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Destaque - No Sul, 90% dos alunos estudam na rede pública

São Paulo – A proporção de estudantes de todas as classes sociais no ensino público sofre alterações dependendo da região do país – um indício de que redes mais estruturadas podem atrair e manter os alunos de várias faixas de renda. Nos estados mais pobres, onde estudantes de rede pública apresentam baixo desempenho em avaliações nacionais, há uma maior tendência de famílias migrarem para o ensino privado. Em contrapartida, nas regiões mais ricas e nas quais o aluno do sistema público tem notas acima da média nacional, há maior porcentagem de todas as classes sociais nas escolas municipais e estaduais.

Por exemplo, enquanto a média nacional é de cerca de 80% de crianças e adolescentes em idade escolar na rede pública, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná a porcentagem chega a 90%. Os três estados tiveram desempenho acima da média nacional na Prova Brasil, aplicada a aos estudantes pelo Ministério da Educação (MEC). A conclusão aparece na pesquisa do Ibmec São Paulo ao se analisar o perfil dos alunos das escolas e a presença deles por classe social na rede privada e pública.

Já Rio e Distrito Federal representam a menor porcentagem na rede pública, com cerca de 70%. "O Rio é onde aparece a maior contradição. É o estado com menos alunos na rede pública no ensino básico, mas um dos com mais estudantes nas universidades públicas", explica Naércio Menezes Filho, professor do Ibmec São Paulo.

São Paulo – Cerca de 1 milhão de famílias brasileiras das classes D e E comprometem 10% de sua renda pagando mensalidade em escolas particulares. São pessoas que recebem, em média, até R$ 800 por mês (valores que variam de R$ 500 a R$ 1.500). Além disso, quanto maior a escolaridade da mãe, independentemente do salário, mais alta é a probabilidade de ela investir financeiramente na educação de seu filho. Ao comparar mães com 11 anos de escolaridade, ou seja, o ensino básico completo, com as que não são alfabetizadas, a proporção quase dobra dentro da mesma faixa de rendimentos.

Os dados são mostrados em levantamento inédito feito pelo Ibmec São Paulo e pelo Instituto Futuro Brasil, em parceria com a Fundação Lemann e o Instituto Gerdau. Para chegar aos números, foram usados dados atualizados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (Pof), ambos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e do Censo Escolar, feito pelo Inep, órgão de pesquisa ligado ao Ministério da Educação (MEC).

"Tínhamos a impressão de que famílias de baixa renda também estavam gastando com educação, provavelmente por não confiarem na escola pública ou pela crença muito difundida de que a particular sempre é melhor. Decidimos investigar isso primeiro para saber se era verdade e depois para entender onde e como esse investimento estava sendo feito e o quanto comprometia da renda familiar", explica um dos autores da pesquisa, Naércio Menezes Filho, professor de economia do Ibmec São Paulo e da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). "Como resultado, além de percebermos que esse gasto existia, vimos que, entre famílias de classes mais baixas, o comprometimento da renda era muito maior."

Isso porque, apesar de 80% das famílias de classe A e B, em média, colocarem seus filhos no ensino particular, comprometem com isso cerca de 2,5% de seus rendimentos. "Comparando as famílias mais ricas com as mais pobres, percebemos que os gastos da classe A com mensalidades são 5,4 vezes maiores, mas o comprometimento da renda é 72% menor", explica o economista.

De acordo com a publicação Gastos e Consumo das Famílias Brasileiras Contemporâneas, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a educação é justamente o item que mais cresceu nas despesas do orçamento das famílias brasileiras desde 1998. Esse investimento representa também o segundo item de maior desigualdade entre ricos e pobres no país: as famílias com mais dinheiro investem 30 vezes mais na formação de seus filhos do que as mais carentes.

"É comum encontrarmos entre pessoas de renda muito baixa um esforço grande para conseguir oferecer um ensino diferente aos filhos. E, com a idéia geral de que a escola pública está muito ruim, a particular aparece como o melhor investimento para poderem oferecer uma expectativa de vida diferente aos filhos", afirma Ladislaw Dowbor, professor da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e consultor das Nações Unidas na área de política pública e desenvolvimento.

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