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Ao lado da banalização do crime, o fatalismo – essa brasileiríssima concepção de que a tristeza e a alegria são uma página do destino. A máxima do "é assim mesmo, não vai mudar" pode ter consequências desastrosas para a sociedade, observa o psicólogo social Márcio Ferraciolli, da UFPR. Para ele, a banalidade do crime gera também a banalidade da injustiça. Num cenário como esse, difícil fazer entender que o direito deve ser instituído e respeitado como requisito para a civilização.

Ferraciolli cita como exemplo o adolescente de 16 anos que foi amarrado a um poste no Rio de Janeiro por populares após ser flagrado cometendo um roubo, em março deste ano. "As pessoas dizem ‘tá certo, tem que morrer mesmo’. Essa atitude aliena", completa. O fatalismo gera também uma impotência por parte de quem, do contrário, se sentiria apto a ajudar.

A pesquisadora Beatriz Maria de Loyola Hummell, doutora em Gestão Urbana pela Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), estudou em sua tese as razões que levam a população a fazer doações para regiões afetadas por desastres naturais. Serve de analogia. As respostas não são as mesmas para todos os lugares, o que seria natural. "As pessoas doam menos para desastres mais recorrentes, como as cheias provocadas pelas monções na China. Esse fenômeno não abala tanto quanto o tsunami do Japão em 2011, que foi algo raro e devastador."

A hipótese de que os indivíduos não se sentem tão aptos a mudar um quadro mais recorrente pode ter seu paralelo na violência. Pode-se impedir a violência na Praça do Japão, mas não numa área pobre, isolada e informal como o Osternack. "Meu pai é americano, e toda vez que vem ao Brasil ele se choca com as crianças pedindo esmola nas ruas. Para nós, é corriqueiro, e não nos sentimos tão comovidos."

Beatriz sugere que os moradores da cidade se sentem mais compelidos a impedir o deslocamento geográfico da violência e menos estimulados a se envolver com áreas de criminalidade já estabelecida. "Quando a violência chega a um bairro mais nobre, mesmo quem não é daquela área sente que algo precisa ser feito", explica.

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