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Os metilfenidatos caíram nas graças de pais e professores de crianças elétricas. No Brasil, as vendas desses psicotrópicos estão numa vertiginosa curva ascendente. A Ritalina, do Laboratório Novartis, passou de 71 mil caixas de 20 pílulas, em 2000, para 739 mil cinco anos depois. Alta de 940%, sem contar os dados da concorrente Concerta, do Laboratório Janssen Cilag. Coordenador do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, o farmacêutico bioquímico Antônio Barbosa da Silva atribui a alta à estratégia de marketing dos fabricantes junto aos médicos.

Medicar é a saída mais simples, mas não a única. O neuropediatra Nélson Guerchon, carioca radicado há décadas em Curitiba, é uma voz destoante nesse meio. Não é contra o remédio, mas faz de tudo para evitá-lo. A razão é simples: uma vez usado, os pais não querem mais tirá-lo. As crianças ficam mais calmas, mas a que preço? Com mais remédio, o filho não exige tanta atenção. Guerchon percebeu a lacuna e hoje desempenha um pouco o papel dos pais. Tem dois centros em Curitiba e outro em São José dos Pinhais, onde atende 180 crianças hiperativas ou com déficit de atenção.

A proposta é reabilitar pedagogicamente essas crianças "massacradas na família, na escola e na sociedade". Os alunos têm acompanhamento de psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e professores. As atividades psicomotoras, cognitivas, emocionais e organizacionais fazem o trabalho da Ritalina. Nestes centros, as crianças fazem o que gostam. Aprendem brincando. Para Guerchon, elas vivem em casa o século 21 e na escola o século 17. "É importante também ‘tocar’ no aprendizado", explica. Segundo ele, o método atual de aprendizado nas escolas é 85% auditivo, 10% visual e apenas 5% de toque.

Atendimento

Em Curitiba, 317 alunos da rede municipal de ensino, com idade entre 7 e 14 anos, são precursores de um projeto inédito. Depois de dois meses de exames neuropediátricos, oftalmológicos e audiológicos, constatou-se que eles têm TDAH puro, ou seja, distúrbio livre de associação com qualquer tipo de deficiência física ou mental. Isto é, são hiperativos ou têm déficit de atenção.

Eles vêm sendo atendidos em clínicas conveniadas com a prefeitura e nos oito Centros Municipais de Atendimento Especializado (Cmaes). A Secretaria Municipal de Educação estuda a possibilidade de continuar o programa com a instituição ou transferi-lo para o Instituto Pelé Pequeno Príncipe, que manifestou interesse e teria à disposição 11 neuropediatras para essa finalidade. (MK)

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