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Estação-tubo vandalizada: só em 2009, foram gastos R$ 243 mil para substituir vidros quebrados | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Estação-tubo vandalizada: só em 2009, foram gastos R$ 243 mil para substituir vidros quebrados| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Furto de cabos de cobre diminui

Wenceslau Braz, Avenida das Torres, Marechal Floriano Peixoto, Affonso Camargo, Anne Frank, Nicola Pelanda, Conselheiro Dantas e Atílio Bório são as vias onde mais se registram furto de cabos na capital. Mas os casos não se restringem a essas ruas. No primeiro fim de semana do ano, 80 metros de cabos desapareceram da Linha Verde, interrompendo o funcionamento do se­­máforo no cruzamento da Rua Sônia Maria com a Professor João Soares Barcelos, no binário Fanny. O não funcionamento dos equipamentos gera zonas de riscos na cidade, criando dificuldades de tráfego e aumentando o risco de acidentes.

Os cabos são furtados porque têm fios de cobre, metal com grande valor no mercado paralelo. Esse material acaba sendo comercializado em depósitos de ferro-velho. Nos últimos anos, contudo, os casos caíram drasticamente, segundo os levantamentos da prefeitura. No ano passado, 520 metros de cabos foram roubados em toda a cidade. Em 2008, houve furto de aproximadamente mil metros, com prejuízo estimado em R$ 3 mil. Custo três vezes menor do que o de 2007, quando 3,3 mil metros de cabos desapareceram. Em 2006, foram 8,8 mil metros de cabos, gerando gastos de R$ 23 mil. A Urbs atribui à diminuição a uma série de medidas adotadas, como a concretagem das caixas de proteção, o que dificulta a ação dos ladrões.

Falta educação. E falta punição

A permissividade e a ruína da educação são as principais causas apontadas por psicólogos para compreender as motivações do vandalismo. "Esses atos são a prova de que a educação faliu", afirma Naim Akel Filho, professor do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "Não só a escolar, mas a que começa em casa, com a imposição de limites. Não sei onde ocorreu essa falência."

Ana Paola Lubi, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência, concorda. "Coisas que não deveriam ser feitas são comumente vistas na sociedade, mesmo que as pessoas saibam que está errado – só que elas também sabem que não vão ser punidas", diz.

A agressividade é instintiva, faz parte da natureza humana. Em geral, é motivada por sensações de frustração. "Às vezes, esse sentimento se volta para ele mesmo. Frequentemente, o alvo é também o patrimônio", afirma Akel Filho. Descarregar as sensações negativas em placas de trânsito, bancos de parques ou estações-tubo não torna a administração pública o alvo das frustrações. Esses elementos apenas estão ao alcance das pessoas. "Se existe a expressão de desejos, de sentimentos e da agressividade internas, por outro lado há a responsabilidade da sociedade em coibir isso, o que não ocorre", diz Ana Paola.

As transgressões normalmente ocorrem em bandos, pois, ao mesmo tempo em que alguma regra da sociedade é descumprida, o vândalo se torna destaque e exemplo a ser seguido em seu grupo de convivência. As atitudes tomadas na coletividade são diferentes das adotadas individualmente. "O controle, geralmente possível quando se está sozinho, torna-se praticamente impossível em bando", explica o psicólogo. Estar em grupo é também forma de criar coragem para realizar ações consideradas perigosas.

De acordo com Akel Filho, há uma única forma de fazer essas pessoas se integrarem à sociedade: a retomada da educação. "A natureza instintiva precisa estar sob o controle da ética social. Ele precisa assimilar os valores da sociedade", diz.

