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Veja a área atingida pela chuva e lembre outras tragédias |
Veja a área atingida pela chuva e lembre outras tragédias| Foto:

A destruição que se vê em várias partes da cidade de Rio Largo e municípios vizinhos, em Alagoas, foi provocada pelo mesmo rio que há duas semanas sofria o efeito da estiagem. Moradores contam que o comportamento do Rio Mundaú muda sempre e depende da chuva. No último dia 19, choveu demais e a enxurrada destruiu bairros inteiros de algumas cidades. Cerca de 74,5 mil pessoas estão fora de suas casas em Alagoas.

"Há 15 dias o Mundaú tinha secado e a água vinha no joelho. Aí o pessoal não acreditou quando avisaram do risco de enchente", diz a empregada doméstica Shirley Vicente Ferreira, que está desabrigada e vive provisoriamente em uma escola de Rio Largo. A dona de casa Marlene Félix da Silva também reconhece que foi avisada. "Um dia antes chegou gente avisando da prefeitura. Botaram carro para levar mudança. Falavam ‘bora, minha gente’. Ninguém quis sair", conta. Marlene já tinha enfrentado uma enchente grande em 2000, quando a água derrubou a parede da cozinha da casa. A família nem pensou duas vezes: construiu de novo e voltou a morar perto do rio.

Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios, o Nordeste é a região do país que mais sofre com a seca e também com enchentes e enxurradas. A pesquisa foi feita com base nos decretos de emergência e calamidade pública reconhecidos pela Secretaria Nacional da Defesa Civil, entre 2003 e 2009.

Shirley e Marlene vivem hoje em uma escola pública, dividindo espaço em salas de aula com várias famílias. Já outros moradores que perderam tudo improvisam nas moradias. O "lombador" (carregador) Renato Aluísio do Nascimento está com outras 15 pessoas num barracão feito com lonas e com móveis salvos dos escombros. Esticam colchões por cima da areia, aos olhares da vizinhança. Também cozinham por ali.

A casa da feirante Maria Celma Cassiano foi atingida pela enchente, só que parte da construção ficou de pé. Ela perdeu a maioria dos móveis, mas usa os que sobraram e continua na casa. Maria Celma e o marido dormem num colchão apoiado em quatro cadeiras de madeira. "Ficamos aqui para achar alguma coisa para aproveitar", diz. "Tem panelas que escavamos da lama e, se deixar, o povo malandro leva."

Homens da Força Nacional de Segurança foram enviados para o estado para evitar saques. Na manhã de sábado, a reportagem não encontrou nenhum deles. No mesmo dia, a Laboratório Municipal de Endemias de Rio Largo foi saqueado. Os ladrões levaram microscópios, lâminas, corantes e reagentes. A Secretaria Municipal de Saúde de Rio Largo não sabe o motivo do furto destes materiais. A Polícia Militar foi acionada e conseguiu recuperar parte do material. Ninguém tinha sido preso até o fechamento desta edição.

Serviço: Os repórteres Bruna Maestri Walter e Jonathan Campos estão em Alagoas para acompanhar a tragédia das chuvas na região. Acompanhe nas páginas do jornal, no site e no blog www.gazetadopovo.com.br/blog/blogvidaecidadania/

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