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Um dia depois de montar acampamento em frente à sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Centro de Curitiba, cerca de 600 membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) dão sinais de que podem permanecer no local por muito tempo. Pelo menos a julgar pela organização do grupo.

O comportamento dos sem-terra é marcado pela disciplina rígida, que mantém a ordem e a cooperação igualitária entre todos. Às 6 horas acontece o despertar na barraca coletiva erguida com bambu, eucalipto e lona. Às 22h30 é o horário de silêncio. Nesse meio tempo, engana-se quem pensa que os sem-terra ficam de pernas para o ar, matando tempo à espera de um pedaço de terra para plantar. "Quem não segue as regras acaba saindo ou mandamos embora", afirma uma das coordenadoras do MST, Solange Luíza Parcianello.

Todos de pé, cada um sabe a sua função. Normalmente, há os "companheiros da disciplina", que ficam na vigília, os "companheiros da cozinha", responsáveis pelas refeições e o cardápio de sua brigada (25 das 33 existentes no Paraná estão representadas na manifestação), os "companheiros da higiene", que mantêm o acampamento limpo e organizado, entre outros. Os banheiros utilizados são de estabelecimentos comerciais próximos. Os alimentos são preparados numa cozinha improvisada na garagem do Incra.

Na divisão de cada tarefa, sem distinção de sexo ou de qualquer outro tipo, aos poucos, eles defendem seus ideais. "Tentamos colocar o socialismo em prática, já que achamos que este é o melhor modelo para o povo", afirma o "companheiro da disciplina" e responsável pelo tour da reportagem no acampamento, Eron Brun, 29 anos. Toda essa disciplina, porém, não impede que transtornos sejam ocasionados para moradores, motoristas e pessoas que trabalham na região.

"Vendinha"

Mas, como toda realidade tem os dois lados da moeda, mesmo tentando pôr o socialismo em prática, uma das primeiras atitudes dos acampados ao chegar em Curitiba foi montar uma "vendinha", num estilo bem capitalista, para comercializar os produtos feitos nos acampamentos e assentamentos do interior. Há produtos para todos os gostos: pepino em conserva, bolacha e salgadinho caseiros, doce de soja, doce de leite, ginseng, banha de porco, açúcar mascavo, entre outros. "Estamos vendendo muito bem", diz Brun.

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