Clube de Mães, na Vila Audi, reúne mulheres na costura – que ajudam a bancar a iniciativa – e oferece a crianças e adolescentes aulas de violão e futebol| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Ocupação

Interação com população não existe

A ocupação pela UPS ainda é vista com desconfiança no bairro. Para a presidente do Clube das Mães, Sueli Aparecida dos Santos Carneiro, a presença policial não trouxe alteração significativa na rotina da vila, e a promessa de promoção de ações sociais ainda não saiu do discurso. "O poder público devia ter procurado as pessoas que se relacionam diretamente com a comunidade. Eu conheço bastante nossa região, mas até o momento ninguém veio falar comigo", comenta.

Já a educadora social Janelice Cristina Rodrigues, que trabalha no Recanto Esperança, notou que a ocupação teve um efeito ruim sobre as crianças do projeto social. Elas ficaram mais chorosas e irritadiças depois do início do processo de pacificação. Porém ela conta que há menos desocupados pelas esquinas fumando e bebendo, o que era bem comum antes da operação.

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Música

Aulas de violão erudito encantam crianças na Vila Audi

Nos últimos meses, o violonista Valdomiro Prodóssimo passa uma tarde por semana ensinando violão clássico para dez crianças que participam das aulas no Clube de Mães da Vila Audi. O convite veio ao encontro da vontade do músico, que sempre quis realizar esse tipo de trabalho. Desafio aceito, Prodóssimo conta que está tendo resultados "fantásticos" com seus alunos.

O violonista começou suas aulas em abril do ano passado, nas quais prioriza a parte teórica da música e as técnicas do violão. Oito meses depois, uma grata surpresa: a turma de alunos da Vila Audi apresentou uma peça para três violões durante as apresentações pelos 30 anos do Conservatório Villa-Lobos, escola de Prodóssimo. Os alunos subiram ao palco do Guairinha e emocionaram o público com a sua versão para "Jingle Bells".

"Para eles, a apresentação foi uma coisa inédita e mesmo com tão pouco tempo de aula, foi só gente chorando na plateia", relembra. Depois da estreia, a procura pelas aulas cresceu e os pedidos de instrumentos de presente para os pais também. "O estudo do violão exige dedicação diária. Alguns alunos ali são muito talentosos", conta.

Prodóssimo conta que a melhor parte do trabalho é ver como os alunos se organizam sozinhos, afinam os instrumentos e cuidam muito bem de tudo. "Eles são muito agradecidos pelo que se leva para eles e tentam retribuir de todas as formas", diz.

A ONG Voice for Change atende crianças com aulas de artesanato e culinária

Por entre as ruelas de chão batido e as novas vias asfaltadas, o bairro do Uberaba, na capital, esconde espaços destinados a trazer mais oportunidades para a população. De aulas de música e costura a atividades de contraturno escolar, organizações não governamentais (ONGs) e associações de moradores oferecem ações para transformar a realidade da violência na comunidade.

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A implantação da Unidade Paraná Seguro (UPS), no início do mês, promete mais segurança aos moradores, principalmente com incentivo a ações sociais. Mas até agora, segundo so moradores, não há articulação do poder público com os projetos desenvolvidos na região. Não houve detalhamento dos projetos sociais que serão realizados e de quantos já estão em andamento, seja por iniciativa governamental ou da sociedade civil.

Para quem realiza ações comunitárias no bairro de modo independente, o Estado poderia ter um papel importante na estruturação das ações que existem ali. Por enquanto, apenas uma feira de serviços promovida pela prefeitura e pelo governo do Paraná, na última semana, trouxe alguma movimentação ao Uberaba, levando ações de vários órgãos públicos, como a Cohab e serviços de manicure e maquiagem à população.

Clube de Mães

Por enquanto, as ações comunitárias seguem independentes do poder público. Em um sobrado roxo no meio da Vila Audi estão reunidos projetos realizados por moradores e dirigidos à comunidade. O lugar é a sede do Clube de Mães da região, que atua desde 2001 tentando suprir algumas das deficiências locais.

Mais de 50 crianças e adolescentes participam das atividades ofertadas no clube: aulas de violão e futebol. As aulas de informática foram suspensas depois que uma tempestade com raios queimou os nove computadores. Quinze mulheres reúnem-se três vezes por semana para costurar bolsas e jogos de pano de chão e para aprender novas técnicas de artesanato. O dinheiro da venda dos produtos ajuda a manter o projeto, que ainda distribui frutas e verduras para pessoas carentes.

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A presidente do clube, Sueli Aparecida dos Santos Carneiro, de 44 anos, diz que a comunidade mudou muito desde 1996, quando ela se transferiu para o bairro. "Quem sofreu na pele a necessidade e tem uma condição melhor vai fazendo o que pode para ajudar os outros", conta.

Pequenos

Duas iniciativas no bairro se dedicam apenas às crianças. O barracão branco e azul da ONG Voice for Change, cravado na Vila Audi desde 2004, atende 110 crianças com atividades de contraturno escolar. Com aulas de artesanato, culinária e discussões de temas como cidadania e meio ambiente, a intenção da instituição é a de promover uma mudança na vida das crianças.

"Nosso objetivo é mostrar que eles podem ter uma vida diferente da que levam agora", conta a coordenadora da ONG, Eliete Verner.

Na Vila Icaraí, 60 crianças encontram abrigo dentro dos muros do Recanto Esperança, um espaço fundado em 2004 por um casal de suíços. Além das atividades do clubinho para as crianças, há oficinas com ênfase em economia solidária para as mulheres e palestras de prevenção para a comunidade em geral. Jovens com mais de 18 anos podem participar do Coletivo Coca-Cola, que oferece um curso básico de logística e produção.

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Comunidade precisa estar envolvida

A ocupação de algumas vilas do Uberaba por parte da polícia pode ser o início da diminuição da criminalidade na região, mas a iniciativa desacompanhada de um envolvimento da comunidade pode não ter validade. Para o sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cezar Bueno, a história recente do Brasil mostra que os problemas de segurança têm causas múltiplas e profundas e que um "ato de mágica" não vai transformar de uma hora para outra um ambiente caótico e instável em algo pacífico e harmonioso.

Para transformar essa realidade, os projetos sociais já desenvolvidos na comunidade podem ser um ponto de partida. "A sociedade tem que ser chamada para resolver seus próprios problemas. Ela não pode ser entendida pelo Estado como mera espectadora", argumenta. O sociólogo defende que são os moradores que precisam viabilizar os mecanismos de solução de conflitos, porque eles já estão na região há anos e vão continuar ali por muito tempo, independentemente da presença policial.

Como as pessoas envolvidas em ações sociais conhecem mais profundamente a comunidade em que vivem, estão capacitadas para sugerir mudanças efetivas na região. Neste caso, o governo deve acreditar na viabilidade de soluções que vêm de baixo para cima. "É preciso chamar de fato essas organizações, porque sem isso, não há solução. Sem o envolvimento desses atores, não é possível existir uma paz duradoura", defende.

Interatividade

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