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Costureiro

Imagine aquele engarrafamento. Tudo parado, nada vai e nem volta. O pedestre pensa "opa, posso atravessar", e sai andando entre os carros, como se fosse uma agulha costurando um tecido. O problema é que ele não é o único a fazer isso: há também os motociclistas. "É preciso tomar muito cuidado quando o trânsito está parado. Eu quase atropelei um homem assim uma vez", diz o motociclista e entregador de uma farmácia Anderson Pacheco. "A gente está na correria, apressado para fazer uma entrega e vai andando entre os carros, normal, a gente sempre faz isso. Mas às vezes tem alguém ali, atravessando. É preciso estar atento para não atropelar ninguém", comenta.

Fora da faixa

É o tipo mais comumente encontrado nas ruas. Aquele que faz questão de atravessar longe da faixa de segurança. "Pode estar a dois metros de distância, ele atravessa fora", conta o arquiteto Horácio Souza. "Se a gente para na faixa ou avança alguns centímetros, não adianta chorar, são cinco pontos na carteira. Agora, se ele atravessa longe da faixa, aí não tem problema ", reclama. "Se acontece alguma coisa, mesmo que a gente esteja dirigindo corretamente, a culpa é nossa. A culpa nunca é deles [pedestres]", acrescenta.

Pra quê sinal?

Nos cruzamentos não sinalizados, o pedestre tem sempre preferência e ninguém nega isso. Mas, quando um cruzamento é sinalizado, cada um tem o momento certo para atravessar. "Esses dias eu estava dirigindo pelo Centro e o semáforo abriu para mim. Eu fui saindo e uma mulher estava atravessando. Eu não fiz nada, não buzinei. Só encostei o carro pertinho dela e gritei: Vai logo", conta o taxista Eloir José Golemba, autor do livro Se Meu Táxi Falasse... Segundo Eloir, muitos pedestres se aproveitam dos taxistas porque sabem que eles não vão buzinar ou xingar. "Eles atravessam mesmo com o sinal aberto para nós, não estão nem aí", diz.

Desligado

É um dos mais comuns de se encontrar nas ruas. Você está dirigindo ou saindo de algum lugar e de repente: lá está o desligado. Ele pode ser encontrado em quase todos os bairros da cidade, mas predomina no Centro. É o apaixonado. O que vive no mundo da lua. Que adora caminhar ouvindo música ou sintonizando notícias no rádio do celular. É aquele que não está nem aí para o mundo. Anda como se estivesse sozinho. Como se estivesse passeando na praia, tocando os pés na água. "Tem pedestre que acha que está sozinho na cidade", afirma Gilberto Romevick, motorista de ônibus. "Ele até parece atento, mas está viajando, é um dos mais irritantes", completa. "Os que escutam música são ainda pior", diz o taxista Cleber Silva. "Não adianta buzinar, gritar, nada. Ele vai passando e não tá nem aí se vem carro. E se bater em um cara desses, a culpa é nossa", protesta.

A culpa de cada um

Veja quais são os erros mais comuns cometidos por pedestres e motoristas e que contribuem para a ocorrência de acidentes:

Motoristas

Ingerir bebidas alcoólicas. O álcool deixa o motorista mais suscetível ao erro. Além disso, beber e pegar no volante é crime.

Excesso de velocidade. Para evitar pisar no acelerador mais do que o recomendado, o condutor deve programar melhor seus horários de deslocamento.

Desrespeito à sinalização. As placas não são enfeite. Respeitando a sinalização, o trânsito flui melhor e o risco de atropelamentos cai.

Pedestres

Atravessar fora da faixa. Ela existe justamente para proteger o pedestre. Se não houver uma faixa por perto, o recomendado é atravessar somente depois de olhar para os dois lados e certificar-se de que não vem carro.

Imprudência. Não se deve apostar no "racha" com o carro. Atravessar na frente de um deles, mesmo quando a percepção é de que vai dar tempo, pode ser fatal.

Desatenção. Quem vive no mundo da lua, enquanto anda pelas ruas, corre um sério risco de chegar mais rápido ao céu. Não se estressar é ótimo, mas prestar atenção ao trânsito é vital.

