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Presidente da cadeia de lojas Galerias Lafayette (foto), na França,  acusa os Wildenstein de esconder informações sobre a obra roubada | Wikimedia commons
Presidente da cadeia de lojas Galerias Lafayette (foto), na França, acusa os Wildenstein de esconder informações sobre a obra roubada| Foto: Wikimedia commons

Polêmica

Museu nos EUA tem obra gêmea

A busca para encontrar o Monet desaparecido alcançou o Museu Metropolitano de Arte em Nova York. Ele tem um Monet descrito como um gêmeo da obra desaparecida. Sua obra, "Torrente do Petite Creuse em Fresselines", foi comprada pelos Wildenstein em 1958 de uma colecionadora particular, Adelaide Groot. Ela o legou para o Museu em 1967, que o lista como "Corredeiras no Petite Creuse em Fresselines".

Ele não está em exposição, embora o museu tenha publicado uma cópia online com uma nota de que ele é "quase idêntico a outro quadro (em coleção particular)". O museu diz que suas informações sobre o outro quadro foram retiradas do catálogo Wildenstein.

Na Conferência sobre Restituições Materiais Judaicas da Alemanha, uma organização de Nova York que tenta a restituição de propriedade de sobreviventes do Holocausto e seus herdeiros, questionou o museu sobre a proveniência da pintura. O museu afirmou que os quadros são claramente distintos. Ele também mostrou à organização uma tradução para o inglês, datilografada e não assinada, de uma carta de 1961 de Max Heilbronn a Daniel Wildenstein, na qual Heilbronn reconhece que a obra do museu "não pode ser aquela que foi roubada de mim durante a guerra". (NYT)

  • Autorretrato de Monet, autor da obra desaparecida

Mais de 70 anos após o saque dos nazistas, uma pintura desaparecida de Monet, representando as corredeiras azuis do Rio Creuse, fez que duas das famílias mais ricas e proeminentes da França se virassem uma contra a outra. Ginette Heilbronn Moulin, 85 anos, presidente da cadeia de lojas de departamento Galerias La­­fayette, acusa a família Wil­­denstein, uma dinastia internacional de negociantes franceses de obras de arte, de esconder informações sobre a obra roubada. A tela, que pertencia à família Heilbronn, desapareceu em 1941 depois de um ataque da Gestapo ao cofre do banco da família.

No verão passado, após Moulin prestar queixas contra os Wil­denstein, as autoridades francesas exigiram uma investigação preliminar. Um esquadrão contra o tráfico de arte está revendo os documentos da Segunda Guerra Mundial para acompanhar os rastros da obra "Torrent de la Creuse", o estudo de Monet de 1889 da confluência dos rios Creuse e Petite Creuse no centro da França.

"Não é uma questão de preço da pintura", disse Moulin. "É uma questão de vitória contra os alemães e...". Nisso sua voz se perde.

Os Wildenstein, que têm vendido obras de arte há cinco gerações, foram firmes ao negarem qualquer conhecimento do paradeiro do quadro. Mas Daniel Wildens­tein, estudioso do Impressionismo que morreu em 2001, o havia incluído em dois de seus amplamente aceitos inventários de obras de Monet. Em ambos, ele o listou como pertencente a uma coleção particular – um dono anônimo na primeira referência e um dono americano não identificado em 1996.

Descobertas

As suspeitas de Moulin e sua família vieram à tona ano passado quando mais de 30 obras de arte que haviam sido dadas por desaparecidas ou roubadas foram encontradas num cofre no Instituto Wildenstein, uma organização de pesquisa de fins não lucrativos que os Wildenstein gerenciam a partir de uma mansão no estuário do rio Nervión. Os itens, a maioria dos quais havia desaparecido muitos anos atrás, enquanto se firmavam os acordos, foram recuperados numa investigação não relacionada. Mas membros de uma família judaica contaram à polícia que acreditavam que uma escultura sua recuperada do cofre poderia ter sido saqueada pelos nazistas, porque não aparecia em nenhum inventário de bens do pós-guerra.

Guy Wildenstein, o bilionário que controla os negócios da família em Nova York, recusou, através de seus advogados, a comentar as acusações de Moulin. Mas ele defende que o instituto jamais escondeu deliberadamente obras desaparecidas, afirmando que a instituição simplesmente não tinha um inventário pleno do que havia no cofre.

Os advogados de Wildenstein, que é judeu, têm firmemente negado que qualquer um dos itens apreendidos seja decorrente de saques nazistas.

Famílias judaicas não reaveram obras

O Monet desapareceu num ataque da Gestapo a um cofre de banco no sudoeste da França, onde dez pin­­turas que pertenciam ao pai de Moulin, Max Heilbronn, foram rou­­badas. Heilbronn era membro da Resistência, cuja família franco-judaica foi forçada a sair da loja histórica das Galerias Lafayette no Boulevard Haussmann em Paris e substituída por colaboradores nazistas. Ele foi preso em Buchen­­wald com outros resistentes franceses, incluindo Etienne Moulin, que depois se casou com a filha de Heil­bronn, Ginette, e assumiu as Galerias Lafayette.

Quatro das obras da família já fo­­ram recuperadas, incluindo uma pintura de Renoir. Em Berlim, após a guerra, duas paisagens de Pis­­saro do cofre do banco também foram recuperadas na casa de Her­­mann Goering, o segundo na hierarquia do Terceiro Reich.

Mesmo agora, mais da metade das obras de arte roubadas de famílias judaicas na França e na Bélgica du­­rante a Segunda Guerra Mun­­dial continuam desaparecidas. Ale­­­xandre Bronstein, cuja escultura da família foi encontrada no co­­fre dos Wildenstein, disse que no­­vas pistas poderão surgir quando os arquivos do julgamento de 1949 de um diplomata alemão acusado de crimes de guerra, responsável por organizar o saque, forem revelados em 2024.

O que leva Moulin a continuar a procura, depois de tantos anos? "Essa pintura representa parte da história de nossa família", ela disse. "Foi meu neto que me levou a reagir. Ele não entende como isso pode ter acontecido."

Moulin disse que nos anos de 1950, sua mãe, Paulette Heilbronn, co­­nheceu um negociante de arte que tinha uma fotografia da pintura, e que ele jurou recuperá-la. Mas quan­­do Heilbronn abordou o ne­­gociante outra vez, ele lhe disse que ela estava em posse de pessoas que eram "intocáveis", segundo Moulin.

Anos depois, a família descobriu referências às pinturas desaparecidas nas edições de 1979 e 1996 do inventário em cinco volumes do hoje falecido Daniel Wil­­denstein. Tais catálogos listam to­­das as obras conhecidas e autenticadas de um artista e servem como um selo de aprovação. Nenhuma casa de leilão, por exemplo, venderá uma obra como um Monet se não estiver listada no inventário dos Wildenstein. As menções do catálogo ao Monet desaparecido aumentaram as suspeitas da família Moulin de que os Wildenstein ou tinham o quadro, ou, ao menos, sabiam onde ele estava.

Mas os Wildenstein repetidamente bloquearam os inquéritos da família, segundo Moulin. Em 2002, registros mostram que seus ad­­vogados pediram ajuda a Guy Wil­­denstein para localizar o quadro, e ele os apontou para o Ins­­tituto Wildenstein, que afirmou não possuir informações sobre os paradeiros da obra.

Tradução Adriano Scandolara

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