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Veja os investimento feitos em educação nos últimos dez anos |
Veja os investimento feitos em educação nos últimos dez anos| Foto:

Oportunidade mudou a vida de jovem carente

O professor de inglês Nelson da Silva Fonseca é a prova de que o investimento em educação gera bons resultados. Os pais não terminaram a 4.ª série e vieram do interior do estado para Curitiba em busca de melhores condições de vida. Os dois irmãos mais velhos também não tiveram a mesma sorte. Quando Fonseca estava terminando a 4.ª série em uma escola pública de um bairro pobre da capital, passou por um processo seletivo e entrou no programa Bom Aluno, que auxilia a educação de jovens carentes. Teve aulas de reforço e de inglês até a 8.ª série. A rotina diária de estudos continuou durante o ensino médio e o rapaz passou em um dos vestibulares mais concorridos da capital.

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Erros e acertos

Para especialistas, governo Lula fez bem ao garantir recursos para a educação, mas o analfabetismo só poderá ser erradicado em 20 anos.

Acertos

Fim da DRU - A Desvinculação de Recursos da União dava mais liberdade ao governo federal para gastar 20% da arrecadação sem justificar a destinação dos recursos.

Obrigatoriedade - A exigência do ensino dos 4 aos 17 anos vale a partir de 2016.

Piso salarial - Em 2008 uma lei estabeleceu um piso nacional para o professor, que hoje vale R$ 1.024,67.

Erros

Investimento - O total investido é de R$ 100 bilhões e deveria ser pelo menos o dobro.

Analfabetismo - A educação de jo­­vens e adultos não progrediu na mes­­ma medida que as demais. Hoje, 10% da população não sabe ler nem escrever.

Desigualdade - O país não con­­seguiu resolver as diferenças entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste. Os negros são os mais prejudicados.

Investimento fica pela metade

A maior crítica dos especialistas em relação à educação é a falta de investimentos por parte do poder público. Dos R$ 44 bilhões destinados pela União ao setor em 2010, R$ 15 bilhões vão para o ensino superior, que abriga apenas 13% dos jovens entre 17 e 24 anos.

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Se por um lado o Brasil pode chegar a níveis de qualidade de vida semelhantes aos de nações desenvolvidas até 2016 (como anunciou o governo federal recentemente), por outro, especialistas alertam que as conquistas econômicas e sociais alcançadas nos últimos anos podem ser perdidas se o país não der prioridade à área da educação. Os brasileiros ainda estão longe de ter um ensino satisfatório. Falta mais qualidade e investimento – o ideal seria, no mínimo, o dobro do aplicado hoje. O orçamento federal nos últimos até três anos cresceu, mas quase metade é destinada ao ensino superior e não chega à maior parte dos estudantes. Caso o próximo governo não assuma esse compromisso, os avanços sociais obtidos na última década podem ser freados.

Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admite que os recursos são insuficientes. Na semana passada, no programa Café com o Presidente, ele afirmou que, com a aplicação no ensino, o Brasil poderá fazer avanços importantes para virar uma potência econômica e recordou alguns investimentos na área, mas admitiu que é preciso avançar mais. "Ainda é pouco diante das necessidades que o Brasil tem de investimento na educação, so­­bretudo, no ensino médio", disse.

O raciocínio dos especialistas é simples: para crescer, é preciso mão de obra especializada. E sem educação isso não existe. O economista José Márcio Camargo afirma que nos últimos dez anos houve um avanço inegável na distribuição de renda, mas há o risco de se voltar à desigualdade da década de 70. "Como não há equidade na educação, profissionais com boa formação são mais requisitados e mais escassos. É a lei da oferta e da demanda. Com o boom econômico, os salários dessas pessoas so­­bem muito e quem não teve um bom ensino não acompanha o ritmo."

Camargo argumenta que, quando se aborda a distribuição de renda, esquece-se de olhar para a desigualdade no ensino, que é muito maior – não só em anos de estudo, mas principalmente em qualidade. "Renda é resultado não apenas de distribuição, mas de capacidade de produção. Ganha mais quem é mais produtivo. E o que há por trás? A educação. Somente políticas sociais não geram isso."

Mais investimentos

Estima-se que União, estados e municípios gastem hoje R$ 100 bilhões com a educação. Esse valor precisaria dobrar, no mínimo. "O crescimento do país está fundado em um alicerce frágil e os baixos indicadores educacionais comprovam isso. Se não fizermos uma revolução no ensino, não teremos condições de alcançar um desenvolvimento sustentável", diz o sociólogo César Callegari, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Ele alerta que no futuro o país não será competitivo caso não tenha uma população com educação de qualidade. "A tecnologia exige conhecimento. Em algumas áreas já está faltando mão de obra qualificada."

O debate sobre a importância dos investimentos não é novo. Professor da Universidade de Brasília e consultor da Unesco no Brasil, Célio da Cunha lembra que países vizinhos, como o Chile, cumpriram o objetivo e hoje têm perspectivas melhores. "Inúmeros estudos mostram a importância da educação na democracia e cidadania. Uma das grandes metas do século 21 é a universalização desses conceitos. É necessário que todas as pessoas dominem códigos fundamentais da legislação e conhecimentos da vida moderna. Só assim teremos uma sociedade mais justa". Ele lembra que hoje o governo investe 4% do Produto Interno Bruto (PIB) na área, quando o mínimo recomendado pela Unesco é de 6%. "Ainda assim, com nossa dívida histórica, precisaríamos de muito mais".

Público versus privado

A professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Bertha do Valle afirma que o ensino é desconexo com a realidade no Brasil. O número de matrículas no ensino médio é baixo e há grande evasão. O jovem que não tem perspectiva de ingressar no ensino superior não continua estudando porque também não há preparação para o mercado de trabalho. Bertha acredita que um bom ensino resolve outros problemas, como a violência. "Uma criança não pode ter só quatro horas de aula por dia, é preciso ensino integral. Há uma enorme diferença entre escolas particulares e públicas", avalia. "Qual é a educação que oferecemos? É um questionamento que precisa ser feito".

Além da educação formal, é preciso investir na aquisição de conhecimento, o que inclui acesso a atividades culturais e internet, por exemplo. A opinião é do economista, consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Ladislau Dowbor. "O conhecimento se tornou central nos processos produtivos. É algo muito além da sala de aula". Assim como Cunha, ele acredita que a educação tem um papel central na democracia. "Há experiências em favelas do Rio de Janeiro que garantiram banda larga à população e houve verdadeiras revoluções."

A revolução sugerida por Dowbor não se dá pela força física, e sim pela força do saber, do conhecimento acerca dos próprios direitos. Quem conhece mais sobre as coisas e o sobre o mundo pode fazer mais por si, e assim tem condições de colocar-se em condição mais igualitária aos demais, que é o princípio da democracia. Daí a importância de associar outros saberes àquele oferecido pela educação formal.

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