  • Mapa riscado: pichação nos mais variados locais continua sendo um dos grandes problemas causados pelo vandalismo

Curitiba gastou aproximadamente R$ 1 milhão para recuperar parques municipais, estações-tubo e edificações que sofreram atos de vandalismo no ano passado. O valor é aparentemente irrisório se comparado aos cerca de R$ 3,5 bilhões de orçamento previsto para o município neste ano. No entanto, corresponde a 40% do que a Secretaria de Assuntos Metropolitanos deve gastar em 2010. Também é dinheiro suficiente, por exemplo, para concluir as duas fases da revitalização da Rua Riachuelo, que prevê modernização das calçadas, construção de rede subterrânea para cabos e troca de iluminação.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e a Urbanização de Curitiba (Urbs) são as que mais sofrem com o vandalismo. Em 2009, R$ 215 mil foram gastos para reparar equipamentos e elimar pichações em parques. E R$ 243 mil para trocar vidros das estações-tubo. As pichações, contudo, seguem como principal adversário a ser combatido: R$ 480 mil foram usados para restabelecer a fachada de prédios. Os números não param por aí: aproximadamente 240 placas de trânsito são destruídas todos os meses na capital e, no ano passado, 4 mil luminárias foram trocadas por depredação.

Os valores contemplam apenas o que foi efetivamente gasto. No transporte coletivo, os valores poderiam crescer exponencialmente. Levantamento feito pela Urbs de janeiro a setembro do ano passado mostra que somente a reposição de janelas de ônibus riscadas custaria em torno de R$ 2,2 milhões. Dos 35.492 vidros que precisariam ser trocados, 11.391 foram vandalizados em 2009. As trocas não foram executadas pela administração pública, pois são consideradas como "gasto inútil": bastaria pôr vidros novos para que ocorressem novas pichações.

O presidente da Urbs, Marcos Isfer, argumenta que as ações depredadoras são significativas porque ultrapassam os interesses meramente econômicos. "O verdadeiro custo do vandalismo é o do medo e o do risco", diz. "Quando um vândalo joga uma pedra contra um ônibus, ele ameaça a vida de pessoas. Quando picha uma placa de trânsito, cria condições de risco para motoristas, e é isso que precisa ser resolvido com urgência." Portanto, em muitos casos, uma atitude supostamente inocente (ou até mesmo uma brincadeira) se transforma em perigo real para outros cidadãos.

"Os vândalos são poucos. O problema é que, quando resolvem agir, fazem estragos significativos", afirma o diretor de Parques e Praças da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Sérgio Tocchio. De acordo com ele, o vandalismo é, em geral, praticado por pequenos grupos, mas há quem atue isoladamente. "Há muitos anos, tivemos um caso notório. Um bêbado quebrou 70 luminárias do Parque Barigui de uma só vez", conta. Na percepção de quem atua nos parques da cidade, essas atitudes são tomadas, na maior parte das vezes, por pessoas sob efeito de drogas, especialmente o álcool.

Segundo a prefeitura, três tipos de fiscalização são executadas nos parques a fim de evitar a depredação: a permanência da Guarda Municipal (nos parques de maior fluxo, existem módulos); o monitoramento via vídeo de certos equipamentos, como a pista de skate da Praça do Gaúcho e no Parque dos Tropeiros, no Caiuá; e a presença de fiscais, que, apesar de terem apenas a função de orientadores, inibe a ação de marginais. "Os orientadores não têm poder de polícia, mas, ao depararem com alguma irregularidade, chamam a polícia", diz Tocchio.

No caso do transporte coletivo, a estrutura de fiscalização conta com o apoio da Polícia e ação da Guarda Municipal. Na opinião de Marcos Isfer, porém, só isso não basta. "Precisamos de uma mobilização maior, que envolva a sociedade, o poder público e a iniciativa privada para que possamos acabar de fato com o vandalismo", diz.

Pertencimento

Um dos caminhos apontados para coibir a ação dos vândalos é a cidadania. É a sensação de pertencimento que impede atos depredativos. "Não se pode desprezar a questão do vandalismo, apenas levando em conta o quanto se gasta na recuperação. É preciso envolver a comunidade nos parques, fazer com que todos se sintam donos desses lugares", opina o diretor de Parques e Praças. Com a ocupação, o povo também se torna fiscal, fazendo denúncias em caso de ocorrências. Essa presença não só evita o vandalismo como também dificulta a ação de criminosos.

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Serviço:

Denúncias sobre vandalismo podem ser feitas pelo telefone (41) 156, a central telefônica da prefeitura. Nos parques da capital, também é possível ligar diretamente para o Departamento de Parques e Praças pelo telefone (41) 3350-9182.

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