Mulher chora na porta do bar onde ocorreram alguns dos assassinatos: seis vítimas já identificadas.| Foto: Rafael Abrex /Estadão Conteúdo

A principal linha de investigação da polícia neste momento envolve a participação de policiais militares na chacina que deixou 18 mortos e 6 feridos na noite da última quinta-feira (13) nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Das seis vítimas já identificadas até o início da tarde de ontem, cinco tinham antecedentes criminais, de acordo com o governo.

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Segundo essa linha de apuração, a onda de crimes teria sido uma retaliação ao assassinato de um PM, na semana passada, em Osasco. O policial foi baleado ao reagir a um assalto, em um posto de combustíveis da cidade.

Assassinos perguntavam por histórico criminal, diz prefeito de Osasco

Jorge Lapas (PT) disse que o efetivo de policiais militares é insuficiente para a cidade, e que pedidos para aumento de número de policiais na região foram feitos ao governo estadual

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A suposta participação de policiais nos assassinatos colocou o comando das corporações sob alerta. Os efetivos foram colocados de prontidão e reforçados na região metropolitana, para reagir a eventuais retaliações de criminosos a carros ou bases policiais nas próximas noites e madrugadas.

A Corregedoria da Polícia Militar também já está atuando no caso, para que a chacina seja esclarecida o mais rápido possível. Na sexta-feira (14), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) cobrou agilidade nas investigações.

Ajuda federal

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse na sexta-feira (14) que, se for preciso, a Polícia Federal vai ajudar nas investigações sobre os ataques na Grande São Paulo que resultaram na morte de 18 pessoas na noite de quinta-feira (13). Cardozo informou que conversou com secretário de Segurança do estado oferecendo a ajuda federal.

O secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, está acompanhando diretamente o caso. Ele disse que a atuação de policiais era uma das linhas de investigação. Cápsulas de três diferentes calibres de armas foram encontradas próximas aos corpos das vítimas: 9 mm (de uso das Forças Armadas) e 38 e 380, de uso de guardas civis metropolitanos.

Ação

As ações foram semelhantes. Homens encapuzados estacionavam um carro, desembarcavam e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais, o que definia vida ou morte das pessoas.

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Segundo a Secretaria da Segurança Pública, após apurar as características dos veículos usados pelos criminosos, é possível afirmar que ao menos dois grupos participaram das mortes. O governo, porém, ainda não afirma se eles atuavam em conjunto.

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A participação de policiais em chacinas na Grande São Paulo tem sido comum. Em maio deste ano, por exemplo, um policial militar e um ex-PM foram presos sob suspeita de participação na chacina na sede da torcida corintiana Pavilhão Nove, que deixou oito mortos.

‘Não vou pedir Justiça’, diz a mãe de vítima

  • São Paulo

Os amigos de infância Eduardo Oliveira Santos, 41, e Thiago Marcos Damas, 32, se sentaram em um bar em Osasco (SP) para tomar uma cerveja na noite de quinta-feira (13). Momentos depois, foram duas das vítimas da chacina que deixou 18 mortos nas cidades de Osasco e Barueri.

Eduardo morreu na hora, e Thiago, no hospital, após passar por cirurgia. Segundo a família, nenhum deles tinha passagens pela polícia.

Fernando Luiz de Paula, 34, também estava bebendo com amigos no bar. “Só sei que meu filho morreu. Não vou usar camiseta com a foto dele, não vou pedir Justiça. Vou continuar meus corres porque ninguém vai me ajudar”, diz a mãe do rapaz, Zilda Maria de Paula.

A irmã de Eduardo Bernardino Cézar, 26, outra vítima da chacina, conta que o rapaz havia saído para comprar um lanche com o amigo na rua de casa.

Segundo ela, dois motoqueiros começaram a atirar. O amigo conseguiu fugir. “Ele nunca mexeu com nada de errado”, afirma Tânia Cristina Cézar. Eduardo deixa uma filha de dois anos.

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Testemunhas descrevem “mar de sangue” em noite de terror em Osasco

Agência O Globo

O pintor A. C., de 54 anos, é alcoólatra. Na quinta-feira (13) à noite ele bebia no bar de azulejos brancos ao lado de casa, como fazia quase todos os dias. Acabou dormindo na cadeira pelo efeito da embriaguez. E foi nessa posição que acabou encontrado pelo filho de 28 anos, com dois tiros na boca e um no pescoço.

“Tenho certeza que ele nem acordou. Os caras desceram do carro e descarregaram as armas. Foi mais de 60 tiros. Meu pai é trabalhador, nunca teve passagem pela polícia. Seu único defeito é a bebida”, diz F, que socorreu o pai em seu próprio carro e mais um baleado, que acabou morrendo.

No local, no bairro Munhoz Júnior, periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, pelo menos 11 pessoas foram alvejadas. No cálculo dos moradores, 9 estão mortos. Mas houve assassinatos em pelo menos mais oito endereços do município, mais dois em Barueri e um em Itapevi. O pai de F. está na UTI em estado grave, com escolta policial na porta do quarto do hospital.

O bairro Munhoz Júnior, onde parte dos crimes, aconteceu transpira medo. O policiamento foi reforçado. O comércio do entorno não abriu as portas. A mulher de E., que estava no bar minutos antes do ataque, o censura ao ver que ele falava com a reportagem:

“Pelo amor de Deus, fecha a boca. Você sabe como é perigoso isso”, disse.

E. relatava que antes dos assassinatos, mais de 10 pessoas bebiam cerveja e jogavam em máquinas de caça-níquel no pequeno estabelecimento. Ele saiu por um instante para ir a outro bar do lado. Nesse momento, começou o tiroteio:

“Baixamos a porta do bar e nos escondemos atrás das caixas de cerveja. Quando saímos era só desespero, cena de guerra”, diz E., para quem os autores do crime são policiais.

F. descreve a cena que viu como de “um filme de terror”:

“Nunca vi nada igual. Um mar de sangue, um caído sobre o outro. E foi execução mesmo porque um dos meninos estava sentado com os braços cruzados e o assassino teve a ousadia de tirar o boné dele antes de dar um tiro na cabeça. Não consigo esquecer do que eu vi”.