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Nos últimos dias, a região metropolitana do Rio de Janeiro e municípios adjacentes foram tomados por uma onda de episódios violentos, que trouxeram terror à população. Carros incendiados, disparos contra cabines policiais, colocação de explosivos em espaços públicos e tiroteios indicam o nível de agressividade dos criminosos.

Os ataques, definidos como "terroristas", estão sendo associados às iniciativas de repressão ao tráfico de drogas e ao uso ostensivo de armamentos pesados nas favelas ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

A estratégia dos traficantes seria ambiciosa: propagar um clima de insegurança generalizada, desgastar a imagem pública das polícias e desestabilizar o comando da segurança fluminense. Os resultados esperados seriam a queda do comando ou a retração das políticas de ocupação territorial.

Mas, afinal, qual o nível de apoio popular às UPPs e qual a tolerância para seus "efeitos colaterais", como a onda de terror implantada?

Os últimos dias têm revelado uma intolerância do carioca com a violência e com o crime organizado. Os pedidos desesperados de paz e a colaboração com a polícia, medida através das ligações remetidas ao Disque Denúncia, revelando o paradeiro de criminosos e a localização de armas e drogas, confirmam essa tendência.

Ainda no que tange ao apoio às ocupações policiais permanentes, é importante ter a lucidez de que as UPPs gozarão de prestígio junto à população à medida em que se espraiem por outras regiões além da zona sul, recuperando territórios da violência imprevisível do tráfico ou da opressão dissimulada das milícias.

Se desde os anos 1990 percebia-se a relação da violência com a divisão entre morro e asfalto, a concentração das UPPs em uma dada região poderá reforçar a cisão entre zona norte (conflagrada) e zona sul (pacificada). À medida que áreas não nobres – ou menos valorizadas imobiliariamente – sejam pacificadas, a tendência é que o apoio às ocupações cresça e as UPPs se consolidem como política de Estado e não só de governo.

Fabiano Monteiro é mestre em Sociologia pela UFRJ, pesquisador da ONG Viva Rio e doutorando em Antropologia.

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