Fonte: BPtran/Urbs

Ouvir pedestre reclamando de motorista barbeiro ou que desrespeita as leis de trânsito não é nada difícil em Curitiba – assim como em várias cidades do mundo. Faz parte da cultura do pedestre protestar contra os pilotos abusados. O inverso, entretanto, não é tão comum. Ao que parece, a maioria dos motoristas guarda para si as queixas sobre os pedestres folgados. Para dar voz a essas pessoas, a reportagem da Gazeta do Povo ouviu taxistas, motoristas de ônibus e motociclistas. Foi a vingança do pipoqueiro, ou melhor, do motorista. Juntos, os condutores de diferentes veículos ajudaram a formular os perfis de pedestres que mais incomodam os motoristas no dia a dia* * * * * *Distração: é aí que mora o perigo de ser atropelado

Para a Urbanização de Curitiba (Urbs) e o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) – órgãos que cuidam, respectivamente, do planejamento e do policiamente do trânsito em Curitiba –, se os pedestres redobrassem a atenção ao sair de casa, muitos acidentes seriam evitados. "Quando todos fazem a sua parte, existe uma grande possibilidade de o acidente ser evitado. Quando o pedestre toma as devidas precauções e o motorista também, dificilmente temos algum problema", comenta Gér­son Teixeira, agente do BPTran.

De acordo com Teixeira, ao sair de casa, o pedestre deve estar consciente de que não está sozinho. "Ele vai se deparar com carros, ônibus, motocicletas. Por isso deve redobrar a atenção", afirma. "Mui­tas vezes, porém, o pedestre está distraído, com um fone de ouvido. Não presta atenção na rua, no que está acontecendo. É aí que mora o perigo", complementa.

Segundo a diretora de Trân­­­sito da Urbs, Rosângela Battis­­­tella, o pedestre tem que se fazer ver. "Ele precisa acenar quando for necessário, principalmente em ruas não sinalizadas. Precisa respeitar a sinalização. Não ser apressado. Quando o semáforo tiver botão, tem que esperar, não pode apertar e sair andando. Também não deve andar entre os carros, quando a rua estiver congestionada. E ainda é necessário olhar sempre para os dois lados, prestar atenção", diz.

Em Curitiba, até o dia 30 de setembro, foram registrados 1.488 atropelamentos. A média é de cinco por dia. No mesmo período, 114 pessoas morreram atropeladas nas ruas da capital paranaense. Os dados são do Corpo de Bombeiros do Paraná.

Neste ano, conta o agente Teixeira, o BPtran realizou 33 eventos de conscientização. "Posicionamos viaturas em locais estratégicos da cidade, com banners educativos. Distribuímos folhetos, orientamos motoristas sobre a importância de se respeitar os pedestres. E o trabalho não para. As equipes do BPTran continuam nas ruas desenvolvendo o trabalho de conscientização", afirma.

Segundo Rosângela Battis­­tella, para evitar os acidentes, a Urbs está investido em sinalização. "Nós desenvolvemos ações em 150 locais da cidade. Mais de 50 mil pedestres foram orientados. Distribuímos panfletos sobre educação para a mobilidade. Os nossos agentes estão sempre atentos, apitam, orientam. Investimos muito em sinalização nova, pintura de faixa, semáforos, faixas elevadas", informa.

A preferência sempre é do lado mais frágil

Apesar da existência dos pedestres "folgados", os motoristas devem sempre dar prioridade a quem não estiver no volante. Não esqueça: enquanto você está dentro de uma tonelada de aço, o pedestre tem apenas a roupa que ele veste para se proteger. O Código Brasileiro de Trânsito (CBT) é claro quando afirma que quem atravessa a rua sobre a faixa de segurança tem preferência. Quando houver semáforo, os motoristas devem esperar que os pedestres atravessem a faixa, para depois avançar.

Segundo o CBT, o pedestre tem outros direitos. Nas ruas, a calçada é uma área de utilização assegurada, assim como os acostamentos das vias rurais. Nas áreas urbanas, o pedestre também tem preferência sobre os veículos nas pistas de rolamento, quando não houver calçadas ou não for possível andar sobre elas.

Deveres

Mas quem pensa que a pessoa que opta pela caminhada só tem direitos está enganado. O artigo 254 do Código Brasileiro de Trânsito proíbe o pedestre de andar no meio da rua ou fora da faixa e passarela. De acordo com o CBT, quem desobedecer a lei está sujeito à multa de R$ 26,60 – regra que nunca foi aplicada, porém, no país.

Na opinião de André Caon, presidente da Sociedad Peatonal, nunca vai existir um pedestre "folgado". "Quem é folgado é o motorista. As cidades são projetadas para os carros, para os motoristas. Não para os pedestres. Os pedestres são uma exceção. Os motoristas devem ser responsabilizados sempre, independentemente da situação, não o contrário", afirma.

Entre julho e agosto deste ano, apenas na capital, 2.675 in­­frações de paradas sobre a faixa de pedestres foram flagradas por 41 radares. No mesmo período, os equipamentos marcaram 10.122 infrações de avanço de sinal vermelho. (GA)

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