos sintomas é a maior lentidão do metabolismo", afirma.

Psicológico

Para a psicóloga infantil especializada em psicologia do corpo, Cláudia Santos, o intestino preso pode ser algo que tem origem ainda na infância. Segundo ela, é importante que na fase em que a criança está aprendendo a usar o banheiro os pais tratem o assunto como algo natural. "Tem pais que fazem a maior festa quando a criança faz cocô. Ficam naquela de dar tchau para o cocô. Isso não é recomendável. A criança tem de encarar com naturalidade, nem com festa, mas também nunca com nojo. Falar que é feio pode fazer com que ela bloqueie o ato de evacuar", afirma. Segundo ela, essa postura irá ajudar futuramente para que a criança, principalmente a menina, não sofra com esse tipo de problema.

E viva o iogurte

Depois de fazer dos laxantes amigos inseparáveis, a analista de atendimento Ana Helena Assunção tem hoje a geladeira cheia de iogurtes. Ana almoça fora de casa todos os dias. Por conta disso, não cuidava muito da alimentação. O resultado se refletia em quase uma semana longe do banheiro. "Ficava estufada, mau humorada", conta. Antes de decidir procurar ajuda médica, Ana chegou ao extremo de tomar laxantes todos os dias. "Chegou uma hora que percebi que precisava parar", diz. O médico sugeriu então que ela incluísse na alimentação mais frutas, verduras e outros alimentos fontes de fibras. "Como eu não gosto muito de grãos, ele sugeriu os iogurtes. Agora tomo todos os dias. Na compra semanal do mercado, não podem faltar", conta.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]