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Cidade de títulos. Não bastasse ser a Terra das Cachoeiras Gigantes e a Capital da Oração, Prudentópolis também já foi considerada a maior produtora de mel e erva-mate do Brasil. Produtos que tiveram seu auge no passado, mas continuam sendo importantes fontes de renda para o município. Junto às duas especialidades, está o famoso salame cracóvia, imitado e produzido por muitos colonos em seus faxinais. Terras estas de significado pouco conhecido, que simbolizam mais um rótulo para cidade: a maior coleção de faxinais do país.

Mas o que vem a ser um Faxinal? O dicionário Aurélio responde que se trata de "um trecho alongado de campo que penetra a floresta". Segundo pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o "Sistema Faxinal" é encontrado desde o começo do século XVIII na região centro-sul do Paraná, sobretudo no âmbito da Floresta Araucária. São definidos pelo uso coletivo da terra para a subsistência, a criação de animais soltos, a ausência de cercas em propriedades particulares e o extrativismo vegetal de baixo impacto, que mantém florestas de pé para colher pinhão ou erva-mate, inquilinos naturais dos bosques de araucárias. O fato é que esta forma de uso de solo, pela sua adaptação ecológica e também integração social, parece cumprir os critérios de sustentabilidade. Infelizmente, os faxinais sofrem pressão em função da modernização do campo, existindo apenas 44 núcleos no Paraná, de acordo com um levantamento do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Metade deles em Prudentópolis, atado pelos velhos laços de parentesco trazidos pelos imigrantes ucranianos.

"O melhor mel do mundo está em Prudentópolis". Quem garante é o apicultor Carlos Chociai, 56 anos, amigo das abelhas e do jornalista Maurício Kubrusli, do Fantástico. Chociai tornou-se conhecido por suas viagens pelo Brasil e exterior, participando de congressos e simpósios sobre apicultura, nos quais fez amizades com cientistas e empresários de vários continentes. Nos últimos anos vem hospedando em sua casa doutores e importadores do Japão, Alemanha e Portugal. Apesar de sua fama cosmopolita, pouca gente acreditou quando Chociai afirmou ter sido entrevistado pelo repórter do "Me leva Brasil". "A matéria era sobre as abelhas nativas de Prudentópolis e demorou meses até ser apresentada. Já estavam duvidando da minha palavra", explica Chociai. A confirmação definitiva veio quando Kubrusli registrou suas viagens pelo país num livro com o mesmo título da série televisiva, dedicando uma crônica de duas páginas sobre o mel do apicultor. "Estou devendo uns potes de mel para o Maurício".

O que faz o mel de Prudentópolis ser tão diferenciado? Seu potencial apícola está relacionado à riqueza e diversidade de sua flora, que possibilita uma variedade de mais de 500 tipos de mel. "Temos mais de 56 mil espécies de plantas floríferas na região, que torna nosso mel riquíssimo em minerais e aromas", explica Chociai. Outro motivo é a alta produtividade das abelhas, fruto de uma mistura das africanas com as nativas brasileiras. "Nossas operárias picam mas não possuem ferrão. Cada caixa de abelha selecionada rende entre 50 a 80 quilos de mel por ano".

Carlos Chociai nem sempre foi ligado à apicultura. Até os anos 70 trabalhou com eletrônica, retransmissores de televisão, fotografia para casamentos e eventos. "Fui eu quem trouxe a televisão para Prudentópolis", orgulha-se. Chociai teve até uma rádio pirata! "Durante a ditadura, ficou perigoso manter a rádio e tive que fechar para não ser preso. Em 1970 fui fazer um curso de apicultura em Araucária e descobri que esta era minha profissão". Com mais de 30 anos de experiência na área, Chociai trabalha com mel 100% orgânico, sendo um dos poucos produtores que conseguem exportar para o Japão. "Os japoneses são extremamente rigorosos quanto à composição do mel. Devido a estiagem deste ano, estou me dedicando em apenas abastecer o mercado interno".

Apaixonado por Prudentópolis, Chociai fica perplexo quando falam do potencial turístico da cidade, muito mal-aproveitado. "Poucas pessoas sabem, mas estamos em cima de um grande lençol de águas sulfurosas, numa região de cachoeiras gigantes." Questionado sobre qual é o melhor salame da região, Chociai aponta aqueles produzidos por colonos do interior, que sobrevivem em seus faxinais. "O salame é bom porque nesses lugares os porcos são gordos, vivem soltos comendo de tudo um pouco".

Apesar dos bons salames produzidos nos faxinais, é incontestável a excelência e o sabor da lingüiça mais famosa de Prudentópolis, a cracóvia. Dionísio Opuchkevitch, descendente de ucraniano e dono do tradicional Açougue Alvorada, já cansou de se justificar, perante aos amigos, o porquê do nome polaco em seu salame. "Junto com Pedro Marcon, meu sócio nos anos 70, conseguimos fazer uma mortadela diferente que foi apresentada ao Lucas Usoski, um velho polonês dono de churrascaria, sempre exigente como freguês e consumidor. Ao provar a novidade, seu Usoski declarou ser muito boa a lingüiça e que, além de alguns aperfeiçoamentos, precisava também de um nome para chamar a atenção. Foi quando ele mesmo disse que deveria se chamar cracóvia, em homenagem a uma cidade polonesa. Nome que está até hoje", explica Dionísio.

Com o passar do tempo, a cracóvia chegou a ser reconhecida internacionalmente, sempre presente em feiras de artesanato e gastronomia típicas. Fama que levou muita gente a fabricar a lingüiça. "Nosso diferencial é a consistência do produto. O grande segredo é o porco light que nós mesmos criamos e a embalagem especial usada", revela Opuchkevitch. O sucesso do salame está nos números. Opuchkevitch corta em seu açougue mais de 300 porcos por mês, empregando 20 pessoas no estabelecimento e mais de 40 na criação dos suínos.

A receita para tantos títulos e atributos, encontrados nos produtos típicos de Prudentópolis, é o investimento na qualidade. Característica que se adquire com a experiência de seu Carlos no tratamento das abelhas, na limpeza e organização do Açougue Alvorada ou mesmo na vida simples e sustentável dos colonos de faxinais. Qualidade de um povo acolhedor, que trabalha com dedicação e responsabilidade, realçando o nome de Prudentópolis, como legítima marca de integridade e identidade de um passado tão presente. Futuro vivo da dignidade.

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