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São Paulo – O então secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, se surpreendeu com a pergunta – "Os presos de São Paulo tomam leite longa vida ou leite de saquinho?" –, feita num inesperado telefonema dominical pelo governador Geraldo Alckmin; Furukawa simplesmente não sabia a resposta. A indagação gera ambigüidades: alguns, como Furukawa, a vêem como preocupação diligente do governante detalhista; outros, a situam como um excesso minimalista.

Reservado, quase tímido, Alckmin sempre passou a seus auxiliares alguns caracteres virtuosos: é um gestor público austero, disciplinado e estudioso dos problemas que enfrenta. Mas também transmitiu alguns defeitos notórios: a falta de carisma, notória nas campanhas eleitorais, e lacunas de liderança; afinal, ele governou São Paulo por cinco anos e só teve a seu lado, de forma incondicional, quadros modestos do seu partido.

Seus admiradores replicam: mesmo tendo um time de segundo escalão, atropelou o experiente José Serra, na disputa pela indicação presidencial do PSDB. Pode ser, mas durante o governo Alckmin, nas duas últimas eleições paulistas o PSDB não forjou um candidato sólido para apresentar; nas disputas da prefeitura de São Paulo, em 2004, e do governo estadual, em 2006, o jeito que o partido improvisou foi se socorrer com Serra, que venceu ambos. Entre as virtudes de Alckmin, alinham a educação e a lealdade aos pactos firmados; entre os defeitos, o desprezo a decisões coletivas e uma fama de centralizador. Mas Alckmin nunca toma decisões com o coletivo. Prefere ouvir as pessoas individualmente, coleta as opiniões e depois decide sozinho.

Muita gente acha que sua forma de fazer política tem algo de provinciano, formatado, talvez, em sua gestão da prefeitura de Pindamonhangaba. Mas Alckmin soube mostrar um perfil bem moderno quando promoveu avanços inovadores no governo de São Paulo, como as compras eletrônicas, com pregão pela internet, que praticamente extinguiram a corrupção nas licitações e deu um exemplo para o país inteiro. Ainda assim, ele mistura o micro com o macro, a solução das compras na internet com o leite dos detentos paulistas.

Se modernizou as licitações de São Paulo, manteve no passado o seu registro de memórias: leva o tempo todo um caderno escolar, no qual anota tudo, desde nomes, dados e números, até conversas que mantém com assessores e visitantes a quem concedeu audiência Não dissimula o gesto: no meio da conversa, se achar que o papo é interessante, saca o caderno e começa a anotar na frente do interlocutor.

"Ele é extremamente preocupado com o gasto público", conta Furukawa, revelando o final do capítulo do leite dos detentos: as penitenciárias serviam leite de saquinho, o que satisfez o governador. Por falar em penitenciária, Alckmin parece enfrentar as crises com equilíbrio emocional exigido aos grandes gestores públicos: "Ele tem uma frieza inacreditável nas crises", afiança o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), seu chefe do Gabinete Civil por quatro anos. Segundo Madeira, ele ouve as opiniões e, ao sentir-se preparado, toma a decisão. "Aí não tem quem mude mais a cabeça dele", observa.

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