Realeza do carnaval sonha com a caserna

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Fabiana Ribeiro, 25 anos, estuda Letras na Universidade Federal do Paraná (UFPR), é carioca e morou em várias cidades do Brasil por conta da profissão do pai, militar. Lê o antropólogo Darcy Ribeiro, tem o francês O Fabuloso Destino de Amelie Poulain como filme preferido, mora em um apartamento no Centro de Curitiba, não gosta de assistir televisão e é vegetariana.

Milena Fernandes, 20 anos, estuda Enfermagem na Faculdade Evangélica com bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) e nunca morou fora de Curitiba. Tem como livro de cabeceira o enredo juvenil Irmão Negro, do novelista global Walcyr Carrasco, e filme preferido é À Espera de um Milagre. Mora numa casa no Conjunto Caiuá, na Cidade Industrial de Curitiba, de onde dá para ver e ouvir o tráfego do Contorno Sul, gosta de assistir ao Programa do Jô e, conforme a própria ressalta, adora um churrasco.

Apesar de tantas diferenças, no período do carnaval as duas praticamente vivem coladas. No papel de rainha (Fabiana, que é da escola de samba Realeza) e princesa (Milena, da Embaixadores da Alegria) do carnaval curitibano pelo segundo ano consecutivo, as duas terão, a partir das 18 horas de hoje, a responsabilidade de recepcionar os foliões no desfile de carnaval da Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico.

No futuro, o destino ainda pode fazer cruzar, mais uma vez, uma no caminho da outra, só que com vestimenta e postura muito diferentes. Se depender delas, os bíquinis mínimos e lantejolados e as sandálias, bem como o swing na avenida, serão substituídos em breve por fardas, coturnos e uma desenvoltura um milhão de vezes mais formal, com direito a continência aos superiores, já que as duas ambicionam ser oficiais do Exército.

Fabiana pretende prestar concurso para o Quadro Complementar de Oficiais (QCO) e ser professora de Português em um dos 12 colégios do Exército espalhados pelo Brasil. Milena pretende ingressar na Escola de Saúde do Exército e atuar no quadro de oficiais de saúde.

Enquanto esse momento não chega, elas aproveitam os dias de folia para complementar o orçamento curto – Fabiana dá aulas particulares e Milena recebe cachês em apresentações de samba em empresas de Curitiba. Pelos R$ 800 pagos de cachê a cada uma pela Fundação Cultural de Curitiba, Fabiana e Milena participarão do cortejo no desfile e ficam de prontidão para bailes organizados pela prefeitura nos bairros e entrevistas à imprensa, sempre representando o carnaval da cidade.

Nas apresentações em empresas, como na semana passada para um grupo de executivos suecos da Volvo, Milena foi a grande atração para os estrangeiros. "Eles ficam de boca aberta. Não acreditam no que vêem, querem tocar, as mulheres pegam no cabelo", revela a princesa, que nesse dia foi alvo de, no mínimo, 50 flashes das máquinas digitais dos gringos. "Eles levam para mostrar para o pessoal lá."

Já Fabiana considera o desfile na avenida como um trabalho artístico. "Sou apenas uma mulher bonita lá em um trabalho artístico. Me olho e não me vejo na avenida.", explica. Em compensação, muitas outras pessoas olharão e verão as duas hoje da arquibancada.