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| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Material didático

Os quadrinhos podem ser usados também para tratar explicitamente da história de forma mais lúdica. Um dos exemplos locais é o livro História de Curitiba em Quadrinhos, de 1993, lançado em comemoração aos 300 anos da cidade para contar o percurso da fundação da capital do Paraná. O roteiro é de Cassiana Lacerda Carollo e os desenhos, de Claudio Seto.

Igualdade

Racismo americano está presente nos X-Men

Os personagens mutantes dos X-Men, criados em 1963, são entendidos como a representação da segregação racial dos EUA. Na mesma época, Martin Luther King lutava pela igualdade entre negros e brancos em um país marcado pela discriminação e pelo preconceito. "O preconceito passou para os gibis em forma de metáfora. Os mutantes foram criados para mostrar como era essa divisão racial, já que nos quadrinhos eles não conseguiam viver juntos com os humanos", explica o professor Osvaldo Siqueira, que leciona na Universidade Tuiuti.

Dois personagens centrais dos X-Men representam a divisão existente entre aqueles que lutavam pelos direitos dos negros nos Estados Unidos. O professor Xavier seria Martin Luther King e Magneto, Malcolm X.

Siqueira explica que Xavier luta pela convivência pacífica entre humanos e mutantes, de uma forma integrada. "Era exatamente isso que Luther King lutava. Queria que negros e brancos estivessem integrados." Já Magneto não aceita a integração e quer criar uma ilha para ser habitada por mutantes.

"Era o que Malcolm queria. Ele recusava a igualdade racial e a integração à sociedade branca, defendendo o separatismo dos negros, querendo até um Estado autônomo negro nos Estados Unidos", afirma Siqueira.

Tupiniquim

Personagens brasileiros não fogem da regra

Zé Carioca foi criado na década de 1940, em um contexto histórico. O governo norte-americano havia solicitado a Walt Disney que fizesse uma turnê pela América Latina, como ação para reunir aliados durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Historicamente, essa prática foi conhecida como Política da Boa Vizinhança.

"Nesse contexto, surge o Zé Carioca e ele mostra um personagem brasileiro com características peculiares, com jeito de malandro e que gosta de samba", afirma o professor Osvaldo Siqueira.

No desenho animado Você já foi à Bahia, de 1945, Zé Carioca e Pato Donald se despedem chorando. "Donald volta para os Estados Unidos e Zé Carioca fica no Brasil. O choro dos dois representa a amizade e a aliança entre Brasil e o governo norte-americano", afirma Siqueira.

Os gibis da Turma da Mônica também podem ser usados para mostrar uma época que já foi. "As crianças mais novas, ao lerem as revistas antigas, perceberão como era a infância em outras épocas, sem videogame ou celular. Isso pode ser usado pelos professores para tratar de diferentes períodos de uma forma mais divertida", ressalta Siqueira.

Um Capitão América enfurecido desfere um soco na face do ditador alemão Adolf Hitler. A primeira capa dos quadrinhos do super-herói da Marvel, lançada em 1941, em plena 2.ª Guerra Mundial, mostra como estava o mundo naqueles anos. A revista foi publicada dois meses antes do ataque às bases norte-americanas de Pearl Harbor, no Havaí, que culminou com a entrada oficial dos Estados Unidos em um dos maiores conflitos bélicos da história.

Anos mais tarde, o mesmo personagem mostrava-se confuso. "Talvez fosse melhor eu ter lutado menos e perguntado mais", disse. Era a década de 1960 e a Guerra do Vietnã dividia a opinião da população norte-americana. Diante de uma guerra injusta, o herói, que antes lutava pelo país com unhas e dentes, se questiona sobre suas ações. "O personagem dos quadrinhos acaba mudando conforme o contexto histórico", alerta o professor de História e pesquisador Osvaldo Siqueira.

Muito mais que diversão, os quadrinhos são ferramentas para a compreensão histórica dos diferentes acontecimentos mundiais. Pesquisador da área, Siqueira afirma que essa tendência faz parte da chamada "nova história", que entende que tudo pode ser analisado pelo viés histórico.

"A produção artística em geral é analisada pela história em que foi produzida. O artista, seja no cinema, nas artes ou nos quadrinhos, é um sujeito localizado historicamente. Toda mentalidade de uma época e o contexto em que vive irá refletir na obra produzida", afirma Siqueira.

Exemplos para essa análise não faltam. Batman representa, conforme Siqueira, o período da depressão econômica dos Estados Unidos. Criado em 1939, o personagem surge em uma fase em que o país passava por grandes dificuldades financeiras e com elevado grau de violência. A própria cor do uniforme do herói da DC Comics representa a fase negra norte-americana.

"Gotham City nada mais é do que os Estados Unidos dos anos 1930, com máfias e muitas mortes. Batman surge, inclusive, como uma vítima da violência, já que seus pais foram assassinados", explica o pesquisador.

Em contraposição ao Cavaleiro das Trevas, havia, na mesma época, o Super Homem. Com roupas coloridas, alusivas à bandeira dos Estados Unidos, o personagem, segundo o professor, representa uma luz em novos tempos. Isso porque havia esperança de que os Estados Unidos saíssem da crise, originada em 1929, com a política do New Deal, do presidente Franklin Roosevelt, para recuperar a economia norte-americana.

Hulk

Até a ameaça da bomba atômica pode ser percebida nos quadrinhos pelo personagem Hulk, criado na década de 1960, quando o mundo estava dividido pela Guerra Fria – com os Estados Unidos de um lado e a União Soviética do outro. Baseado no livro O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, e em Frankstein, o herói teve origem após a explosão de uma bomba gama. "Ele mostra a tensão daquele período em relação à bomba atômica. Se controlada, ela não fará mal algum, mas tem o poder e a força para destruir o mundo", revela Siqueira.

Que outros episódios históricos podem ser identificados nas histórias em quadrinhos? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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