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Em uma ensolarada tarde de segunda-feira, a família posa para fotos com o mar às costas. Simone Gomes, 43 anos, e os filhos Fernanda, 16, e Rafael Passoni, 11, decidiram aproveitar as férias de julho para fugir da agitação de Curitiba e descansar na praia. O mar que serve como pano de fundo é o que banha Camboriú, no litoral de Santa Catarina. "Nem conheço direito as praias do Paraná", diz Simone. "Aqui, temos mais lazer e opções de comércio."

Simone, Fernanda e Rafael não são exceções: seja durante as férias de julho, seja durante a temporada de verão, é grande o movimento de carros com placas de cidades paranaenses rumo ao estado vizinho. Não são apenas as famosas belezas naturais do litoral catarinense as responsáveis por este êxodo. Trata-se principalmente de uma questão de infra-estrutura.

Sem areia

Um dos principais problemas do litoral paranaense não exige muito esforço para ser detectado, e também não é novo. Basta uma caminhada pelo calçadão de Caiobá e pela praia de Matinhos. Lá, o mar avança a cada dia, derrubando o que encontra pela frente – problema recorrente ano a ano. Agora, o governo do estado promete utilizar a areia retirada do Canal da Galheta, que dá acesso à Baía de Paranaguá, para resolver a questão. Só que a licitação para a dragagem do canal foi feita com um preço muito baixo, o que obrigou a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) a refazer o edital. Ainda não há previsão para o início das obras.

O resultado da falta de ação é uma paisagem que beira a desolação: em Matinhos, a faixa de areia chega a sumir durante as marés altas; em Caiobá, grandes nacos do calçadão já não existem mais. O prefeito de Matinhos, Francisco Carlim dos Santos, estima que a recuperação da orla poderia ser feita em 60 dias. Ou seja: em tempo hábil para a próxima temporada. "Só que a prefeitura nunca vai ter dinheiro para isso", diz ele. Em Piçarras (SC), o trabalho de recuperação da orla, feito em 1999, custou US$ 3 milhões (veja na página ao lado).

Outro problema tradicional de Matinhos, os alagamentos, também está sem solução. A prefeitura fez um trabalho de microdrenagem em Caiobá, mas em Matinhos as obras não começaram. O custo do projeto é de aproximadamente R$ 3 milhões. A Caixa Econômica Federal entraria com cerca de R$ 1,9 milhão, e o município com R$ 1 milhão. O restante seria bancado pelo governo do estado. O prefeito Francisco Carlim dos Santos admite que o problema é grave. "Por enquanto, não melhorou nada", considera. "Tentamos resolver os pontos críticos, mas é apenas um paliativo. É uma limpeza no bueiro, não um projeto."

Mar sujo

No mar propriamente dito a situação pode ser ainda pior. Na temporada passada, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) monitorou 36 pontos de banho. No fim de fevereiro, 81% dos pontos eram impróprios para banhistas, devido aos lançamentos de esgoto no mar ou em rios próximos.

No fim do ano passado, a promessa da Sanepar era a de ampliar a rede de esgoto no litoral. Quase um ano depois, a situação é praticamente a mesma. Das três estações de tratamento de esgoto que seriam construídas, somente a de Guaratuba foi concluída. As obras do que seriam as estações de Matinhos e Pontal do Paraná estão abandonadas desde fevereiro (veja box). Uma indicação de que, na próxima temporada, as condições de banho serão tão problemáticas quanto as do verão passado.

"O IAP pega pesado na temporada. E agora, o que vai fazer?", pergunta o prefeito Francisco Carlim dos Santos. "Desse jeito, nunca vai dar balneabilidade." Quando não é despejado no mar, o esgoto do balneário vai para um depósito no bairro Tabuleiro, mais conhecido entre a população local como "penicão".

Em Pontal do Paraná, a situação é a mesma: as obras da estação de tratamento de esgoto estão paradas e as casas não têm ligação com a rede de coleta. Por enquanto, o esgoto vai parar nas fossas. A prefeitura já estuda uma ação na Justiça contra a Pavibras, empreiteira responsável pelas obras de saneamento, para cobrar uma indenização pelas calçadas danificadas. A idéia é reconstruir oito quilômetros de calçadas até a temporada.

Mesmo em Guaratuba, onde a estação está funcionando, há locais críticos. "Quando chove, alaga; quando faz sol, fica fedido", diz a comerciante Silvana da Silva Ribeiro, 31 anos, dona de um mercado no bairro Piçarras. Ela passa o dia de frente para uma das muitas valetas que cortam o bairro. "O esgoto? O esgoto eles jogam no mar mesmo", resume Silvana.

Leia amanhã: a situação da segurança nas praias e as esperanças com a Unilitoral.

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