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"As autoridades municipais têm uma responsabilidade muito grande na redução das emissões de poluentes na atmosfera. Ao garantir sistemas de transporte público eficientes, reduzimos o número de automóveis nas ruas e preservamos o meio ambiente. A interferência que podemos ter nessas questões é o que nos traz aqui, para trocar impressões e experiências.

A autoridade local executa políticas públicas com o objetivo de aumentar o bem-estar da população. Ao iniciar a gestão, o governante estará diante de escolhas éticas que poderão fazer a diferença apenas política e momentaneamente, ou adotar uma abordagem que também leve em conta as futuras gerações.

É um erro ceder ao apelo das ações imediatistas, com soluções de curto prazo. A nossa visão em Curitiba é que a opção pela apreciação estratégica do planejamento de longo prazo assegura um ponto de equilíbrio com os problemas mais urgentes da cidade. Este é o caminho mais difícil, mas não será surpresa se ele se revelar o mais eficaz.

Curitiba tem um compromisso sólido com a preservação do ambiente. Tive oportunidade de afirmá-lo em junho de 2005, em São Francisco, ao assinar a Declaração das Cidades Verdes.

Este compromisso foi reafirmado em março deste ano, quando Curitiba recebeu prefeitos de diferentes continentes para discutir a COP 9, conferência das partes sobre a convenção da diversidade biológica convocada pela ONU para maio de 2008 em Bonn, na Alemanha, onde vamos postular um papel mais ativo das cidades no debate sobre perdas da biodiversidade.

E desde já convido os colegas prefeitos para que se juntem a esta causa, pois a batalha contra a mudança do clima será travada, acima de tudo, no âmbito das metrópoles, que é onde já vive a maioria da população global.

Em Curitiba, cidade com tradição de excelência no transporte urbano desde os anos 70, fizemos uma escolha pelas novas gerações, ao adotar medidas que propiciam uma redução consistente das emissões de poluentes, num modelo que agrega rapidez, conforto, segurança e tarifa acessível, estimulando os cidadãos a trocar o transporte individual pelo transporte coletivo.

A criação da Linha Verde, um novo eixo de transporte com 22 quilômetros de extensão, é a nossa resposta mais incisiva ao desafio de ampliar a qualidade do transporte urbano de Curitiba e, ao mesmo tempo, de atingir as metas do milênio estabelecidas pela ONU.

Tendo esta compreensão é que vamos transformar a Linha Verde num verdadeiro corredor da diversidade biológica, ornamentado por árvores de espécies nativas que vão compor um parque linear de 21 quilômetros quadrados, com ciclovias e canaletas exclusivas para ônibus que pretendemos sejam movidos a biocombustível, aumentando substantivamente a capacidade do sistema, que hoje transporta dois milhões de passageiros por dia.

A primeira fase da Linha Verde será concluída ano que vem e se insere no contexto de um programa mais ambicioso, o BioCidade, cuja abrangência está associada à qualidade do ar e da água e a subprogramas de educação, saúde e habitação.

O BioCidade tem o propósito de recuperar bacias hidrográficas de Curitiba, e também de promover o resgate da flora local, com o uso de espécies nativas para ornamentar espaços públicos.

A implantação do programa BioCidade foi precedida de outras medidas destinadas a reduzir a emissão de poluentes.

Renovamos parte da frota do transporte coletivo, trocando veículos com mais de 10 anos de uso por ônibus modernos, equipados com motores menos poluentes, o que determinou uma redução de 12% nas emissões de monóxido de carbono no período de apenas um ano.

Modernizamos a infra-estrutura viária da cidade, com intervenções pontuais para tornar o transporte coletivo mais rápido e mais eficaz.

De outra parte, era imperativo atrair os usuários de ônibus, afugentados do transporte público por conta de um círculo vicioso em que se conjugavam tarifas altas e redução do número de passageiros.

Num país emergente, não basta garantir serviço de qualidade no transporte de massa: é essencial oferecer tarifas compatíveis com o bolso do usuário. Foi por isso que, já no início de nossa gestão, reduzimos a tarifa para 90 centavos de dólar e criamos a domingueira, tarifa especial pela qual o usuário paga 50 centavos de dólar aos domingos, estimulando lazer e convívio social.

Essas iniciativas aumentaram o número de passageiros em 12 milhões de usuários por ano, revitalizando um sistema de transporte que permite deslocamentos de até 70 quilômetros entre 14 cidades da Região Metropolitana de Curitiba, com o pagamento de uma única tarifa de 90 centavos de dólar.

Nossa tarifa social é mantida sem subsídios públicos, mecanismo aceitável nas cidades do mundo desenvolvido, mas que, em países emergentes, esbarra no obstáculo intransponível das limitações orçamentárias com que lidamos.

No Brasil, ao invés de subsídios públicos, sofremos com a incidência de tributos federais e estaduais, cuja desoneração representaria uma redução de 30% nos custos do transporte urbano. Sem ilusões quanto à eliminação da pesada carga tributária, buscamos nossos próprios caminhos.

E tornamos realidade este conjunto de ações que lançou as bases para a reforma estrutural representada pela Linha Verde, em que harmonizamos transporte coletivo de qualidade com a necessária preservação do meio ambiente.

Acredito que medidas dessa natureza refletirão na consciência do cidadão no momento em que ele meditar sobre o futuro da cidade. Crucial para nossa geração de homens públicos é conciliar qualidade de vida com padrões de desenvolvimento sustentável que contribuam efetivamente para romper a terrível espiral do aquecimento global."

Muito obrigado a todos.

Beto Richa

Fonte: site da prefeitura de Curitiba

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