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Padecer no paraíso não é uma exclusividade das mães. Os filhos também sofrem, mas com a falta de noção proporcionada pelo mais puro amor incondicional. Neste Dia das Mães, fazemos uma homenagem bem humorada a elas. E sem esquecer: mãe só tem uma. Ainda bem!

* * * * *Quando eu era criança, via com inveja as mães que soltavam os cachorros nas professoras, vizinhos e parentes para defender suas crias. Se pudesse, compraria uma daquelas para mim nas Lojas do Pedro. Por uns bons anos me senti um carente de mico de mãe – que dó de mim.

Uma vez, fui desancado – "de alegre", como se dizia – pela genitora de um coleguinha de bairro. "Seu boçal", esbravejou a tirana da Água Verde, ainda hoje inquilina dos meus pesadelos. Corri ao dicionário, mas não sem antes encharcar a saia da mãe. E nada de ela partir para o bate-boca no portão.

Certa feita, numa reunião de pais e mestres do primário, uma leoa – que não me queria em roda de sua filha na hora do recreio – enterrou minha moral toda na lama. Só faltou à Dona Doida acionar a Escola Correcional Queiroz Filho. A mãe, silente, levou o desaforo para casa.

Anos depois, entendi os pudores de dona Maria Judite. Falta-lhe jeito para subir nas tamancas, ainda que vontade não lhe falte. É dessa ausência de requebro para o barraco – e para lidar com emoções brutas – que nascem suas melhores histórias.

Em 1978, ao me visitar no seminário onde eu estudava, foi brindada com uma serenata no início da madrugada. Devia agradecer, jogar um Sonho de Valsa para a piazada e escafeder-se. Pois é – os seresteiros não sabiam o que fazer com as lágrimas daquela Inês tão linda. "Tua mãe tá melhor?", me perguntavam os seresteiros no dia seguinte. Entendi.

Como todo encabulado em estágio avançado, ela se embaralha até para passar café. Adoro suas crises de espirro e perguntas fora de hora. Em velórios – um dos seus esportes prediletos – fica faceira de tão nervosa, se é que me entendem. O resto é gafe. Numa dessas ocasiões, encontrou um vizinho que não via há muito e até julgava morto: "Minha nossa... O senhor continua velho!"

Em outra ocasião, enquanto cuidava de uma filha recém-operada, viu chegar a hora da noite em que tinha de deixar o hospital. Não queria ir. Escondeu-se atrás da porta, com o tercinho na mão. Heroica, despistou o vigia e a enfermeira-chefe. Seus micos pelos filhos são assim – sem dar um pio. Ainda vou fazer-lhe uma serenata para agradecer a fineza.

José Carlos Fernandes

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