Prática com origem nos eletrochoques utilizado por anos pela psiquiatria em que os pacientes eram por vezes tratados sem consentimento, sem anestesia e sem a avaliação do estado clínico a eletroconvulsoterapia (ECT) é tão polêmica quanto eficaz, de acordo com especialistas. O tema foi debatido durante o 24.º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que terminou ontem na capital. Durante o evento, a maior parte dos especialistas se colocou a favor do tratamento, inclusive com a assinatura de uma moção a ser enviada ao Ministério da Saúde.
"A ECT é um procedimento internacionalmente aceito e altamente eficaz no combate à depressão psicótica, crise maníaca, catatonia, delírio, depressão resistente e alguns casos de esquizofrenia", defende a psiquiatra Julieta Mejia Guevara. "Atualmente, o debate sobre ECT, que deveria ser puramente científico, foi inundado por ideologias", afirma o psiquiatra e professor da Universidade de São Paulo (USP), Valentim Gentil Filho, referindo-se a relação corriqueira que se faz da ECT com tortura. "É importante ressaltar, entretanto, que a aplicação da ECT é complexa, deve ser feita de forma responsável e exige que o psiquiatra receba uma capacitação adequada para realizá-la", afirma.
Segundo o psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, cerca de 300 aplicações de ECT são realizadas todos os meses no Hospital de Clínicas de São Paulo. "Os novos equipamentos diminuem efeitos colaterais como: confusão, amnésia, dores musculares e cefaléias", diz. Mas o preconceito e a desinformação, no entanto, prolongam o sofrimento de diversos pacientes, privando-os dos avanços deste tipo de tratamento, segundo os especialistas.
A ECT não é remunerada, nem reconhecida pelo Sistema Único de Saúde, embora seja autorizada e regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina por meio da resolução 1.640/ 2002. Dessa forma, somente pacientes particulares têm acesso a essa terapia no Brasil.
No Paraná, apenas o psiquiatra Nelson de Andreade Oliveira, do Serviço de Eletroconvulsoterapia do Hospital Ecoville de Curitiba, está apto a realizar o tratamento. Oliveira começou a aplicar o procedimento em julho deste ano e atualmente tem 20 pacientes na ECT. "As pessoas que me procuram estão sofrendo há muitos anos de depressão, não conseguem trabalhar, nem conseguem melhorar com medicação", explica. Cada paciente faz de 6 a 8 sessões de ECT, três vezes por semana. "O tratamento dura cerca de duas semanas", diz.
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