Apucarana A profissionalização e os processos de transformação para agregar valor integram a nova estratégia das cooperativas e associações de catadores de papéis e materiais recicláveis do Paraná. A defesa deste caminho foi sustentada por técnicos e apoiadores em encontro estadual de representantes da categoria concluído ontem, em Apucarana.
A preparação das cooperativas para capacitar trabalhadores e investir na transformação, ao invés de simplesmente se juntar e vender os materiais recicláveis, já está em curso em Apucarana. "Queremos iniciar este projeto ainda neste ano, com a industrialização de plásticos", anuncia a empresária Tânia Kowalski, que atua como apoiadora da Cooperativa dos Catadores de Apucarana (Cocap).
O primeiro projeto, de acordo com ela, permitirá a transformação de embalagens plásticas em matéria-prima (flocos) para a produção de abas e reguladores utilizados nas fábricas de bonés de Apucarana. "Precisamos de cerca de R$ 30 mil para a compra de equipamentos (lavadora, secadora e um moedor). Estamos buscando apoio de uma fundação e de empresários locais", conta Tânia.
Sérgio Roberto Faria, do Instituto Lixo e Cidadania de Curitiba, que ministrou palestras em Apucarana para catadores de Londrina, Maringá, Cambé, Cascavel, Umuarama, Rolândia e Apucarana, diz que já existem algumas experiências em andamento. Ele cita o exemplo da Cooperativa dos Catadores de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, que está estruturando uma linha de produção de vassouras a partir de fios obtidos com a transformação de garrafas pet.
Outra iniciativa, segundo Faria, é a produção de papel A3 e A4 em Curitiba, através de cooperativas apoiadas pelo Instituto Lixo e Cidadania. "A produção tem um processo artesanal, mas é possível obter produtos de qualidade que, em alguns casos, podem gerar um lucro superior a 500%, comparado com o que as cooperativas obtêm com a simples venda do material reciclável", diz Sérgio Faria.
Atrelamento
Outro tema discutido em Apucarana foi a conscientização dos catadores de materiais recicláveis para evitar o seu atrelamento a depósitos de atravessadores. "Infelizmente, ainda existem situações em que os catadores e até seus familiares ficam presos a dívidas (adiantamentos) e chegam praticamente a um regime de semi-escravidão", denuncia Faria.
Apoiadores e voluntários de cooperativas lutam para acabar com esse tipo de relação no trabalho dos catadores. "Os atravessadores aproveitam da fraqueza de vícios de álcool ou drogas para conceder pequenos adiantamentos de dinheiro, endividando e prendendo o trabalhador ao seu negócio", explica ele, acrescentando que, neste estágio, os catadores assumem cotas de materiais cada vez maiores, envolvendo a família.
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