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Procuro palavras até hoje para tentar explicar o que senti ao chegar em casa no último dia 28 de março. Ao abrir a porta, me deparei com um desconhecido apontando um revólver calibre 38 para minha cabeça. Em menos de um segundo, listei as opções possíveis – correr, enfrentar ou não fazer nada –, mas é difícil agir com uma arma apontada em sua direção. Ainda mais quando se vê ao fundo sua família sentada impotente no sofá. É como se fosse um estupro da santidade da sua casa, onde nos sentimos seguros e em paz.

Não sei ao certo quanto tempo se passou até os dois ladrões fugirem com nosso carro e com praticamente todos nossos objetos eletrônicos. No entanto, cada minuto ao lado desses marginais se multiplicou por mil. Não pelo medo, mas pela irritante sensação de impotência. Como pensar em reagir contra dois homens armados? Pior: com sua família ao lado, com tanto a perder. Quem garante que um dos dois não resolveria atirar em qualquer um de nós antes de fugir? Momentos de tensão em que um ato impensado pode custar a vida.

Por sorte, ninguém de minha casa se machucou fisicamente. Mas as marcas psicológicas são mais profundas. Cada um reage de uma maneira: felizmente ou infelizmente, ainda não sei, estou mais para o ódio do que para a depressão ou medo. E agora, felizmente, tivemos ao menos o conforto de saber que um dos nossos agressores não vai mais incomodar ninguém, pois foi morto em confronto com a polícia ao roubar outra residência. O outro, por enquanto, está preso. Resta saber se será denunciado e, mesmo que seja condenado, se vai permanecer na cadeia tempo suficiente ou se vai receber algum indulto de final de semana.

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