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Capitão Abreu com o pessoal da cozinha comunitária do Osternack: trabalho tem o objetivo de gerar renda para os moradores | Hugo Harada / Gazeta do Povo
Capitão Abreu com o pessoal da cozinha comunitária do Osternack: trabalho tem o objetivo de gerar renda para os moradores| Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo

Aumento

Sítio Cercado vive onda de violência

Apesar da redução de 20% nas mortes, alguns bairros da capital ainda mantêm um número alto de homicídios. O Sítio Cercado é um exemplo (com exceção do Osternack, que faz parte do bairro e é onde funciona o projeto Segurança Social). De uma média mensal de cinco mortes, setembro registrou nove – um aumento de quase 100%, o que coloca o bairro no mesmo patamar da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) em número de casos.

O sociólogo Lindomar Bonetti, da PUCPR, acredita que ainda faltam mais ações sociais na cidade. "Curitiba tem uma periferia extremamente vulnerável. A cidade ainda não absorveu essa população. É preciso inseri-los com mais trabalho e educação", analisa. Na avaliação do coronel Marcos Scheremeta, comandante do policiamento na capital, o aumento das mortes no Sítio Cercado é consequência da migração de criminosos.

Bala perdida

Na última segunda-feira, uma garota de 19 anos foi baleada com dois dois tiros na Avenida São José dos Pinhais, principal rua do Sítio Cercado. Uma das balas atravessou a perna direita da jovem e a outra ficou alojada na esquerda. A estudante ia a uma casa lotérica com a avó, quando um rapaz passou de bicicleta fugindo de outro que o perseguia. O jovem que estava atrás teria atirado e acabou atingindo a estudante.

O crime fez a família da jovem, há 16 anos no bairro, começar a procurar outro lugar para morar. "Se já tínhamos medo antes, temos muito mais agora", afirma a mãe da estudante, que prefere não se identificar.

  • Veja o total mensal de mortes violentas em Curitiba e RMC desde 2008

A dona de casa Raquel Apa­recida de Souza, 47 anos, tem do que se orgulhar. Desde o início do ano, faz parte de um grupo de 12 mulheres e 2 homens que trabalham em uma cozinha comunitária na Vila Osternack, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Eles fazem pães, doces e salgados para vender à comunidade e empresas, o que gera renda. "Não acreditava que fosse dar certo, mas tem sido uma bênção não só para mim como para minha família. É muito bom", diz.A iniciativa faz parte do projeto Segurança Social, que funciona na vila desde 2008, e é um dos exemplos de que a parceria entre Estado e iniciativa privada ajuda no combate à criminalidade e na redução das estatísticas de violência. A iniciativa foi da Polícia Militar, que identificou as necessidades da comunidade e entrou na vila não com um caráter repressivo, mas de parceria e cooperação. "O projeto é baseado na construção da segurança pública como um tripé: a polícia, a comunidade e a sociedade civil organizada", afirma o coordenador da Polícia Militar, capitão Ronaldo de Abreu.

Assim como Raquel, cerca de 20 mil pessoas se beneficiam direta e indiretamente com os programas que nasceram a partir da iniciativa de instalação do Segurança Social. O espaço abrange as Moradias 23 de Agosto, Madre Tereza e Jandaia, com um total de 5 mil moradores, porém o número se expande ao atender o entorno. Para a professora do Depar­tamento de Psicologia da Uni­versidade Federal do Paraná, Sandra Berganci, que auxilia no projeto da cozinha comunitária, a iniciativa gera um apreço pela própria comunidade e a possibilidade de autogestão. "Eles passaram a sentir apego e orgulho pela região onde moram", afirma.

Com relação à criminalidade, as estatísticas apontam que a melhoria foi profunda. A média mensal de homicídios na microrregião antes da implantação do projeto era de dez. Nos fins de semana chegava a 14 casos. Neste ano, ocorreram somente dez crimes em nove meses, segundo os boletins do Instituto-médico Legal (IML). O capitão Abreu informa que, a partir da queda, casos de violência doméstica começaram a aparecer. "A população deixou de temer notificar a polícia", diz. Como consequência, o número de denúncias aumentou. Atual­mente, são 20 policiais, do 17.º Batalhão da PM, que atuam na área.

Por enquanto, o Osternack é o único local favorecido pelo programa. Mas o resultado positivo faz a PM pensar em expandir o projeto. Os municípios de Londrina, Cascavel e Maringá já demonstraram interesse no Segurança Social. Mas segundo o idealizador, o coronel Anselmo José Antônio An­­selmo, as dificuldades de expansão residem no custo financeiro e em problemas culturais, tanto da população quanto da polícia.

Para o capitão Abreu, o trabalho que está sendo feito na vila é semelhante à Unidade de Polícia Pa­­cificadora (UPP) no Rio de Janeiro, mas em um formato dife­ren­te. "No segurança social, a comunidade é consultada antes." Nas UPPs, o pacote é fechado, somente apresentado para a comunidade. Mas ele admite que há diferenças por serem realidades distintas.

Passo a passo

O coronel Anselmo diz que o Segurança Social surgiu de uma inspiração. "Foram alguns meses para colocar tudo no papel", lembra. O primeiro passo, segundo ele, foi identificar os líderes regionais. Em seguida, após a indicação de um representante, veio o convite para reunir a comunidade para discutir o perfil do trabalho a ser desenvolvido. Depois, buscar instituições privadas para ser parceiras. Tudo segue uma lógica de implantação: a entrada ostensiva da polícia que vai cumprir mandados de prisão e, por fim, a realização de reuniões mensais para aparar as arestas.

No Paraná já há os projetos Poli­ciamento Ostensivo Volante (Povo) e Patrulha Escolar, que têm o objetivo de aproximar os policiais da comunidade. Esses dois instrumentos do policiamento comunitário paranaense seriam os primeiros passos para a implantação do Segurança Social.

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