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Violência atrás e fora das grades

Apesar de estar distante dos patamares do Maranhão, a violência nos presídios do Paraná também preocupa. Nos últimos dois anos, 24 presos foram assassinados no estado, média de um por mês. Paralelamente, a Corregedoria do Sistema Penitenciário puniu 2.341 presos por faltas graves, como homicídios, ameaças de morte, porte de arma e depredação. Neste ano 25 já foram punidos.

Do lado de fora das penitenciárias, quatro agentes foram mortos a tiros no ano passado e cinco foram vítimas de atentados. Os casos ainda são investigados, mas, para o sindicato, não há como não fazer relação com a atuação profissional das vítimas. Os agentes dizem que são monitorados por facções criminosas.

Obstáculo

Nas delegacias, o problema é o desvio de função dos policiais

Se nos presídios faltam agentes, nas delegacias o volume de presos obriga os policiais a deixaram a função de segurança judiciária para cuidar dos detidos. O assassinato do policial Marcos Gogola, em novembro de 2013, quando escoltava um preso até o dentista, é consequência desse problema. São mais de 10 mil presos nos distritos policiais do estado e pouco mais de 300 agentes carcerários não conseguem dar conta do trabalho. "As delegacias não têm estrutura nem pessoal para guardar esses presos. Isso cria uma instabilidade para o policial, que está em desvio de função", avalia o presidente do Sindicato dos Investigadores do Paraná (Sipol), Roberto Ramires.

A boa notícia é que a situação vem melhorando. Nos últimos três anos, o número de encarcerados nos distritos policiais do Paraná caiu 30%. No ano passado, a Seju anunciou a construção de seis novas cadeias públicas, que devem gerar 6,6 novas vagas. Com isso, a Secretaria espera que o sistema atinja sua normalidade, pondo fim ao desvio de função dos policiais.

Corrupção

Mais de 300 agentes respondem a processos na Corregedoria

Atualmente mais de 300 agentes penitenciários respondem por processos administrativos por prováveis desvios de conduta na Corregedoria do Sistema Penitenciário. Desde outubro de 2011, quando o órgão foi criado, cinco servidores foram exonerados por permitir a entrada de drogas e celulares nas unidades. Outros 13 foram demitidos por falsificar atestados médicos e um agente foi preso tentando repassar entorpecentes aos presos. A Seju ressalta que os casos são analisados com cuidado para não haver injustiça".

Com uma série de rebeliões e manifestações de força de uma facção criminosa, o sistema penitenciário do Paraná encerrou janeiro em evidência. Entidades atribuem parte da turbulência à escassez de servidores trabalhando na guarda e ressocialização dos presos. Para amenizar a tensão, a Secretaria de Estado da Justiça (Seju) promete contratar até março 423 homens para as unidades penais do estado. Para o Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindarspen), a ampliação refresca, mas não resolve. Seriam necessários ao menos 1,2 mil novos servidores: 35% além do efetivo atual.

INFOGRÁFICO: Confira um raio-x do sistema penitenciário do Paraná

Uma resolução do Con­selho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), do Ministério da Justiça, orienta que os estabelecimentos penais obedeçam à proporção de cinco presos por agente penitenciário. A Seju bate na tecla de que o Paraná está adequado à norma, afinal são 18 mil detidos em presídios para 3,5 mil agentes. O cálculo não inclui os quase 10 mil encarcerados em delegacias.

Mas para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Sindarspen a conta apresenta distorções. Há muitos agentes afastados (férias e tratamento médico) ou em desvio de função. Além disso, a escala de trabalho da categoria é dividida em três turnos – por opção dos próprios agentes –, o que acentua o problema. Na Penitenciária Central do Estado (PCE), por exemplo, trabalham 40 agentes por turno. Na madrugada, apenas dois ficam nas galerias, onde estão detidos 1,5 mil homens.

"O número de agentes que fica nas galerias é ridículo. Se quiserem fugir, a gente vai fazer o quê?", diz o vice-presidente do sindicato, Antony Johnson. "Se tiver rebelião, em vez de tentar conter, a minha preocupação vai ser fugir", disse um agente da PCE.

Na Penitenciária Estadual de Piraquara I (PEP-I), as condições também preocupam as entidades. O quadro fixo é de 199 agentes, mas, segundo o sindicato, em razão dos desvios de função, o número de ativos cai para 120: média de 40 por turno.

"Em função do quadro deficitário, os servidores ficam muito expostos. Teria mais que dobrar [o número de agentes] para ter o mínimo de condições de segurança e ressocialização", defendeu o delegado da Polícia Federal e coordenador do Núcleo de Segurança Pública da Universidade Tuiuti, Algacir Mikalovski.

Escala irregular

Um documento da Seju obtido pela Gazeta do Povo sugere que a escala dos agentes está irregular. Hoje, os servidores trabalham 24 horas seguidas e folgam 48 horas. Ou seja, trabalham dez dias por mês. Nos dias em que estão na ativa, começam a jornada, trabalhando 12 horas. Nas 12 horas seguintes, o efetivo se divide em três turnos de trabalho, gerando as distorções. "Enquanto um grupo trabalha, dois grupos dormem, o que significa que o efetivo é reduzido a apenas um terço nesse período", diz o texto.

Servidores estão no limite da tensão

Nos últimos dois meses, cinco rebeliões trouxeram tensão às unidades prisionais do Paraná. Em quatro delas, agentes penitenciários foram feitos reféns e só foram libertados depois que os detentos obtiveram garantias de que seriam transferidos para outras penitenciárias.

Há meses, o Sindarspen vem denunciando a situação vulnerável dos agentes na rotina dos presídios, com a falta de equipamentos básicos como algemas e radiocomunicadores. "Não há padrão. A gente não tem suporte nem para revistar os presos", sintetiza o vice-presidente do sindicato, Antony Johnson.

A Seju informa que adquiriu no ano passado R$ 4 milhões em dispositivos de segurança, que começaram a chegar. São 2,6 mil algemas, 247 raquetes, 52 banquetas detectoras de metal, além de 360 coletes balísticos.

Ressocialização

A advogada Isabel Kügler Mendes, do Conselho Nacional de Diretos Humanos da OAB, aponta também a falta de outros profissionais, entre médicos, psicólogos, advogados e assistentes sociais, no sistema penitenciário do estado. Em boa parte de 2013, as unidades penais ficaram sem assessoria jurídica – algumas continuam assim. Na área da saúde, são 29 médicos para todo o sistema, 19 dos quais permanecem no Complexo Médico Penal.

"Nas vistorias, as principais reclamações são falta de trabalho, estudo e de defensor público. Assim, não há sistema que funcione", pontua a advogada. Segundo a Seju, 57% dos detentos estudam e 29% trabalham.

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