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Fatipi

Professor é demitido de faculdade presbiteriana após sugerir que Jesus teria traído Judas

Artigo JEsus e Judas
Teólogo e sociólogo Valdinei Ferreira, demitido da Fatipi (Foto: Reprodução Youtube)

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O teólogo e sociólogo Valdinei Ferreira, que escreve colunas sobre assuntos relacionados à fé no jornal Folha de S. Paulo, foi demitido do cargo de professor da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente (Fatipi). O motivo foi a repercussão negativa de um artigo publicado no último dia 17 em que Ferreira sugere que Jesus teria enganado Judas, e que os cristãos deveriam reconhecer que são capazes “equívocos em suas interpretações sobre Jesus”.

A publicação se deu na quinta-feira santa, três dias antes da Páscoa, considerada a principal celebração do cristianismo. Segundo o Evangelho, Judas Iscariotes é o apóstolo que traiu Jesus Cristo ao entregá-lo às autoridades em troca de trinta moedas de prata, levando à prisão e crucificação de Cristo.

No texto de Valdinei Ferreira, que já foi pastor da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo (Catedral Evangélica de São Paulo), ele argumenta que é preciso ter cautela com “certezas religiosas absolutas sobre o bem e o mal”. Nas redes sociais houve forte repercussão crítica ao texto especialmente durante o feriado de Páscoa, o que pressionou a faculdade a romper o contrato com o teólogo.

O teólogo é conhecido por uma visão mais alinhada à esquerda política e por críticas ao conservadorismo cristão. Ao final do artigo, ele chega a fazer uma crítica ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que é evangélico e costuma vincular sua atuação na política a uma missão atribuída por Deus.

“Judas tinha certezas demais sobre quem era Jesus”, diz artigo

No artigo “Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?”, Ferreira cita um texto do teólogo francês Jean-Yves Leloup, que baseia-se em um “Evangelho de Judas” – texto apócrifo, ou seja, não reconhecido como parte oficial da Bíblia pelas principais tradições cristã – para defender que Judas teria sido enganado por Jesus para traí-lo.

A perspectiva, no entanto, entra em choque com diversos relatos bíblicos sobre o episódio da traição. Mesmo assim, Ferreira argumenta que “esse olhar mais complexo sobre Judas” pode ajudar cristãos a reconhecer que “todos são capazes de traições e equívocos em suas interpretações sobre Jesus.”

“Judas tinha certezas demais sobre quem era Jesus e sobre como Deus agiria na política do primeiro século. É preciso cautela com visões políticas que se baseiam em certezas religiosas absolutas sobre o bem e o mal”, escreveu antes de mencionar Nikolas Ferreira.

No último dia 24, o teólogo divulgou uma nota oficial se defendendo das críticas. Leia o texto na íntegra:

Sobre a repercussão do artigo “Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?”, que publiquei no site do Jornal Folha de São Paulo em 17/04/2025, venho esclarecer o que segue:

1) o artigo transcreve o argumento do teólogo Jean-Yves Leloup e deixa claro que o próprio Leloup não apresenta a ideia de que qualquer traição promovida por Jesus como verdade histórica. O teólogo Leloup toma Judas como “arquétipo” (símbolo presente em todas épocas e lugares) de personalidade humana que pode se enganar com base em certezas religiosas absolutas;

2) na conclusão do artigo expresso minha opinião e propósito ao escrevê-lo, a saber: a) que cada cristão admita seu lado obscuro e reconheça que todos somos capazes de traições e equívocos em interpretações sobre Jesus; b) que se tenha cautela com visões políticas com base em certezas religiosas, que podem ser enganosas, como tristemente fica demonstrado no exemplo de Judas.

Cabe reforçar que o artigo foi elaborado a partir da perspectiva reformada de valorização das liberdades de consciência e de expressão sendo guiadas pelo amor e respeito àqueles que pensam de outro modo.


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