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Salas de aula sem condições de uso levaram escola a adotar turno intermediário |
Salas de aula sem condições de uso levaram escola a adotar turno intermediário| Foto:

Escola alagada

Estudantes sem aula no Novo Mundo terão sede provisória

Bruna Maestri Walter

As aulas no Colégio Estadual Francisco Azevedo Macedo, no bairro Novo Mundo, que estão suspensas desde o dia 23 de abril, serão retomadas na próxima terça-feira. Cerca de 700 alunos estão sem frequentar as aulas devido aos danos provocados pela chuva no fim de abril, que causaram a interdição da escola. Ontem, a Seed informou ter encontrado um lugar provisório para abrigar os jovens, a Faculdade Anchieta de Ensino Superior do Paraná, no bairro Portão. "As crianças terão conteúdos repostos através de um calendário especial", disse a chefe do Núcleo Regional de Educação de Curitiba, Sheila Pereira.

A Seed irá alugar o espaço e está avaliando os danos no Francisco Azevedo Macedo. Segundo a Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), da prefeitura de Curitiba, que interditou o local, o vento e a chuva destelharam a escola, deixaram salas de aula alagadas e comprometeram a fiação elétrica. O espaço só será liberado até que melhorias sejam feitas, de acordo com o órgão.

Os cerca de 80 alunos que estudam à noite foram encaminhados para a Escola Estadual Dom Ático ainda no fim de abril. "Minha filha não chegou a ficar sem aula. Se ela estivesse estudando de dia, estaria sem aula. Acho que foi Deus que puxou para ela mudar para a noite", diz o operador de guilhotina José de Oliveira, pai de uma aluna do 3º ano do ensino médio.

  • Fiação elétrica exposta: mesmo o bloco construído recentemente tem problemas
  • Buracos onde deveria haver janelas evidenciam estado precário da escola

Parece uma construção abandonada, mas é um colégio na CIC, em Curitiba: na Escola Estadual Arlindo Carvalho de Amorim, cerca de 1,5 mil crianças e jovens têm aulas todos os dias entre paredes com rachaduras, infiltrações no teto, fios desencapados, instalação elétrica deficiente, cadeiras velhas e enferrujadas e restos de obras. A situação de descaso e abandono põe em risco, diariamente, a integridade física de alunos e funcionários que circulam no local em quatro turnos.

A reportagem da Gazeta do Povo esteve no colégio na tarde de ontem. Onde deveria haver janelas, há apenas buracos. Na passagem que liga o portão ao interior da escola, um teto com telhas soltas desaba aos poucos. Por esse corredor entram e saem estudantes e funcionários que, por força do hábito, já nem se preocupam em olhar para o alto. "Eu mesmo consegui umas telhas com a comunidade e decidi pôr a mão na massa", revela Jorge Luiz, trabalhador da construção civil e pai de Jéssica, estudante da 5.ª série do ensino fundamental.

Segundo o diretor da escola, Sérgio Gomes, a situação é a mesma há quatro anos. Na época, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) promoveu a construção de uma nova ala escolar no terreno, com salas modernas e confortáveis. Após essa obra, a Seed iniciou a reforma da parte mais antiga do prédio, que foi suspensa porque o novo processo deveria passar por uma licitação. No entanto, a concorrência ainda não teve um desfecho, e as obras iniciadas em 2006 nunca foram concluídas.

Turno intermediário

"Eu acho uma vergonha, um absurdo, um descaso", diz Josimari Estevão, cozinheira desempregada e mãe dos alunos Érica e Eduardo. Ela conta que, por causa da interdição de 10 salas de aula nas quais as reformas já haviam sido iniciadas, os filhos foram remanejados para o horário intermediário. "Isso atrapalha não só a alimentação, mas também o desenvolvimento escolar das crianças", diz.

Os alunos do turno da manhã que necessitam de reforço pedagógico têm suas aulas durante a tarde, numa sala com fios elétricos aparentes, pichações e quase nenhum conforto. Os professores não têm uma sala própria e utilizam as instalações que seriam destinadas ao laboratório de Química. A direção pedagógica da escola atende pais e alunos numa sala sem reboco, repleta de infiltrações e forçosamente "ventilada" por janelas basculantes com vidros quebrados ou inexistentes.

"Já não sei mais o que fazer. Peço providências desde 2007 e até agora nada foi feito. Além de insalubre, o estado geral da escola é desmotivador", desabafa o diretor. Alguns pais afirmam que, caso a Seed não tome providências urgentes, os próprios pais devem pedir a interdição do prédio ao Corpo de Bombeiros ou à Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), como aconteceu ao fim de abril com o Colégio Estadual Francisco Azevedo Macedo, no bairro Novo Mundo.

Procurada pela reportagem, a assessoria da Seed afirmou que apenas a secretária Yvelize Arco-Verde poderia comentar o caso, mas ela estaria em viagem.

Diretor interditou cantina sem condições

Os problemas na Escola Estadual Arlindo Carvalho de Amorim levaram o diretor a uma atitude drástica. Na quinta-feira passada, sem condições de preparar as refeições servidas diariamente aos alunos, Sérgio Gomes decidiu pela interdição da cantina. "É claro que a situação não agrada a ninguém, mas já não tínhamos mais condições de preparar a comida aqui", declara o diretor. Apesar da despensa cheia, nenhuma alimentação é fornecida aos alunos.

Para os estudantes, não restou alternativa. Os que podem se alimentam em casa, mas essa não é uma possibilidade para todos. Muitos dos estudantes vêm de famílias carentes da região e não têm outra alternativa alimentar diária. "Sabemos que há alunos que tinham aqui a única refeição substancial do dia, mas infelizmente não temos o que fazer" relata Gomes.

"Por várias vezes tirei dinheiro do meu próprio bolso para sanar um ou outro problema que encontramos aqui, mas essa é uma situação que não posso resolver sozinho", lamenta o diretor. Na cozinha da cantina, os bujões de gás ficam perto do fogão e os ralos entupidos fazem a água transbordar do chão sempre que a torneira é aberta. A funcionária da cozinha, inconformada com a interdição da cantina, lamenta o fato de as refeições não serem mais servidas aos alunos e se sente desiludida com a situação que, pelo que tudo indica, não será resolvida a curto prazo.

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