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Brasília – O depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, um dos donos da Planam, principal empresa da máfia dos sanguessugas, é um verdadeiro manual sobre as engrenagens da corrupção no setor público. Vedoin descreve com clareza o funcionamento do suposto esquema de venda de ambulâncias superfaturadas em seus três braços: governo federal, Congresso e municípios. O esquema floresce da ineficiência do poder público: a máfia inicia os negócios timidamente, em 1999, quando a família Vedoin percebe a dificuldade das prefeituras em ter acesso a ambulâncias financiadas com dinheiro do orçamento. Os contatos com os parlamentares foram se multiplicando por meio de apresentações de deputado em deputado, indicações de assessores, reuniões com prefeitos. Tudo regado a presentes, pequenas ajudas de custo e propinas graúdas dirigidas aos parlamentares. Entre os presentes, carros, ônibus, carretas, depósitos em dinheiro (foram R$ 2 mil pelo aniversário do deputado peemedebista Cabo Júlio, de Minas) e o financiamento de festinhas de fim de ano e até mesmo de prostitutas (identificadas como "éguas" nas anotações do esquema).

O esquema se sustentava a partir do poder de barganha dos parlamentares de apresentarem emendas individuais e de bancada, mas os integrantes da base governista tinham seu poder turbinado, já que, votando a favor dos interesses do Executivo, conseguiam ter suas emendas liberadas mais rapidamente e com menos cortes. Nas proximidades da votação do Orçamento da União, os Vedoin iniciavam uma metódica campanha pelos corredores da Câmara, contatando parlamentares e pedindo que apresentassem emendas em favor da compra de ambulâncias, equipamentos médicos e ônibus destinados aos programas de inclusão digital.

Acordos

As reuniões com os integrantes do esquema se davam nos próprios gabinetes, em geral com a presença dos parlamentares ou de assessores de confiança, nas quais os deputados apontavam os municípios aos quais o dinheiro seria destinado, acertavam os detalhes sobre a fraude nas licitações para garantir que uma das 18 empresas do esquema fosse vitoriosa e negociavam as propinas a serem pagas por cada emenda (em geral de 10% sobre o valor a ser direcionado).

Alguns parlamentares eram mais vorazes. Conforme o relato de Vedoin, o deputado Reinaldo Gripp (PL-RJ) chegou a pedir 30%. Não deu acordo. Segundo Vedoin, na esmagadora maioria dos casos, os deputados levavam propina, mas os prefeitos, nem sempre. E todos estavam perfeitamente cientes do crime de direcionamento nas licitações.

Uma vez acertado que a máfia tinha determinada emenda, a Planam e sua equipe passava a trabalhar em esquema de pacote: elaborava os projetos que pediam a compra dos equipamentos, apresentava-os aos ministérios competentes, acompanhava sua aprovação, cuidava da elaboração e publicação dos editais das licitações nos jornais e tratava, depois, da redação de todos os documentos destinados ao recebimento do equipamento vendido.

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